GQ (Portugal)

EDITORIAL

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José Santana discorre sobre a “alegada” aterragem na Lua e sobre o novo “planeta” da GQ.

A 20 de julho de 1969, o Homem aterrava na Lua pela primeira vez. Em Portugal, uma parte de toda a operação foi acompanhad­a em direto numa longa emissão televisiva de cerca de 15 horas, mas a aterragem, ou alunagem propriamen­te dita, foi vista pelos portuguese­s em diferido. O principal telejornal da época abriu com uma inauguraçã­o do Presidente da República, Américo Thomaz. Como se lê no site da RTP, “tudo o que envolvesse o Presidente da República era prioritári­o”. Para os mais novos, convém lembrar que não havia na época TV cabo, nem Internet. Em Portugal, havia apenas dois canais e pertenciam os dois ao estado.

Nesta edição da GQ comemoramo­s a efeméride dos 50 anos da chegada do Homem à Lua, numa altura em que o interesse pelo nosso único satélite natural ganha novo fôlego. A China, no início de janeiro, pousou um módulo, sem tripulação, no lado oculto da Lua, tornando-se assim o primeiro país a pousar no lado que nunca se vê da Terra. A GQ que tem nas mãos foi toda construída enquanto “aterrávamo­s” na nossa nova casa. Se fosse um planeta, seria provavelme­nte apelidado “o planeta laranja” devido à chamativa cor do chão que cobre quase toda a área das novas instalaçõe­s da Light House (que também acolhe a Vogue Portugal). Viveu-se este mês a excitação que se vive todos os meses ao fazer um novo número da GQ, mas com o acréscimo de chefamília. garmos a um novo sítio que será o nosso “planeta” nos próximos anos. Espero que o leitor sinta o ambiente tão especial que se viveu nestes dias, refletido agora nas nossas páginas. Provavelme­nte, pelo menos pela minha memória, esta é a primeira vez que na GQ Portugal, um tema central: a Lua ocupa grande parte do todo da edição.

Um dos ingredient­es não secretos da nossa redação é que, apesar da variedade de personalid­ades e opiniões que a compõem, há um enorme respeito entre todos nós. Esta edição não foi exceção, o que a torna ainda mais rica. Eu, por exemplo, sempre fui um cético em relação ao que o Homem viu em direto no dia 20 de julho de 1969. Até há não muitos anos, tinha a falsa memória de ter assistido à chegada do Homem à Lua em frente à televisão com a Lembro-me de vários pormenores, até de ter ido à cozinha buscar umas bolachas a correr para não perder nada do que se passava a 384.400 km da terra, nesse já longínquo ano de 1969. Até que um dia me bateu que, então, eu tinha apenas 1 ano de idade. Pelas minhas memórias, eu teria uns 8 ou 9 anos quando corria para a cozinha. Percebo agora que assisti provavelme­nte a uma transmissã­o da RTP a comemorar os 10 anos do homem na Lua.

Do que me lembro, e que me ficou para sempre, foi achar que, de alguma maneira, já tinha visto igual e a realidade teria de ser diferente. Sem ainda ter noções de teorias da conspiraçã­o, nunca acreditei que o governo dos Estados Unidos arriscasse, em direto, para todo o mundo a hipótese de um falhanço. Não nos podemos esquecer que o que ainda hoje é um feito de alta complexida­de (Israel acaba de falhar a primeira tentativa de aterrar uma sonda na Lua, acabando por se despenhar no solo lunar em abril deste ano), há 50 anos seria impossível ter a certeza de que tudo fosse correr bem, pelo menos a certeza de arriscar uma transmissã­o em direto para todo o mundo, em plena Guerra do Vietname e em plena Guerra Fria. Não sou dos que dizem o “Homem nunca foi à Lua”, apenas duvido que o tenha feito exatamente quando o vimos e como o vimos. No lado oposto a mim, temos o nosso chefe de redação, que, numa das nossas muitas “discussões” sobre este tema, me disse, quando eu argumentav­a o meu ponto de vista, “a ciência prova que o Homem esteve na Lua, por isso, não quero saber… a ciência diz, eu acredito”. Fiquei calado e apercebi-me de que a frase me fez lembrar a de um crente. Mesmo para os homens que não acreditam no misticismo, a ciência é o mais próximo que há de uma religião, há certos assuntos para os quais é preciso ter fé. E isso é tão bonito no ser humano.

Como disse, a GQ é composta de várias opiniões e todas elas têm espaço, não é por eu ser o diretor da revista que esta edição é uma apologia de o Homem não ter chegado à Lua no dia 20 de julho de 1969. Muito pelo contrário. É uma homenagem ao Homem e à sua conquista do espaço que ainda agora começou.

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Diretor GQ Portugal
José Santana Diretor GQ Portugal

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