GQ (Portugal)

José Santana ouve Rolling Stones enquanto pensa na mudança.

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Enquanto escrevo estas linhas, chega-me o som dos Rolling Stones vindo de um computador perto do meu, passam caixotes pelos corredores cada vez mais estreitos por causa das caixas que se vão amontoando ao longo do caminho. A Ânia e a Inês, as nossas designers, aparecem à minha frente para verem comigo o layout de um artigo, desistem e dizem que voltam mais tarde porque a Paula, a nossa assistente, a pessoa que trata de tudo um pouco e de todos nós, avisa-me que está um senhor à minha espera para uma reunião que tínhamos marcado.

Para chegar à “Sala Oval” – é assim que chamamos à sala de reuniões, não por qualquer ironia ou referência ao salão onde se decide uma boa parte do destino do planeta, mas pela forma que a nossa sala tem –, para lá chegar, escrevia eu, tenho de me encostar à parede: acabou de aterrar mais uma encomenda que fará parte da mobília da nossa nova casa (estamos a um par de dias de nos mudarmos para novas instalaçõe­s, mas o frenesim do fecho não diminui, pelo contrário). Volto para a minha secretária, reparo que Paint it Black e Simpathy for the Devil continuam a tocar em loop – parece que o Youtube aleatoriam­ente foi dar a uma playlist de várias versões dessas músicas, mas não digo nada, parece que ninguém ainda reparou e, se eu comentar, há o risco de irem “levantar a agulha do disco riscado”, portanto, continuo a deliciar-me ao som de duas das minhas músicas preferidas. Vou interrompe­ndo o editorial para ver mais uns ficheiros dos artigos que compõem esta edição. Desta vez, a entrevista de Diego Armés à Jéssica Silva – se eu já era fã dela, depois de ler a entrevista ainda fiquei mais. Estou encostado na cadeira a pensar, orgulhoso, em como esta edição está forte, quando o meu pensamento é subitament­e interrompi­do pela Sara Andrade que dispara uma pergunta à Sofia Lucas sobre a edição, que também está em fecho, da Vogue, ao mesmo tempo que a Nelly, a nossa diretora de moda, entra na sala para vermos o plano dos desfiles da semana de moda de Milão. E lembro-me que não posso esquecer-me de ir falar com a Beatriz, a nossa nova jornalista, sobre as páginas dos prémios de design que decorreram nessa cidade. Aproveito para, quando o fizer, passar pelo departamen­to de vídeo para com ver com o Rui Gomes como estão os vídeos que nasceram desta edição e quais os primeiros que sairão no nosso site. Olho para o computador a pensar no que irei escrever neste editorial e, no meio deste turbilhão do fecho e da mudança, nada me vem à cabeça, a não ser que somos como uma equipa de futebol unida, passamos a bola uns aos outros e, como disse o Bernardo Silva na edição de abril da GQ, o segredo da equipa é não haver nenhum Messi, nenhum Ronaldo, todos sabemos a importânci­a e o peso uns dos outros e, no fim, não importa quem marca o golo porque é de todos nós. Esta equipa vai agora mudar de “estádio” e estão convidados a vir conhecê-lo e conhecer-nos pessoalmen­te. Para isso, basta que enviem um email para a Paula Bento, que mencionei em cima, a marcar uma visita. Venha tomar um café à nossa casa, afinal é o elemento mais importante desta equipa. Uma revista, tal como um livro que não é lido, é um objeto inerte e morto: é você quem nos dá vida de cada vez que abre a GQ. Obrigado por isso, sabemos o quão especial é numa era que se teima que seja maioritari­amente digital.

Ah… Não há felicidade que dure para sempre: alguém acaba de comentar “há quanto tempo estamos a ouvir a mesma música?!”.

NO MEIO DESTE TURBILHÃO DO FECHO E DA MUDANÇA, NADA ME VEM À CABEÇA, A NÃO SER QUE SOMOS COMO UMA EQUIPA DE FUTEBOL UNIDA

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Diretor GQ Portugal
José Santana Diretor GQ Portugal

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