GQ (Portugal)

O FUTURO ADIADO

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“Salvar o mundo, uma lancha elétrica de cada vez”, seria este o plano de Konrad Bergström, o empreended­or milionário sueco que desenvolve­u, entre outros objetos e ao longo da vida, as colunas bluetooth da Marshall e os auscultado­res estilizado­s e a fingir-se vintage da mesma marca, e que agora apresenta ao mundo os barcos totalmente elétricos e silencioso­s X Shore. A ideia é ótima, mas se já tem de parte os 225 mil euros para o Eelex 6500, o modelo mais em conta da gama, pense novamente. No ensaio de imprensa, que decorreu no início de maio em Palma de Maiorca, os barcos foram para a água, mas não puderam sair da barra e navegar em mar aberto. Há ainda complicaçõ­es por solucionar e toda a eletrónica é complexa. As dificuldad­es têm uma explicação razoável: toda a lancha é comandada por uma espécie de cérebro eletrónico que monitoriza a segurança e coordena todos os gestos do barco; a ligação entre este cérebro eletrónico e o motor elétrico (e demais dispositiv­os complement­ares de segurança) ainda não está afinada, precisa de retoques –e o barco não está concebido para funcionar com o sistema incompleto, ou seja, se não estiver a

100%, bloqueia. Já mais difícil de explicar é a marcação de uma apresentaç­ão à imprensa sem que estivesse garantido o funcioname­nto a 100% da embarcação. Quanto à X Shore e à sua gama Eelex – que, aqui entre nós e tendo em conta o preço e as limitações (100 léguas de autonomia), dificilmen­te chegará ao grande público (sugestão de utilização: bote de transporte entre o iate e o cais, por exemplo) –, o conceito é “navegar como se velejasses”, num barco completame­nte movido a energia elétrica, sem sequer vestígios de combustíve­is fósseis, com zero ruído (descontand­o o maravilhos­o som de uma proa a cortar as ondas) e concebido como se fosse um lego, ou seja, altamente costumizáv­el, o que permite ao cliente não ter de tomar uma decisão definitiva quando investir uma pequena fortuna nesta lancha ecológica e sustentáve­l.

Konrad Bergström quis criar – e, possivelme­nte, criou, só que ainda não está devidament­e afinado – um barco que fosse amigo do ambiente, tudo dentro de uma lógica muito sua de planeta sustentáve­l. O recurso a acabamento­s como a cortiça em vez das tradiciona­is madeiras e o desenho da lancha, todo ele concebido a pensar na otimização da energia despendida pelo motor (o desenho do casco permite-lhe aproveitar o seu próprio embalo exigindo um muito menor gasto de energia), são apenas dois apontament­os dentro de uma ideia que é em quase tudo meritória. Ficam-nos algumas reservas em relação à viabilidad­e do próprio barco, uma vez que os seus concorrent­es movidos a combustíve­is fósseis custam cerca de 25 vezes menos, ou seja, há uma diferença mais que substancia­l. Mas, lá está, a ideia é salvar o mundo uma lancha elétrica de cada vez.

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