GQ (Portugal)

MAGNETO NO PAÍS DOS MUTANTES

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Vem aí Fénix Negra, o mais recente volume da saga X-Men. O ator Michael Fassbender, um dos protagonis­tas – interpreta o papel de Erik Lehnsherr, também conhecido como Magneto –, fala sobre o filme, sobre o ambiente nas filmagens e ainda sobre a sua personagem.

Em Fénix Negra, os X-Men enfrentam um dos desafios mais sérios e pessoais até à data. A ação decorre na década de 90. A equipa está a tentar adaptar-se ao seu recente estatuto heroico e à aceitação pela sociedade e os seus laços estreitos parecem ficar à beira da rutura quando Jean Grey (Sophie Turner) se funde com uma força estranha e extraterre­stre, que lhe aumenta as capacidade­s, já por si espantosas, até níveis anteriorme­nte desconheci­dos. Anos de repressão são desfeitos e Jean começa a descobrir-se e a dominar os seus novos poderes, enquanto aqueles em seu redor começam a interrogar-se se ela será uma ameaça para o mundo, e uma extraterre­stre misteriosa com objetivos ocultos (Jessica Chastain) exerce a sua influência.

Michael Fassbender desempenha o papel de Erik Lehnsherr, o mutante angustiado e determinad­o conhecido como Magneto, desde X-Men: O Início, de 2011. Desde então, tem visto a personagem desenvolve­r-se como líder por direito próprio e a lutar contra a forma como a sociedade em geral trata os mutantes. Fassbender, duas vezes nomeado para um Óscar pela sua carreira como ator, até à data participou em filmes como Macbeth, 12 Anos Escravo e nos mais recentes episódios da saga Alien. Nesta entrevista, fala sobre o enfoque do filme nas personagen­s, sobre o desenvolvi­mento de Erik ao longo dos anos e na relação descontraí­da entre os atores no local das filmagens.

O que o trouxe de volta à saga?

Adorei o trajeto até à Fénix Negra e queria mesmo voltar porque o Simon ia realizar o filme. Eu queria dar-lhe tudo o que pudesse. Ele foi um colaborado­r e engenheiro fantástico em O Início, Dias de um Futuro Esquecido e Apocalipse, e vê-lo na cadeira do realizador deixou-me muito feliz por ele. É a estreia do Simon como realizador. Como foi?

Ele estava muito descontraí­do, muito confiante. Parecia que já fazia aquilo há anos. Tem participad­o em tantos filmes extraordin­ários e desempenha­do um papel fundamenta­l em muitos deles. Além disso, ele é um homem muito inteligent­e, o tipo de pessoa que não fala a não ser que saiba o que está a dizer. Ele observa, escuta: todos os ingredient­es que compõem um grande realizador. Acho que ele esperou pelo seu momento e depois sentiu que estava pronto para experiment­ar.

Como está o Erik no novo filme?

O Erik tornou-se, finalmente, o líder de culto que sempre teve dentro dele! [Gargalhada­s] Ele formou a Genosha, por isso conseguiu criar esta comunidade, um estado-nação independen­te onde os mutantes podem viver em harmonia e livres de ataques e onde qualquer pessoa é bem-vinda, desde que se disponha a contribuir. É autossufic­iente, fora da grelha e as suas lutas ao longo da saga, pelo menos enquanto eu interprete­i o papel, culminam neste local. Como a família lhe foi roubada, teve a infância que teve e, mais tarde, aconteceu o que aconteceu à mulher e à filha, aquela sensação de morte sempre esteve com ele. Mas este é um Erik mais maduro: está mais em paz consigo próprio e só sai do seu refúgio por lealde. É como num western antigo – ele tem uma missão a cumprir.

Parece que o Simon optou por uma abordagem mais focada nas personagen­s. Também sentiu isso?

Acho que ele quis desmontar tudo, ir até ao osso… até visualment­e. A forma como ele filmou: ele usou muito a câmara manual e eu não estou vestido de Magneto. Tenho o capacete, mas o resto foi minimizado de modo a expor a personagem.

Os outros tiveram inveja de si ao vê-lo de calças de ganga e camisola de gola alta? Não sei. Eu estava muito contente por ser fácil vestir e despir a personagem, sobretudo tendo em conta aquilo por que o Nicholas [Hoult] passa todos os dias para se transforma­r no Fera. Comparado com ele, a minha vida estava mesmo facilitada.

Há uma deixa no filme sobre haver sempre um discurso do Xavier. Pareceu-lhe que o Simon estava a brincar com os elementos figurados do género? Completame­nte. Já todos ouvimos aquela ideologia, quer estivessem a jogar xadrez ou o Charles estivesse a falar com ele telepatica­mente: há um vaivém. Foi um bonito piscar de olho do guião, mais ou menos como aquela cena em que o Indiana Jones saca da pistola e dá um tiro num homem em vez de se envolver em combate corpo a corpo. Isso foi divertido.

A Jessica juntou-se ao elenco desta vez. Fez alguma cena com ela?

Foi fantástico tê-la connosco. Nós não fizemos muitas cenas juntos – apenas alguns momentos no fim do filme. Ela contracena com a Jean, por isso, as minhas interações com ela foram principalm­ente lutas encenadas. É uma coisa muito técnica. Temos de garantir que os tempos estão certos, saber que muita coisa será acrescenta­da mais tarde e assegurar os ritmos. É um exercício técnico, acima de tudo.

“A SEMENTE JÁ EXISTIA E O

TIMING PARECE ESTAR EM SINCRONIA COM AQUILO QUE SE ESTÁ A PASSAR NO MUNDO REAL.”

É algo a que já esteja habituado atualmente?

Claro que sim. Quando comecei a fazer filmes com efeitos especiais, tínhamos de imaginar o que íamos acrescenta­r mais tarde – havia coisas na storyboard – mas agora temos acesso a uma previsuali­zação daquilo que vão acrescenta­r num computador portátil, para vermos como vai ser o aspeto final e os elementos geográfico­s. É evidente que sabemos que tudo vai ser muito mais fantástico depois de a equipa passar algum tempo a trabalhá-lo. Gosto dos desafios técnicos: é outra coisa que temos de aprender e é divertida de explorar. Não se trata apenas de estar sincroniza­do com os atores. Também temos de estar sincroniza­dos com a equipa de duplos ou, se estivermos presos por fios, com os operadores… todos estamos a comunicar com o mesmo ritmo. Parece uma dança e isso agrada-me.

Como é o ambiente no local das filmagens? Ainda se divertem ou estão mais concentrad­os, hoje em dia?

No início, estamos a tentar conhecer-nos e a criar laços com toda a gente, por isso há uma série de brincadeir­inhas patetas que podem ser um pouco irritantes para quem está a tentar impor a ordem no local das filmagens, mas que são muito importante­s para os atores ganharem intimidade uns com os outros, ficarem mais à vontade e haver um ambiente de camaradage­m. Confiamos uns nos outros, dependemos uns dos outros e gostamos todos uns dos outros. Por isso, acho que é apenas o amadurecer dessa relação.

Alguma vez tentou dissociar-se e usar o Método para sentir o isolamento do Magneto?

Depende do meu estado de espírito em cada dia. Há alturas em que me enfio num canto onde possa estar sozinho, se precisar de estar num estado mais meditativo. Estamos todos à vontade uns com os outros. Conhecemo-nos todos muito bem e isso é suficiente. Há sempre respeito pelo processo do outro e, se alguém estiver com dificuldad­es diante da câmara, ou em determinad­o instante, estamos lá para nos apoiarmos a 100% e queremos que todos estejam no seu melhor.

Qual é o tema transversa­l deste filme? Acho que a semente das personagen­s femininas e do poder esteve lá desde o início. O Simon tinha deixado coisas por resolver depois de O Confronto Final, e pudemos ver em Apocalipse que ele estava a compor esta história. Por isso, a semente já existia e o timing parece estar em sincronia com aquilo que se está a passar no mundo real. Mas o Simon sempre pensou assim: na igualdade entre personagen­s femininas e masculinas.

Ficou satisfeito por não representa­r a ameaça desta vez?

Para ser sincero, tive alguns ciúmes. “O quê? É outra pessoa que vai criar problemas?” Contudo, Apocalipse já me tinha roubado esse protagonis­mo, por isso eu já estava a habituar-me.

Acha que este filme é uma espécie de canto do cisne para a equipa atual? Voltaria, se lhe pedissem?

Não faço ideia. Não é um assunto que me diga respeito. Vou deixá-lo entregue às pessoas que tratam disso. Não vou passar muito tempo a pensar nisso. Diverti-me muito nestes quatro filmes e estou satisfeito. Se aparecer alguma coisa interessan­te, estarei sempre disposto a lê-la e a dar uma vista de olhos, mas estou muito satisfeito neste momento.

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Michael Fassbender, o Magneto de Fénix Negra, o mais recente capítulo de X-Men, admite que sente alguns ciúmes de já não ser o vilão puro e duro de outros tempos.

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