GQ (Portugal)

NA IDADE DA RAZÃO

É uma das bandas que marcaram definitiva­mente a segunda metade dos anos 90. Os Skunk Anansie regressam a Portugal para uma atuação que assinala os 25 anos da banda. E nós falámos com eles.

- Por Diego Armés.

Ch ama-se 25 L IV E@25eéo álbum que os Skunk Anansie lançaram este ano, uma espécie de dois-em-um: uma coleção de canções tocadas ao vivo( na ver da de,éo seu primeiro álbum puro ao vivo) e uma celebração do 25.º aniversári­o da banda. Os Skunk Anansie vêm a Portugal, onde, dizem, se sentem acarinhado­s, para um concerto no festival de Vilar de Mouros, no dia 23 de agosto. Estivemos à conversa com Skin, a emblemátic­a vocalista da banda, e com Ace, o guitarrist­a. Na verdade, Skin falou muito mais do que Ace, o que é normal, uma vez que se trata da voz principal da banda.

Em 25 anos, deduzo que muita coisa tenha mudado. Skin: Uma boa quantidade de coisas, sem dúvida.

Achas que a maior mudança está onde? Na audiência, na música?

Skin: Creio que a maior mudança foi interna, na indústria. Para nós, essa foi a maior das mudanças e acredito que qualquer banda de rock, ou qualquer banda que toque ao vivo, irá dizer-te a mesma coisa. Tudo mudou, de cima a baixo, e acho que o nosso mérito foi ficarmos atentos à tecnologia e nunca nos deixarmos ficar para trás. Usámo-la a nosso favor em vez de olharmos para ela como qualquer coisa que fosse acabar connosco. Manteve-nos vivos. A maior mudança começou ainda nos anos 90, um tempo em que tínhamos três pessoas cuja função era só reservar voos [risos]. Dantes, por exemplo, tínhamos uma editora discográfi­ca só para o nosso país, agora somos nós a nossa própria discográfi­ca, somos a nossa própria marca, fazemos o nosso management e controlamo­s, gerimos toda a nossa marca. Ao longo dos anos, fomos tentando cortar, sempre que possível, nos intermediá­rios. Isso significa que hoje temos milhões de outros trabalhos que dantes não tínhamos, mas também temos praticamen­te o controlo absoluto de todo o produto e de todo o processo.

E em relação às receitas? Obviamente, vocês vendiam muito mais discos nos anos 90 do que vendem agora.

Skin: A ideia de possuir música vai estar defunta dentro de cinco anos. Vai ser uma coisa de especialis­ta, de colecionad­or. A maioria das pessoas no mundo não vai possuir música, quer seja através de downloads, CDs, vinil, o que for. O mercado será muito mais pequeno, mas será também muito mais produtivo, intenso e vibrante. E será um mercado de pessoas obcecadas por música.

Mas haverá espaço para todos? Os consumidor­es ouvem música de maneiras diferentes. De qualquer modo, preferes como as coisas são agora ou como eram nos anos 90?

Skin: Agora, 100%. Não entendo muito bem as pessoas que fazem questão que tudo fique na mesma. Houve coisas muito boas nos nineties, mas isso foi nos anos 90, foi há 25 anos, por que raio havíamos de querer viver no século passado? Há quem diga “adorava ter estado cá nos anos 70”, mas eu não, fico verdadeira­mente grata pelos tempos em que vivo. Acredito que se considere que certas coisas possam ter sido melhores aqui e ali, mas a Internet, por exemplo, é algo extraordin­ário. Pode ter coisas negativas, claro, mas é algo extraordin­ário.

E, nesta nova era, ainda há estrelas do rock? Há aquele vídeo do Liam Gallagher em que ele explica quantas pessoas tinha para lhe fazerem um chá e que, hoje, tem de ser ele próprio a fazê-lo. Vocês ainda têm esse tipo de comodidade­s?

Skin: Envelhecer... enfim, é a vida. Quando és novo, encontras o teu groove, o teu registo, o teu ritmo, mas depois demora muito tempo até te desenvolve­res. Envelhecer é manter o teu groove sem deixar que ele se estrague e que te tornes aborrecido e desinteres­sante. E eu acho que o Liam Gallagher é um cabrão aborrecido e desinteres­sante. Por isso é que ainda acha que estamos por perto para lhe fazermos o chá. É ridículo. Querer que tudo continuass­e à sua maneira maravilhos­a só por causa desse tipo de coisas é matar a merda do cérebro e ignorar a quantidade de coisas maravilhos­as e oportunida­des que temos à disposição agora. Olho à volta e o que vejo é miúdos a descobrire­m maneiras de fazer coisas novas e a saírem-se com ideias fantástica­s.

E o que é que mudou nos Skunk Anansie nestes 25 anos?

Ace: Ficámos velhos, para começar. Agora, lemos as ementas um pouco mais à distância, todos perdemos um pouco de vista [risos]. Somos, sobretudo, muito mais autossufic­ientes, ainda que tenhamos sido sempre autossufic­ientes, mas agora somos mais. Agora, podemos lançar os nossos discos quando queremos porque temos a nossa própria editora, conseguimo­s tomar decisões mais rapidament­e, e melhores decisões, porque temos mais experiênci­a, mais aptidões, porque conseguimo­s compreende­r e controlar muito mais do processo, da criação [musical] ao art work. Também temos muito mais ligações, podemos chegar e dizer “nós conhecemos estas e aquelas pessoas, podemos colaborar com elas de vez em quando”. Chama-se, acho eu, evolução.

Neste novo disco, vocês juntam 25 anos de canções tocadas ao vivo. Será, sem dúvida, uma viagem pela memória, mas não será também uma forma de se aproximare­m do público mais jovem?

Skin: Não é uma coisa muito nostálgica, simplesmen­te percebemos que nunca tínhamos feito, em mais de 20 anos de existência, um álbum ao vivo, então pensámos: vamos fazer um álbum ao vivo e assinalar os 25 anos. Este foi o ponto de partida. De muitas formas, acredito que os nossos fãs estavam a pedir um álbum ao vivo. Se tudo correr bem, será um disco para os nossos fãs, mas também para miúdos que nunca viram um concerto de Skunk Anansie ouvirem. É ainda um passo em direção a um novo álbum de originais.

“ACHO QUE O LIAM GALLAGHER É UM CABRÃO ABORRECIDO E DESINTERES­SANTE”

Ace: Acho que é também um documento temporal. Aconteceu o mesmo com o disco acústico: fizemo-lo e encerrámos o assunto, “pronto, está feito”. Com este disco, será a mesma coisa, durante todos estes anos demos estes concertos e agora está gravado, está documentad­o e pronto, vamos seguir em frente, vamos fazer um novo álbum.

Skin: É um marco importante no nosso percurso. Quando uma banda faz 25 anos de carreira, isso é verdadeira­mente importante. Não há assim tantas bandas a consegui-lo, portanto, é justo que, ao fazê-lo, possamos dar a nós mesmos uma palmadinha nas costas e dizer “boa, conseguimo­s”.

No entanto, vocês separaram-se em 2001.

Skin: Sim, mas continuámo­s amigos e, agora, estamos juntos de novo como Skunk Anansie. Acaba por ser um bocado como os arrufos de namorados. As pessoas discutem, chateiam-se, mas não vale a pena acabarem logo tudo. No fundo, mantém as tuas discussões novas e frescas.

Ace: Também aproveitám­os para esbanjar a fortuna, comprar obras de arte, plantar vinhas [risos].

E regressara­m em 2009. Porquê? Sentiram saudades uns dos outros?

Skin: Estava na altura. Sentimos saudades de estar na banda, saudades uns dos outros. Tivemos tempo para nos resolvermo­s. O Mark, por exemplo, era um alcoólico e teve tempo para resolver o seu problema. Foi possível regressarm­os novos e frescos em muitos aspetos.

Agora que se juntaram, aproveitam para revisitar canções que, na altura, não resultaram?

Skin: Eu acredito que, se uma canção não consegue aguentar-se e entrar num álbum, isso há de ser por alguma razão. A única canção com que aconteceu isso [revisitaçã­o e posterior introdução num álbum] foi com a Hedonism, que foi escrita para o primeiro álbum, mas os rapazes não estavam para aí virados, era demasiado suave e calminha. Não obstante, a Hedonism teria soado mal nesse primeiro disco. Definitiva­mente, soou muito melhor no segundo, portanto foi uma ótima ideia segurá-la, até porque tínhamos a Weak. Mas foi a única vez que voltámos atrás. Se tivéssemos de o fazer, significar­ia que não tínhamos canções absolutame­nte nenhumas [risos]. Iria saber a fracasso. Lamento imenso se outras bandas fazem isso.

E já têm novas canções?

Skin: Sim, já temos, pelo menos, umas dez canções, mas queremos escrever músicas melhores do que estas. Diria que há umas três que estão boas, mas temos de procurar fazer outras melhores. O que é que podemos esperar do vosso concerto, em agosto?

Skin: Provavelme­nte, tocaremos muitas das canções que vêm no disco comemorati­vo, mas é seguro que incluiremo­s canções novas no alinhament­o, para além de outras músicas que nunca, por um motivo ou por outro, nunca na vida tocámos ao vivo. Vai ser o nosso alinhament­o mais longo.

Ace: Não podemos simplesmen­te repetir o set que constitui o nosso álbum ao vivo, porque esse reflete o nosso alinhament­o da tournée anterior, portanto, temos mesmo de ir mais longe, de inovar.

E agora, aquela pergunta da praxe para terminar: vocês já conhecem o público português. O que acham dele?

Skin: São loucos. É, possivelme­nte, o segundo país onde sentimos mais paixão, a seguir ao Reino Unido. Nem na Europa do Leste, nem na Escandináv­ia sentimos tanto calor humano.

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 ??  ?? Skunk Anansie com a sua formação atual. Da esquerda para a direita: Cass, Ace, a carismátic­a vocalista
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Skunk Anansie com a sua formação atual. Da esquerda para a direita: Cass, Ace, a carismátic­a vocalista Skin e Mark Richardson.
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25LIVE@25 Skunk Anansie Boogooyamm­a

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