GQ (Portugal)

OS SABORES DO BEL PAESE

- Por Álvaro Tavares Ramos.

Não podia haver melhor cenário para a Pitti Taste que a cidade de Florença. Durante três dias, quase

400 produtores juntam-se na Stazione Leopolda para celebrar o melhor da cozinha transalpin­a, do Tirol do Sul até à Sicília.

Quando pensamos em Pitti, imediatame­nte nos vêm à cabeça imagens de dandys a posar dentro e fora da Fortezza da Basso, em Florença, a fortaleza seiscentis­ta onde semestralm­ente se dirigem as tribos e marcas masculinas para a Pitti Uomo. No entanto, o universo da Pitti Immagine, a empresa que organiza o evento, vai muito para além da moda para homem, aventurand­o-se em feiras de vestuário para criança, perfumaria e, não fossem eles italianos, na comida.

A antiga estação de comboios de Florença, a Stazione Leopolda, tem sido o cenário para juntar anualmente alguns dos melhores produtores italianos, na Pitti Taste. Sem chapéus fedora à vista ou fatos dignos de um filme de gangsters, tão caracterís­ticos da Pitti Uomo, aqui o estilo expressa-se nos mais deliciosos enchidos, queijos, conservas, vinhos e doces do Bel Paese.

Nos longos pavilhões de pé-direito elevado, o design do espaço – desenvolvi­do pelo arquiteto Alessandro Moradei – é um componente essencial para a dinâmica da feira através da disposição dos produtores em longos balcões corridos e na criação de um ambiente envolvente em torno do tema

principal, o Planet Bread. “Em todas as feiras da Pitti Immagine, o design desempenha um papel crucial. Os ingredient­es que ditam o sucesso dos nossos eventos são não só uma cuidada seleção de marcas – neste caso as melhores empresas italianas contemporâ­neas de comida e vinho artesanais –, mas igualmente uma edição muito criativa do espaço expositivo. Colocamos muita energia na criação de um ambiente envolvente, de uma atmosfera capaz de imergir os visitantes numa experiênci­a única, com um cenário inspirado no tema principal de cada edição”, revela Agostino Poletto, diretor-geral da Pitti Immagine.

Além dos elementos gráficos e ecrãs suspensos que nos transporta­m para o mundo do pão que assume um papel de destaque na 14.ª edição da Taste, o foco surge ainda sobre a nova geração de padeiros que tentam restaurar a imagem (e o sabor) deste alimento essencial. “Focámo-nos no Planet Bread por consideram­os o pão como nu

trição e tradição, puro prazer e inovação, um exercício de estilo e uma reivindica­ção democrátic­a. Apostámos em workshops com mestres padeiros, talks sobre as padarias do momento e sobre o grande movimento dos fornos coletivos, uma tendência que envolve milhares de pessoas por todo o mundo e que é um fenómeno cada vez mais relevante em Itália. Pela cultura do pão nos dias de hoje, posso afirmar que é um alimento que representa bem o conceito da Taste, pondo em foco a tradição e a inovação, simultanea­mente”, remata Poletto.

PARAGENS OBRIGATÓRI­AS

Desde a abertura ao fecho das portas da feira, os corredores da Stazione Leopolda estão apinhados de compradore­s, profission­ais e, claro, de curiosos em busca dos melhores prodotti fatti a mano em Itália. Apesar da dificuldad­e de navegar entre as pessoas de copo de vinho na mão e conversa agitada, a diversidad­e dos produtos de qualidade não deixa ninguém indiferent­e. Os produtores convidam à prova, numa constante mudança entre o salgado e o doce, os sabores de sempre e as novas abordagens.

“A Taste está em constante evolução, os nossos especialis­tas em cultura gastronómi­ca nunca param de trabalhar e todos os anos trazem para Florença os resultados da sua pesquisa por toda a Itália”, revela o diretor-geral.

Com uma seleção única de marcas de qualidade, produtos de nicho e experiênci­as inovadoras, a feira apresenta sempre algo novo para descobrir, como Poletto salienta: “Destaco a espirulina orgânica da Toscana, uma receita com 200 anos do bolo de amêndoa buccellato – muito apreciado pelo Príncipe Carlos –, uma nova granola salgada, os pimentos Sciuscillo­ne de Lucania, um cuscuz produzido em Salento por mestres padeiros e um vermute feito na Sicília à volta do monte Etna.”

Se há um produtor que encarna a ideia de fazer bem apenas uma coisa é a Slega. A marca não deixa o crédito por mãos alheias e é um dos proprietár­ios, Massimo Borchini, que fatia incessante­mente numa máquina o seu delicado Prosciutto di Parma. Aqui não há subproduto­s ou variações, apenas finas fatias de presunto que se derretem na boca. Resultado de um processo de cura de pelo menos 18 meses, o produto da marca fundada em 1962 resume bem a honestidad­e e o sabor da cozinha italiana.

Mais à frente, o panettone da Pasticceri­a Filippi serve de desculpa para mais uma paragem. A própria mamma Maria Filippi, cofundador­a desta pastelaria familiar da região de Vicenza, explica-nos o segredo para a suavidade deste bolo típico de Natal. Desejando preservar os sabores da sua infância, Maria tem como base para a receita de panettone, uma massa-mãe preservada há mais de 40 anos. Como é levedada naturalmen­te, ganha um perfil de sabor único, sendo complement­ada pela doçura das uvas secas da Austrália e pela frescura dos cubos de laranja cristaliza­da.

A embalagem dourada do Laudemio – que bem podia ser a de um novo gin premium – foi o que nos chamou a atenção para parar e provar um dos melhores azeites italianos. Com mais de 700 anos de ligação à produção vinícola, esta família da Toscana cria este azeite com o fruto dos mais de 300 hectares de olivais que detém na região. Celebrando a 30.ª colheita, o Laudemio é um azeite de cor verde-esmeralda com um sabor intenso, picante e notas aromáticas de alcachofra e erva acabada de cortar. É resultado de uma cuidada seleção de azeitonas, que são processada­s até 24 horas depois da sua colheita. O azeite resume bem o sabor e o terroir desta região.

Perchè Ci Credo, ou “porque acredito nisso”, é o nome da marca fundada por Enrico De Lorenzo, um experiente técnico alimentar que encontramo­s entre um produtor de trufas e outro de massas artesanais. Tendo transforma­do a sua paixão por comida num negócio que junta inovação e a tradição da região de Puglia, Enrico assumiu a verdadeira essência da gastronomi­a italiana com ingredient­es simples, honestos e saborosos. A sua seleção de condimento­s, compotas e molhos para massas, pizzas, focaccie e bruschette é produzida com os produtos frescos locais e sem conservant­es.

Os quase 400 pequenos e médios produtores desta edição da Pitti Taste demonstram a vitalidade de uma das gastronomi­as mais apreciadas internacio­nalmente. Indicam igualmente que o melhor caminho para a criação de produtos únicos passa pelo respeito pelos ingredient­es e pela sazonalida­de, sem nunca esquecer a atenção ao detalhe e o amor colocado em cada passo, algo que as grandes marcas dificilmen­te conseguirã­o fazer.

COM UMA SELEÇÃO ÚNICA DE MARCAS, PRODUTOS DE NICHO E EXPERIÊNCI­AS INOVADORAS,

A FEIRA APRESENTA SEMPRE ALGO NOVO PARA DESCOBRIR.

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A bela cidade de Florença é o melhor dos cenários para a Pitti Taste, uma feira que junta o melhor que existe na gastronomi­a transalpin­a.

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