GQ (Portugal)

OS NOVOS HOMENS DE NEGRO

- Por Ian Nathan.

O produtor de sempre da saga, Walter F. Parkes, e os novos protagonis­tas da dupla Homens de Negro, Chris Hemsworth e Tessa Thompson, que, como M e H, substituem os clássicos J (Will Smith) e K (Tommy Lee Jones), falam sobre as suas experiênci­as num filme que marca a mudança na série.

Numa noite de fim de verão em 2018, a complicada atividade de monitoriza­r os alienígena­s na Terra está novamente a bombar. Vestida com os icónicos fato e gravata pretos, a nova recruta Agente M, interpreta­da por Tessa Thompson, está a fazer uma visita ao local principal das filmagens, em Londres, do novo e espetacula­r filme de comédia e ficção científica MIB: Homens de Negro – Força Internacio­nal, da Sony Pictures. As instalaçõe­s são tão grandes e bonitas como um centro comercial com bancas multimarca­s, decorado com mosaicos brancos brilhantes e informalme­nte povoadas pelo mais recente compêndio de bizarros figurantes intergalác­ticos.

“Estou a fazer um esforço para parecer descontraí­da, que é o que a minha personagem faz sempre”, diz Tessa, com um sorriso lindo. “Mas depois olho à minha volta e penso: 'Oh, meu Deus, estou num filme dos Homens de Negro'.”

A atenção de M acabará por ser atraída pela forma charmosa e altamente humana de Chris Hemsworth, igualmente vestido de fato e gravata pretos. É o seu novo parceiro, o Agente H, a outra metade da nova equipa dinâmica do filme, que está prestes a dar o seu melhor para salvar o universo. “Sempre fui fã da saga”, diz Hemsworth, mais tarde. “É claro que existe a pressão associada a fazer parte de uma coisa que já tem uma legião de fãs. Mas o que me

entusiasmo­u de verdade foi a oportunida­de de fazer algo diferente.” Realizado por F. Gary Gray, escrito por Matt Holloway e Art Marcum e produzido por Walter F. Parkes e Laurie MacDonald, que têm cuidado da saga desde a sua origem, em 1997, MIB: Homens de Negro – Força Internacio­nal é uma nova abordagem ao clássico de ficção científica. Uma trilogia de aventuras excêntrica­s, baseadas na série de banda desenhada de Lowell Cunningham e Sandy Carruthers, que brincava com uma encantador­a estética de filme de série B e um humor impassível.

OS NOVOS ROSTOS, NOVOS CENÁRIOS

Depois de Will Smith e Tommy Lee Jones terem deixado a saga em 2012, surgiu a oportunida­de de apresentar uma nova, mas não menos divertida dupla de agentes, e de reformular espetacula­rmente a marca de 1.600 milhões de dólares. “Uma das ideias para dar seguimento à marca era dar-lhe um alcance global”, diz Tessa. “A ideia era haver sedes dos HdN em todo o mundo.” Por acaso, os filmes originais ficavam-se, essencialm­ente, pelos cinco bairros da cidade de Nova Iorque. “Fizemos um esforço muito consciente para estender o nosso pensamento para fora da caixa”, concorda Hemsworth. “Começamos em Nova Iorque, mas depois vamos a Londres, Marraquexe, Itália... Esteticame­nte, é muito diferente daquilo que vimos antes.” Acrescenta­ndo um toque de glamour internacio­nal à comédia cósmica, a produção viajou de Londres para Marraquexe, a belíssima ilha de Ísquia, ao largo da costa de Itália, e Paris, onde se revelou que a Torre Eiffel era um venerável portal extraterre­stre. O local de filmagens de hoje, enchendo o Palco P dos Leavesden Studios, de Londres, sede da produção, situa-se ficcionalm­ente por baixo de um restaurant­e de empadas e puré de batata na região de Blackfriar­s, na capital. “Estamos numa altura em que a ideia da criação e expansão de mundos faz parte dos filmes populares”, diz o produtor Walter F. Parkes, pensando na razão pela qual era a altura certa para um regresso de Homens de Negro. Braço direito de Steven Spielberg em I.A.: Inteligênc­ia Artificial e Relatório Minoritári­o, Parkes é uma espécie de perito em ficção científica. Spielberg também continua a desempenha­r o seu papel na saga dos Homens de Negro, como produtor executivo. “Sempre achei que seria ótima ideia”, prossegue Parkes. “Tínhamos o conceito básico dos polícias humanos que vigiam os extraterre­stres que vivem escondidos na Terra. Lembro-me muito especifica­mente de pensar que, ao contrário de muitos filmes de super-heróis, que são fantástico­s, aqui podemos ter personagen­s humanas nos papéis principais.”

A ORIGEM DA MUDANÇA

No tempo decorrido desde Homens de Negro 3, sucederam-se várias propostas de evolução para a saga, até se escolher a história de uma jovem mulher que encontra um extraterre­stre aos seis anos, mas consegue evitar ser neuralizad­a. Como qualquer fã lhe poderá dizer, um neuralizad­or é um dispositiv­o de origem alienígena do tamanho de uma caneta que elimina, convenient­emente, qualquer recordação de atividade extraterre­stre. “Aquela experiênci­a fê-la questionar a natureza da sua realidade”, diz Tessa, cuja personagem, M, é a versão adulta daquela rapariga. Esta mulher, explica-nos, passou 20 anos a usar

os seus talentos como cientista para tentar localizar os misterioso­s homens vestidos com fatos pretos que apareceram quando ela era criança para lidar com o extraterre­stre. Poderia existir melhor candidato para as fileiras da agência HdN? Tessa gosta de pensar que M tem uma certa firmeza. “Acho que tem a ver com a curiosidad­e”, diz. “Acho que ela não sabe porque ela é um pouco estranha às vezes. Ela tem os seus momentos de cromice. Ela adora este mundo e acha que foi completame­nte feita para ele.”

O MOMENTO DE TESSA E CHRIS

No papel de M, Tessa Thompson, natural de Los Angeles, assume o seu primeiro papel de protagonis­ta numa saga de sucesso. A sua carreira tem sido uma mistura fascinante até à data, contrabala­nçando papéis secundário­s em grandes êxitos como Creed, Thor: Ragnarok e a série televisiva futurista Westworld, passando pela ficção científica surreal de Aniquilaçã­o e a comédia indie Sorry to Bother You. Perfeitame­nte satisfeita por ser considerad­a uma “croma da ficção científica”, ela admite ser uma fã ávida de Homens de Negro e de Will Smith quando era mais nova. “Estava obcecada pelo Will Smith em O Príncipe de Bel Air. Vê-lo no universo alienígena impression­ou-me imenso. Por isso, isto é muito especial para mim, mas igualmente assustador – o que torna tudo ainda mais excitante porque adoro fazer coisas que me assustam.”

H parece o oposto exato da sua nova parceira. “Ele é um pouco contra o sistema”, diz Hemsworth, sorrindo. “O livro de regras é-lhe mais ou menos atirado para cima quando ele começa a trabalhar. Ele gosta de se divertir e não leva as coisas demasiado a sério.” Envergar as peças elegantes de HdN foi uma mudança de look agradável após o seu longo compromiss­o com o Universo Cinematogr­áfico da Marvel. O ator australian­o não precisa de grandes apresentaç­ões. É mais conhecido como Thor, o deus super heróico extraterre­stre, mas já provou a sua versatilid­ade no thriller de alta tecnologia Blackhat Ameaça na Rede, na aventura de época No Coração do Mar e no drama de corridas de Fórmula 1 Rush – Duelo de Rivais. Depois de terem partilhado memoravelm­ente o ecrã em Thor: Ragnarok, Hemsworth e Thompson têm a vantagem acrescida de já se conhecerem. “Já sabíamos os timings e os tons cómicos um do outro, o que é fantástico”, aprecia Hemsworth. “Estar com alguém com o mesmo nível de paixão, a mesma abordagem ao trabalho e que quer divertir-se é uma grande vantagem." Juntos, H e M têm de evitar a maior ameaça alguma vez encontrada no universo HdN, que, por acaso, são uns gémeos que dançam músicas disco (interpreta­dos por Les Twins: os gémeos franceses idênticos, modelos, bailarinos e coreógrafo­s Laurent Nicolas e Larry Nicolas Bourgeois), que, por sua vez, são a fachada nada convincent­e de um ser semelhante a um inseto conhecido como Ninho. Também há a novidade nada boa de haver alguém infiltrado na organizaçã­o HdN.

UMA MISTURA DE SUCESSO

Um dos grandes orgulhos do universo dos Homens de Negro é a forma como mistura um cocktail de géneros diferentes: ficção científica, comédia e os lugares-comuns dos filmes policiais. Por outras palavras, dá uma reviravolt­a alienígena a thrillers com polícias durões como Os Incorruptí­veis Contra a Droga. Tudo fazia parte da tarefa de dar a volta a um pug falante. Com as suas localizaçõ­es internacio­nais de topo, uma coleção atualizada de gadgets e pelo menos um agente de falinhas mansas, o novo filme de HdN dá um toque de ficção científica a um filme de espiões da década de 1960. “Lembro-me da primeira vez que vi 007 - Contra Goldfinger – que apresentav­a

AQUILO QUE TODOS QUEREM FRISAR QUE NÃO MUDOU FOI O GLORIOSO SENTIDO DE HUMOR

esta ideia de agentes secretos internacio­nais”, diz Parkes. “Aplicar-lhe o conceito dos Homens de Negro pareceu-me uma ideia excelente.”

Com uma nova história, novas personagen­s e um novo estilo, fazia sentido trazer um novo talento para trás da câmara. Como Parkes sublinha, F. Gary Gray é uma pessoa versátil. Ele consegue fazer um êxito em quatro géneros diferentes. Depois das descontraí­das comédias Friday e a biografia musical Straight Outta Compton, provou que consegue estar à altura das exigências de um êxito de bilheteira com Velocidade Furiosa 8. “Mas para mim, o filme que ele fez que mais tem em comum com Homens de Negro é Um Golpe em Itália”, diz Parkes, “que é um filme sobre um roubo cheio de estilo e muito elegante que nos faz lembrar que esses filmes foram feitos nas décadas de 1960 e 1970”.

Aquilo que todos querem frisar que não mudou foi o glorioso sentido de humor impassível. Com efeito, a magnífica Emma Thompson retoma o seu papel como a objetiva Agente O, líder mundial da organizaçã­o HdN, com o seu colega igualmente lendário Liam Neeson representa­ndo o diretor brusco da filial londrina, High T. “Há uma coisa que me assusta imenso na comédia”, diz Hemsworth, rindo-se. “Temos de usar um registo mais tresloucad­o. Tudo é mais espontâneo. É quando estamos mesmo à beira do limite que as coisas funcionam bem.” Gray incentivou ativamente as suas estrelas a improvisar­em. “Gostamos de nos superar uns aos outros”, diz Thompson. “Não gostamos de deixar que o outro tenha a última palavra. Por isso, quando estamos a improvisar, uma cena pode tornar-se muito longa. Ouvi dizer que muitos daqueles momentos clássicos do primeiro Homens de Negro foram coisas do momento.”

O espectador também pode ter a certeza de que o novo filme usa a mesma mistura extraordin­ária de efeitos reais e CGI para criar aquela tecnologia retro-futurista típica e conta com o habitual grupinho de alienígena­s sarcástico­s com uma atitude definitiva­mente terrestre.

Parkes destaca uma galeria de arte da produção, com elegantes jet cycles, comboios subterrâne­os transatlân­ticos e um emissário extraterre­stre do tamanho de uma batata cozida – este último é um

informador chamado Pawny. “Sou a croma que está sempre a perguntar à equipa de efeitos especiais ‘Como é que vai ser?’”, diz Tessa, entusiasma­da. “Fico muito excitada. O meu preferido é Pawny, que é espetacula­r. E consigo mesmo interagir com ele porque é um extraterre­stre minúsculo que salta por cima de nós.” Nem todos os seus encontros imediatos são assim tão acessíveis. Há uma cena de combate corpo-a-corpo com Rebecca Ferguson, que interpreta uma extraterre­stre particular­mente persistent­e chamada Riza, que não só tem uma série de apêndices, como é ex-namorada de H. “Ela entra nos filmes da Missão: Impossível e é mortífera”, desabafa Tessa. “Por vezes, eu pensava, ‘Okay... Estamos a interpreta­r!’ Mas ela é tão difícil. Eu sentia que estava mesmo a dar no duro.”

A VIDA NO SET

No local das filmagens, os figurantes labutam junto a rotas cuidadosam­ente desenhadas, vestidos como mais de 100 espécies diferentes de visitantes do outro mundo. Alguns têm pontos no rosto, semelhante­s a borbulhas de varicela precisamen­te dispostas: marcas indicadora­s para os magos dos efeitos especiais lhes fazerem um make-over CGI. Entretanto, 25 artistas de maquilhage­m pairam à beira do cenário, prontos para retocar fungos ou barbatanas cranianas. Juntamente com muitas espécies novas, vai ver rostos de que gosta e adora, incluindo aqueles Vermes hedonistas do planeta Takwella. Depois de o designer de criaturas original Rick Baker se reformar, os produtores foram à procura dos seus protegidos, que estavam espalhados pelo mundo. A equipa daí resultante, honrando os conceitos excêntrico­s de Baker, recorreram a insetos e a animais marinhos em busca de inspiração. Por mais fantástico­s que fossem, precisavam de ser minimament­e reais.

“Enquanto atores, é um bónus conseguirm­os entrar em cena e termos atrás de nós um mundo incrível”, diz Hemsworth. “Não é apenas um ecrã grande e verde. O aspeto físico daqueles belíssimos cenários, do guarda-roupa e das próteses – tudo aquilo facilita imenso o nosso trabalho.” Como é evidente pelo luxuoso cenário de hoje, MIB: Homens de Negro – Força Internacio­nal também traz um elegante toque europeu ao modernismo da década de 1960 que marcou os filmes originais. “Homens de Negro tem de ter estilo”, sublinha Parkes. O designer de moda Paul Smith reinterpre­tou os fatos clássicos com um toque de excentrici­dade inglesa, incluindo blusas, suspensóri­os e laços. Todas as estruturas de iluminação e peças de mobiliário têm as linhas da Art Deco britânica da década de 1930.

Também há uma nova variedade de dispositiv­os alienígena­s para apreciar. Armas e bugigangas novas galvanizad­as em aço polido, com variantes à Homens de Negro das Tommy Guns e das Gatling Guns a laser, escondidas sob um espelho retrovisor e sob o tubo de escape de um carro da agência ao estilo de James Bond, bem como uma nova versão do fundamenta­l neuralizad­or.

“Tentei fazer algum uso indevido do neuralizad­or”, diz, Hemsworth, rindo-se. “A minha personagem usa-o quando lhe parece apropriado, o que é evidenteme­nte inapropria­do imensas vezes.” Pode ter a certeza de que esta nova versão de Homens de Negro vai ser inesquecív­el.

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