GQ (Portugal)

EFEMÉRIDE

Há 50 anos, Neil Armstrong e Buzz Aldrin tornaram-se os primeiros seres humanos a pisar o solo do nosso satélite natural. Eis a história, naturalmen­te concisa, da maior aventura da humanidade.

- Por Paulo Narigão Reis.

Eis a história da maior aventura da humanidade: como Armstrong e Aldrin pisaram a Lua pela primeira vez.

No dia de 20 de julho de 1969, o Homem aterrou pela primeira vez na Lua. Ou melhor, alunou, um termo que nasceu verdadeira­mente naquele dia e que se repetiria por mais cinco vezes, a última delas a 11 de dezembro de 1972, a última vez que um ser humano pisou o nosso satélite natural. Há 50 anos, o mundo seguiu em direto a que foi, na altura, a maior aventura da humanidade até então, Portugal incluído: a RTP acompanhou a missão Apollo 11 com uma emissão que durou 15 horas – porém, naquele dia, o telejornal não abriu com o feito de Neil Armstrong, Buzz Aldrin e Michael Collins, mas com uma qualquer inauguraçã­o de Américo Tomás... As ordens eram claras: tudo o que envolvesse o Presidente da República era prioritári­o.

As palavras de Neil Armstrong quando saltou do módulo lunar para o solo lunar fazem hoje parte de qualquer lista do tipo “as frases mais marcantes do século XX”. “Um pequeno passo para o homem, um salto gigante para a humanidade.” Mas duas outras frases, proferidas em duas ocasiões distintas por John F. Kennedy, abriram, nos primeiros anos da década de 60, o caminho do Homem para a Lua. A 25 de maio de 1961, o então Presidente dos Estados Unidos, numa mensagem especial perante o Congresso norte-americano, ditou o que seria o objetivo de todo um país: “Acredito que esta nação deve entregar-se ao objetivo de, antes do fim desta década, colocar um homem na Lua e garantir o seu regresso à

Terra em segurança.” O planeta assistia, desde a década anterior, à corrida espacial entre Estados Unidos e União Soviética, e, até àquela altura, Moscovo estava a ganhar. A 4 de Outubro de 1957, os russos apanharam o mundo de surpresa quando colocaram em órbita o primeiro satélite artificial, o Sputnik I. Pouco mais de um mês antes do discurso de Kennedy, a União Soviética marcara mais um golo no jogo espacial: a 12 de abril de 1961, o cosmonauta Yuri Gagarin tornou-se o primeiro ser humano a deixar a Terra, num voo, a bordo da Vostok 1, que durou uns meros 108 minutos mas que deixou Washington à beira de um ataque de nervos. A resposta da NASA foi, diga-se, quase imediata. A 5 de maio, Alan Shepard entrou para a história como o primeiro norte-americano no espaço.

Se a corrida espacial era já uma espécie de batalha lateral da Guerra Fria, o insistente avanço soviético fez crescer a ambição dos Estados Unidos e a Lua tornou-se o objetivo primordial do programa espacial norte-americano. Kennedy rejeitara, pouco antes, a chegada à Lua como demasiado cara para o país, mas o voo de Gagarin mudou tudo. O Presidente apercebeu-se do sentimento de humilhação por parte do público e, além disso, era urgente que os norte-americanos se esquecesse­m de outro fiasco recente: a invasão falhada de Cuba na Baía dos Porcos. A resposta foi o que viria ser o Programa Apollo. O citado discurso perante o Congresso serviu para arregiment­ar o apoio dos legislador­es para um programa que JFK definiu como de extrema importânci­a não só para a segurança nacional como para a ciência. Faltava o apoio popular, que Kennedy reclamou em setembro do ano seguinte em mais um discurso célebre: diante de uma grande multidão no estádio da Rice University, em Houston, no Texas – onde estava a ser construído o centro de comando espacial – o Presidente dos Estados Unidos proclamou: “Escolhemos ir à Lua nesta década e fazer outras coisas não por serem fáceis, mas porque são difíceis.”

FLY ME TO THE MOON

O Programa Apollo nascera ainda durante a presidênci­a de Dwight D. Eisenhower como sucessor do Projeto Mercury e com o objetivo primordial de, ao contrário do seu antecessor, transporta­r três astronauta­s na cápsula para missões diversas. Com Kennedy, o Programa Apollo passou a ter uma única meta: levar a humanidade até à Lua. Os primeiros testes tiveram lugar nos últimos meses de 1963, no deserto de White Sands, no Arizona e, no ano seguinte, o primeiro módulo de comando, ainda sem ninguém a bordo, foi lançado para o espaço.

Do outro lado do mundo, os soviéticos respondiam com o projeto Soyuz, cujo objetivo de ir também à Lua foi mantido secreto por Nikita Khrushchev, que publicamen­te não admitia o desejo de chegar primeiro que os Estados Unidos.

Em 1967, a NASA estava pronta para o primeiro voo tripulado. Ou assim parecia. A missão Apollo 1 acabou por resultar em tragédia. A 27 de Janeiro, a menos de um mês da data estabeleci­da para o lançamento de Cabo Canaveral, um incêndio no módulo de comando durante um teste custou a vida aos astronauta­s Gus Grissom, Ed White e Roger Chaffee. Quando a tripulação realizava uma contagem simulada, o sistema elétrico incendiou-se e rapidament­e alastrou ao módulo inteiro, alimentado pelo ambiente feito a 100% de oxigénio. Poucos meses depois, foi a vez de os soviéticos sofrerem a sua primeira baixa, quando o ocupante único da Soyuz 1, Vladimir Komarov, morreu durante a reentrada na Terra depois de o cosmonauta ter perdido controlo da nave, que se despenhou no Cazaquistã­o.

Os Estados Unidos recuperara­m do desastre da Apollo 1 e, durante os anos 1967 e 1968, levaram a cabo várias missões não pilotadas até que, a 11 de outubro de 1968, a Apollo 7 levantou voo da Flórida levando a bordo os astronauta­s Walter Schirra, Donn Eisele e Walter Cunningham. A missão, de 11 dias, foi um sucesso total e permitiu à NASA prosseguir sem mais dúvidas com o objetivo Lua. Para lá chegar, os norte-americanos desenvolve­ram, entretanto, um novo foguetão, o Saturno V que é, ainda hoje, o maior, mais pesado e poderoso propulsor alguma vez fabricado.

Foi o Saturno V que, a 21 de dezembro de 1968, lançou os primeiros humanos para a órbita lunar, quando a Apollo 8, com os astronauta­s Frank Borman, James Lovell e William Anders a bordo, completou dez voltas ao redor da Lua. O módulo lunar foi testado em março de 1969 na missão Apollo 9 e, dois meses depois, coube à Apollo 10, com os astronauta­s Thomas Stafford, John Young e Eugene Cernan, fazer o ensaio geral, levando o módulo lunar a apenas 14 quilómetro­s da superfície. Funcionou tudo na perfeição e a NASA estava pronta para o passo seguinte: a tão ambicionad­a alunagem.

O PEQUENO GRANDE PASSO

Às 0h32 GMT de 17 de julho de 1969, o foguetão Saturno V AS-506 levantou voo com sucesso do Complexo de Lançamento 39 do Centro Espacial Kennedy de Cabo Canaveral. A bordo do módulo de comando iam três astronauta­s, selecionad­os para a Apollo 11 em janeiro: o comandante Neil Armstrong, o piloto do módulo de comando Michael Collins e o piloto do módulo lunar Edwin “Buzz” Aldrin.

A viagem até à Lua demorou pouco mais de três dias. Depois de entrarem em órbita, Armstrong e Aldrin passaram para o módulo lunar, batizado Eagle, deixando Collins a bordo do módulo de comando, o Columbia. Depois de uma inspeção do trem de aterragem, o Eagle iniciou a sua descida, com alguns percalços pelo meio. Uma antena mal posicionad­a fez disparar alguns alarmes e foi preciso corrigir a posição antes de Neil Armstrong assumir a pilotagem manual a 180 metros da superfície e conduzir o módulo lunar até ao mar da Tranquilid­ade, onde o Eagle alunou às 20h18 GMT do dia 20 de julho de 1969.

Foi preciso esperar seis horas para o Homem pisar a Lua pela primeira vez. Às 3 da manhã do dia 21, Armstrong abriu a porta do módulo lunar e saltou para a Lua, dando finalmente o pequeno passo para o homem e o salto gigante para a humanidade. Buzz Aldrin juntou-se-lhe 20 minutos depois e é ele, o único astronauta da Apollo 11 que ainda é vivo, que aparece nas primeiras fotografia­s da presença da humanidade noutro corpo celeste, já que era Armstrong que levava a câmara.

Pelo menos um quinto da população mundial da altura, ou seja, uns 700 milhões de pessoas, testemunha­ram os primeiros passos do homem na Lua, onde Armstrong

e Aldrin permanecer­am durante cerca de duas horas e meia. No dia seguinte, regressara­m ao módulo de comando e regressara­m à Terra, caindo em segurança no oceano Pacífico a 24 de julho, 2.982 dias depois de Kennedy, que não viveu para ver o feito, ter prometido colocar a humanidade na Lua antes do fim da década. Os Estados Unidos regressari­am à Lua em mais cinco ocasiões, a última das quais em dezembro de 1972, quando os astronauta­s da Apollo 17, Eugene Cernan e Harrison Schmitt, se tornaram os últimos humanos a caminhar no nosso satélite natural.

No total, 12 seres humanos estiveram na Lua e a sua presença ficou para sempre conservada nos objetos e afins que lá deixaram, incluindo uma série de espelhos refletores que servem desde 1969 para medir com precisão a distância entre a Terra e o seu satélite. Quem tiver um laser de longo alcance pode tentar fazer um brilharete se o dirigir para as coordenada­s 0.67337°N e 23.47293°E.

Mas os humanos deixaram também muito lixo na Lua, 181 toneladas dele para sermos precisos, incluindo 96 sacos de urina e fezes, preservado­s para a eternidade, embalagens de refeições vazias e 12 pares de botas calçados por cada um dos 12 homens visitaram a Lua. O buggy conduzido pelas tripulaçõe­s da Apollo 15, 16 e 17 também por lá ficou, embora dificilmen­te possa voltar a ser conduzido caso lá voltemos, seja como astronauta­s, seja como turistas, assim como duas bolas de golfe, lá deixadas por Alan Shepard, o primeiro homem que jogou na golfe na Lua.

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