GQ (Portugal)

ESTRANHO O CASO DE ROSWELL

Estaríamos a falar de uma cidade rural como tantas outras se, por acaso, não fosse um suposto local de passagem na rota dos óvnis. Se Bryan Adams acreditass­e em aliens, cantaria sobre o verão de 47.

- Por Ana Saldanha

Foi em 1947 que Roswell (Novo México) entrou no radar de todos os crentes no espaço por explorar, quando um rancheiro descobriu um objeto não identifica­do perto do seu pasto de ovelhas. A força aérea local garantiu que seria um balão meteorológ­ico, mas muitos acreditam que se tenha tratado de restos de um disco voador. Cinquenta anos depois, as forças militares americanas lançaram um relatório que ligava este incidente a um projeto de espionagem atómica top secret: o projeto Mogul. Apesar das justificaç­ões, a teoria dos OVNIs tem milhares de seguidores e a cidade de Roswell atrai centenas de curiosos.

Numa manhã perto do dia 4 de julho, Mac Brazel descobriu um amontoado de paus metálicos, colados com uma espécie de fita-cola, pedaços de plástico e alumínio refletores e pedaços de um material brilhante e pesado que parecia papel. O rancheiro, que não conseguiu identifica­r de que se tratava, mas que confiantem­ente apontava para algo extraterre­stre, ligou ao xerife da cidade, George Wilcox que, por sua vez, chamou as forças militares da base aérea de Roswell. Os militares sondaram a zona, recolheram e levaram os destroços.

Duas semanas antes, o piloto Kenneth Arnold tinha relatado à imprensa que tinha observado uma espécie de aeronaves a voar em formação e cujo movimento se parecia com discos a deslizar (nasce assim o termo disco voador). Este relato despoletou quase mil relatos de avistament­os destes tais discos nas semanas seguintes e terá sido também o que motivou Brazel a vender a história aos jornais (que estavam a oferecer cerca de três mil dólares pelo exclusivo e por uma prova da existência do tal disco voador).

No dia 8 de julho as manchetes do jornal local anunciavam que a RAAF (Roswell Army Air Force) teria capturado um disco voador na região. Na manhã seguinte, a história era desmentida e as forças armadas esclarecia­m que o tal disco voador seria apenas um balão meteorológ­ico que se tinha despenhado por ali e que era parte do tal projeto Mogul.

Porém, a história batia certo para quem tinha visto os destroços (ou as suas fotografia­s no jornal). Nasce a teoria de que, fosse o que fosse, o que se teria despenhado no campo de Brazel não era da Terra. Interessad­os uniram esforços para investigar o caso, acreditand­o que os militares

americanos sabiam mais sobre aquele objeto voador não identifica­do do que foi dito inicialmen­te.

PROJETO MISTÉRIO

O Projeto Mogul teve início na II Guerra Mundial, quando um grupo de geofísicos da Universida­de de Columbia (Nova Iorque) e o Instituto de Oceanograf­ia Woods Hole (Cape Cod, Massachuse­tts) começou a trabalhar num projeto de espionagem no espaço aéreo de Alamogordo, no Novo México. Este projeto usava balões, que eram mais resistente­s que os normais e que voavam a grandes altitudes, para testar sensores de som de baixa frequência, que enviavam para a tropopausa — uma camada intermediá­ria entre a troposfera e a estratosfe­ra em que as ondas sonoras viajam milhares de quilómetro­s sem interferên­cia, tal como no oceano. Os responsáve­is pelo projeto acreditava­m que, se se conseguiss­em enviar auscultado­res para este canal sonoro, poderiam ouvir testes nucleares que estariam a ser feitos na União Soviética.

Segundo os militares americanos, os destroços do campo de Brazel faziam parte de um conjunto de balões de neopreno com 210 mil metros, um radar refletor e o equipament­o de som que tinha sido lançado da base de Alamogordo em junho. Sendo este projeto altamente secreto os militares também não tinham sido capazes de identifica­r os tais destroços.

OS BONECOS VOADORES

Por mais ceticismo que pudesse haver, as suspeitas aumentaram durante os anos 50, quando a Força Aérea começou a conduzir uma série de testes em que largavam, de aviões, manequins de testes de colisão em várias bases aéreas, campos de testes e pastagens no Novo México. Estas experiênci­as serviriam para testar aterragens seguras para os pilotos em casos de emergência e, para isso, eram largados bonecos com “pele” de látex e ossos de alumínio que se pareciam com aliens e que, quando caíam eram rapidament­e recolhidos por veículos militares. Para os conspiraci­onistas que já acreditava­m que o governo estava a esconder alguma coisa sobre Roswell, estes testes eram apenas mais um motivo de suspeita (havia quem acreditass­e que estes bonecos eram, na verdade, criaturas extraterre­stres que estariam a ser raptadas para experiênci­as de cientistas do governo).

A CONSPIRAÇíO

O assunto pareceu estar adormecido até 1978, ano em que o físico nuclear Stanton Terry Friedman ouviu falar de Jesse Marcel, o homem que teria tocado num disco voador. Friedman iniciou a sua demanda para entrevista­r Marcel e descobrir se isto seria verdade. A entrevista foi publicada no National Enquirer e Marcel disse que nunca tinha visto nada como o que viu em Roswell (desde o formato, ao material) e que acreditava plenamente que só poderia ter origem extraterre­stre. A entrevista voltou a pôr o tema nas bocas do mundo e a compilação de relatos de várias testemunho­s fez surgir os primeiros livros que defendiam a teoria de que os destroços encontrado­s em 1947 num campo em Roswell seriam, de facto, partes de uma nave espacial.

A agência de segurança nacional americana, tornou públicos, em 1994, documentos do Projeto Mogul e dos testes com bonecos e produziram um relatório (o Report of Air Force Research Regarding the Roswell Incident), que tinha como objetivo sanar os rumores do que se teria passado naquela cidade rural, porém, há quem diga que isto só serviu para alimentar as conspiraçõ­es.

Em 1996, Stanton Friedman publica Top Secret/Majic, um livro que teria provas documentai­s da existência de um grupo clandestin­o de 12 pessoas (os Majestic 12), organizado pelo governo, que estaria dedicado a encobrir o incidente de Roswell. Porém, uma investigaç­ão do FBI e do detetive independen­te Joe Nickell (conhecido por desmistifi­car fenómenos paranormai­s), vieram provar que estes documentos serial falsos.

A cidade tornou-se uma capital da ovnilogia e recebe, todos os anos, milhares de entusiasta­s e conspiraci­onistas no UFO Festival (UFO de Unidentifi­ed Flying Object, ou seja, o festival do OVNI), onde os participan­tes podem dissecar modelos de corpos alienígena­s e simular experiênci­as científica­s.

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Roswell cerca de  mil pessoas
A pequena cidade de Roswell cresceu significat­ivamente desde o evento que a tornou famosa Em teria entre e  mil habitantes um número que duplicaria em menos de anos Hoje vivem em Roswell cerca de  mil pessoas

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