QUEREMOS CONTINUAR A CRESCER PARA ONDE, AO CERTO?
A Terra é o único planeta que temos para viver e os recursos naturais não vão durar para sempre, nem sequer chegar para uma humanidade que não vai parar de aumentar. Chegou a altura de questionar o paradigma do crescimento económico.
AA história repete-se, invariavelmente, todos os anos. As previsões de crescimento da economia, sejam à escala regional ou global, venham elas dos bancos centrais, de instituições supranacionais como o FMI e o Banco Mundial ou de think tanks avulsos, são recebidas ora com otimismo nervoso ora com pessimismo catastrófico. Basta uma previsão de crescimento mais modesto para políticos e economistas carregarem no botão de pânico e gritarem que é preciso produzir mais, investir mais. E, enquanto – ou quando – isso não acontece, cortam a torto e a direito em serviços e apoios sociais, nos sistemas de saúde, na educação, tudo para encher a almofada financeira que, dizem-nos, evitará a queda no abismo iminente. E, no entanto, o crescimento económico depende diretamente do uso que damos aos recursos naturais que temos à nossa disposição, sejam eles para produzir a energia, a comida ou os bens sem os quais a nossa sociedade de consumo, aparentemente, já não consegue sobreviver.
O problema: só temos um planeta para viver e os recursos naturais são, naturalmente, finitos. Perda de biodiversidade,
alterações climáticas, poluição, desflorestamento, escassez de água e alimentos, tudo isto está a ser exacerbado pelo modo de vida da humanidade e o nosso impacto no meio ambiente é o resultado direto do nosso consumo. Estima-se que, atualmente, estejamos a consumir o equivalente aos recursos de mais do que uma Terra e meia, valor que, se nada fizermos, aumentará para três Terras em 2050. A 1 de agosto de 2018, a população mundial já tinha consumido os recursos que a natureza pode produzir num ano, até então a data anual mais precoce em que atingimos o chamado Earth Overshoot Day, o dia de sobrecarga da Terra. O total dos recursos renováveis consumidos nunca tinha sido atingido tão cedo desde que a data começou a ser assinalada, nos anos 70, quando o total só era atingido em dezembro. Chegados a este ponto, falta fazer a pergunta que (quase) ninguém tem coragem de colocar. Queremos crescer para onde, tendo em conta que, no futuro próximo, a colonização espacial continuará a ser mera ficção científica?
“Os sistemas económicos atuais tornaram-se dependentes do crescimento a todo custo, medido pelo Produto Interno Bruto (PIB). Assume-se que o crescimento do PIB é sinónimo de maior bem-estar e prosperidade. Mas temos que compreender que certos tipos de crescimento são ‘antieconómicos’ e prejudiciais ao bem-estar e à prosperidade”, diz o cientista e político alemão Ernst Ulrich von Weizsäcker, um dos copresidentes do Clube de Roma, organização não governamental fundada em 1968 na capital italiana e que alcançou a fama quatro anos depois quando publicou um relatório que dava pelo nome de Os Limites do Crescimento.
Naquele ano, 1972, quando o público estava longe de noções como crescimento sustentável ou alterações climáticas, o relatório, depois transformado em livro, foi concebido com o objetivo de lançar o alerta: o crescimento económico não poderá continuar para sempre porque os recursos se esgotarão inevitavelmente. A partir do Massachusetts Institute of Technology (MIT), um grupo de cientistas construiu, com recurso a um supercomputador, um modelo informático destinado a avaliar o nosso planeta sob um ponto de vista económico e ambiental, numa missão verdadeiramente ambiciosa. A equipa compilou fatores como população, alimentos, industrialização, poluição e uso de recursos naturais, criando vários cenários que se estendiam até 2100, tendo ainda em conta a hipótese de a humanidade vir a fazer alguma coisa quanto ao ambiente ou à utilização dos recursos naturais. E avisou, muito antes do tempo, que as emissões de dióxido de carbono teriam um efeito no clima através do aquecimento da atmosfera.
QUEREMOS CRESCER PARA ONDE
SE, NO FUTURO PRÓXIMO, A COLONIZAÇÃO ESPACIAL CONTINUARÁ
A SER MERA FICÇÃO CIENTÍFICA?