O ADMIRÁVEL FUTURO DOS CAMINHOS DE FERRO
Num futuro cada vez menos distante em que 75% da população mundial viverá em cidades e em que as alterações climáticas exigem alternativas aos combustíveis fósseis, a aposta em comboios de alta velocidade devia ser óbvia, a bem do nosso (único) planeta. As soluções são muitas e variadas e se ainda não se encontram em pleno uso já estão, pelo menos, a ser experimentadas em vários lugares do globo e não na alta velocidade. Eis algumas delas:
COMBOIOS A HIDROGÉNIO
Se a ideia é não contribuir para o aquecimento global, eis uma alternativa às automotoras a diesel, esses monstros poluentes, as mais utilizadas nos serviços regionais um pouco por esse mundo fora. Equipados com células de combustível que convertem hidrogénio e oxigénio em eletricidade e são virtualmente não poluentes: a única coisa que emitem para a atmosfera é vapor de água. E, para além da inexistente pegada ecológica, são menos barulhentos que os comboios convencionais e conseguem atingir velocidades na ordem dos 140 quilómetros por hora. A Alemanha é, para já, a pioneira europeia neste novo e revolucionário comboio. O reabastecimento é feito através de uma estação móvel de hidrogénio e, com apenas um tanque, o comboio tem uma autonomia estimada de 1.000 quilómetros. Os dois primeiros exemplares, os Coradia iLint fabricados pela francesa Alstom, entraram ao serviço em Setembro do ano passado nas linhas da Baixa Saxónia, substituindo as composições a diesel que antes faziam aquele serviço regional. A primeira experiência foi feita na China, em 2015, na província de Qingdao, com um comboio que atingiu os 60 km/hora, com capacidade para 380 passageiros e autonomia de 100 quilómetros. No ano seguinte, a cidade de Foshan, na província de Guangdong, no sul da China, começou a construir novas linhas ferroviárias e investiu 60 milhões de euros numa fábrica para construir comboios movidos a hidrogénio. Um ano depois, foi a vez da cidade de Tangshan de colocar ao serviço um elétrico movido a hidrogénio, que levou, apropriadamente, o nome de hidrail.
E, recuando ainda mais no tempo, registe-se o pequeno elétrico a hidrogénio Oranjestad, que entrou ao serviço em 2012 na pequena ilha caribenha de Aruba. Holanda, Dinamarca e Noruega deverão ser os próximos países a apostar na nova tecnologia. E nós, de que é que estamos à espera?
COMBOIOS SEM MAQUINISTA
Numa altura em que os testes com automóveis sem condutor não têm sido propriamente um sucesso e até se têm revelado, na realidade, um pouco assustadores, falar de um comboio sem maquinista é de desconfiar. Mas, à partida, a coisa é mais fácil: um comboio anda em cima de uma linha, realiza um percurso pré-definido e não tem de se preocupar com obstáculos no caminho nem com peões, pelo menos em teoria (haverá sempre aqueles inconscientes que acham que é boa ideia atravessar a linha do comboio...). Mas a solução está já a ser testada e a primeira viagem de um comboio autónomo realizou-se na Austrália no início de 2018, quando uma composição da empresa mineira Rio Tinto, batizada de AutoHaul, transportou minério de ferro num percurso de 100 quilómetros, na região de Pilbara, sem um único humano a bordo. O êxito da experiência levou a que a Rio Tinto contemple vir a adotar o sistema nas suas mais de 200 locomotivas que transportam minério de ferro do “outback” australiano para o litoral. Os comboios autónomos foram também já testados na Holanda no final do ano passado, quando uma composição realizou um percurso de uma centena de quilómetros sem maquinista, embora a bordo estivesse um condutor para supervisionar a viagem, não fosse o diabo tecê--las...
Se, para já, os testes se têm limitado a comboios de mercadorias, a nova tecnologia poderá, no futuro próximo, estender-se ao transporte de passageiros. Essa é, pelo menos, a aposta da empresa francesa de caminhos de ferro, a SNCF, que lidera dois consórcios destinados ao desenvolvimento de comboios autónomos, um para mercadorias (até 2023) e outro para passageiros, ainda sem data.
Mais ambicioso é o projeto da China, está a desenvolver o seu próprio sistema de comboios autónomos que quer estrear nos Jogos Olímpicos de Inverno de 2022. A ideia é ligar a capital Pequim a Zhangjiakou, na província de Hebei, onde se realizarão os Jogos, com comboios sem maquinista que se deslocarão a 350 km/hora.