COMPANHIA DAS CULTURAS
REGRESSO ÀS ORIGENS
Situada a uma curta distância da Praia Verde, da vila de Castro Marim e da Reserva Natural da Ria Formosa, a Casa Agrícola de São Bartolomeu teve um papel decisivo no desenvolvimento desta pequena aldeia do barrocal algarvio. Durante mais de cinco décadas, foi um espelho do pulsar das suas gentes, mas o tempo acabaria por fazer das suas paredes ruínas. Uma visão desoladora que levou Francisco Palma Dias, dono da propriedade por herança familiar, e a sua mulher, Eglantina Monteiro, a transformarem, com a “ajuda” do arquiteto Pedro Ressano Garcia, as ruínas da antiga Casa Agrícola na Companhia das Culturas, um ecoturismo sustentável e orgânico integrado num terreno de 40 hectares “povoado” por milhares de pinheiros mansos, sobreiros, alfarrobeiras, figueiras, oliveiras e laranjeiras.
Inaugurada em 2008, a Companhia das Culturas foi sendo moldada à medida do que ali existia, sem que nada tivesse de ser demolido. Assim, a partir da antiga garagem da máquina debulhadora nasceu a Cork Box, um espaço multiusos onde, entre muitas outras atividades, há aulas de ioga gratuitas para os hóspedes todas as terças e sábados; enquanto alguns dos quartos se ergueram em redor de especificidades únicas como o chão em mosaico hidráulico ou o lugar outrora ocupado por um fogo de chão – todos os quartos têm por isso uma personalidade muito própria. Mais recentemente, foi construída uma nova ala, do outro lado da estrada (sim, a propriedade é tão grande que tem uma estrada pelo meio). No sítio onde antes existia um curral de ovelhas estão agora quatro espaçosos apartamentos, rodeados por árvores tropicais e servidos por uma piscina privada (existem duas piscinas de água salgada na Companhia das Culturas, uma em cada uma das alas, a dos quartos e a dos apartamentos).
É na nova ala dos apartamentos (ainda que possa ser usado por todos os hóspedes da Companhia das Culturas mediante marcação) que, recuperando uma tradição mediterrânica perdida no período pós-Inquisição, foi construído um hammam, onde, para além do banho turco pode marcar massagens e tratamentos com óleos essenciais feitos à base de plantas e ervas da região (elaborados pela Pharmaplant, uma empresa sediada em Alcoutim, que pode visitar através dos programas disponibilizados pelo ecoturismo), como o alecrim e o rosmaninho. Num contraponto evidente a quase tudo o que se fez no Algarve nas últimas décadas, na Companhia das Culturas o respeito pelas tradições, pelos produtos locais e pelos ofícios que resistem ao tempo é sempre posto em primeiro plano. Por isso, o pequeno-almoço, digno dos mais estrelados hotéis, respeita o conceito quilómetro zero e é sempre diferente todos os dias: há sempre ovos do galinheiro e fruta do pomar, mas tanto podem ser servidos fumados de porco do montado como a tradicional muxama de atum.
Sem televisão em nenhum dos quartos nem música ambiente, os hóspedes são convidados a pisar a terra e a descobrir a imensidão que os rodeia, seja através dos trilhos pré-definidos que passam pela Serra e Reserva de Castro Marim e chegam a poucos metros da praia (todos os hóspedes têm à sua disposição um sistema de aparelhos GPS), seja através de rotas como a dos Aromas na Serra Algarvia, que pretende dar a conhecer as propriedades únicas das ervas aromáticas da serra de Alcoutim. Outro dos cantinhos a conhecer é a pequena loja da Companhia das Culturas, onde encontra compotas, chutneys, vinagres, peças decorativas ou têxteis resultado do projeto Fábrica – uma unidade de transformação cujo intuito é ajudar os artesãos locais e encontrar novos usos para as matérias-primas da região. No fim da estadia, reconectamo-nos connosco mesmos, e com o que nos rodeia. E não sentimos falta nenhuma da televisão.