GQ (Portugal)

HOUSTON, DO YOU COPY? WE HAVE A QUESTION

Temos várias, até. A mulher foi à Lua? O espaço cheira mesmo a bife queimado? A NASA tem uma tradição com amendoins? Houston, está na hora de desvendar alguns dos mitos e factos mais impression­antes sobre o espaço, a Lua e a corrida espacial.

- Por Mónica Bozinoski

OS FACTOS O Homem deixou uma série de objetos peculiares na Lua.

A lista é vasta e inclui aleatoried­ades como duas bolas de golfe, um desenho obsceno de Andy Warhol, uma Bíblia, um martelo, uma série de notas de 2 e 20 dólares e um retrato de família, deixado na superfície pelo astronauta Charlie Duke – na parte de trás podia ler-se a mensagem: “Esta é a família do astronauta Charlie Duke do planeta Terra, que aterrou na Lua no dia 20 de abril de 1972.” Para além destes, a Lua também é casa de uma carta escrita pela Rainha Isabel II.

A Lua não é de ninguém.

Ou, melhor dizendo, é de todos nós. Apesar de Buzz Aldrin e Neil Armstrong terem plantado a bandeira dos Estados Unidos da América na superfície da Lua em 1969, o único satélite natural da Terra é, na verdade, propriedad­e internacio­nal. Durante a corrida espacial, que viu União Soviética e Estados Unidos da América competirem furiosamen­te para ver quem chegava primeiro, o receio de que isso desencadea­sse um novo conflito mundial levou à assinatura do Tratado do Espaço Sideral. Celebrado por ambas as partes em 1967, e ratificado por mais 62 países, o artigo segundo do tratado ditava que “o espaço, incluindo a Lua e outros corpos celestiais, não estão sujeitos a apropriaçã­o nacional por reclamação de soberania, uso ou ocupação, ou quaisquer outros”.

E, no espírito do tratado, a NASA partilhou amostras do solo lunar com os cientistas soviéticos aquando do regresso da Apollo 11.

O espaço tem um odor distinto – e a NASA tentou recriá-lo.

Se alguma vez deu por si a questionar “será que o espaço cheira a alguma coisa?”, temos a resposta que vai pôr fim à dúvida ardente: sim, o espaço cheira a alguma coisa. “É possível que já tenham ouvido dizer que o espaço tem um odor, parecido com um bife queimado ou algum tipo de churrasco. Isso é verdade”, confirmou o ex-astronauta canadiano Chris Hadfield à Wired. “Quando regressas de uma caminhada espacial e abres a escotilha, sentes um cheiro prolongado de algo que costumava estar exposto ao espaço – esse cheiro assemelha-se àquele vestígio que a pólvora deixa no ar, ou a um bife queimado. É um cheiro parecido com o do enxofre, como se uma bruxa tivesse estado ali.” Outros astronauta­s descrevem o odor como “metal quente”, “fumos resultante­s de uma soldadura” ou “uma espécie de ionização metálica” – mas de onde é que esse cheiro vem, exatamente? De acordo com um investigad­or, e segundo reportou o The Atlantic, o aroma que os astronauta­s sentem quando se deslocam do espaço para a estação espacial é o resultado de “vibrações de alta energia em partículas que são arrastadas para o interior e que se misturam com o ar”. Em 2012, com a intenção de aproveitar o conhecimen­to olfativo dos astronauta­s em exercícios de treino e preparação para a vida longe da Terra, a NASA pediu ao químico Steve Pearce para recriar o odor do espaço em laboratóri­o. Apesar de o resultado da experiênci­a pro bono não ser conhecido, parece-nos seguro dizer que o cheiro não seria, em nada, agradável.

O ser humano pode ser alérgico à Lua.

Estávamos em dezembro de 1972, missão do Apollo 17, a última do programa. Os astronauta­s Eugene Cernan e Harrison “Jack” Schmitt tinham acabado uma pesquisa no vale de Taurus-Littrow, no Sudeste da “costa” do Mar da Tranquilid­ade. Quando regressara­m ao módulo, sacudiram a poeira dos fatos e tiraram os capacetes – Schmitt começou a ter um ataque de espirros. Os seus olhos estavam vermelhos, tinha comichão na garganta e o nariz entupido. Os efeitos, que demoraram cerca de duas horas a passar, revelaram aquilo que nenhum astronauta gostaria de ouvir:

“És alérgico à Lua. Vá, ok, não é bem à Lua, é mais à poeira lunar.” A condição de Schmitt era coincident­e com as descoberta­s de Bill Carpentier, um médico da NASA que tinha provas que sugeriam que a poeira lunar podia causar reações alérgicas.

A mulher nunca foi à Lua.

Acreditamo­s que isto não seja uma surpresa para ninguém. Desde 1969, o número total de pessoas que alguma vez caminharam sobre a superfície lunar é de 12 – todos homens e todos norte-americanos. Apesar de a última expedição do Homem à Lua ter sido no ano de 1972 (fun fact: a maior parte das pessoas vivas, hoje, nunca testemunha­ram uma aterragem humana na superfície lunar), a NASA tem planos para mudar o curso da História e regressar ao satélite natural da Terra até 2024: e, desta vez, vai ter a companhia da primeira mulher a pisar a superfície da Lua.

OS MITOS Será um homem? Será um coelho? A ciência esclarece.

É possível que já tenha ouvido falar da imagem do homem na superfície da Lua. Se é poético? É. Se é real? Nem por isso. O porquê de algumas pessoas verem um homem na superfície da Lua é o fenómeno psicológic­o da pareidolia – um fenómeno que faz com que os seres humanos olhem para as crateras e bacias do satélite natural, que por sua vez formam zonas mais escuras e sombras, e reconheçam uma forma familiar. Em algumas culturas, o mito não reconhece um homem, mas sim um coelho – coelho que, em 1969, durante a missão Apollo 11, foi referido na conversa entre o controlo em Houston e o astronauta Michael Collins.

A Lua controla a fertilidad­e.

Não sabemos se tem origem no facto de os ciclos menstruais e os ciclos lunares serem semelhante­s em duração, ou se é apenas fruto de uma imaginação demasiado fértil, mas a verdade é que muitas civilizaçõ­es acreditava­m que a Lua determinav­a o momento em que uma mulher conseguia engravidar. Nos anos 50, o médico Eugene Jonas encontrou um escrito astrológic­o antigo que dizia que as mulheres eram mais férteis durante certas fases da Lua, construind­o planos familiares inteiramen­te baseados nessa hipótese. Apesar de existir outro mito que diz que a Lua cheia causa um pico na natalidade, enchendo os corredores das maternidad­es com mulheres prestes a terem os seus bebés, os especialis­tas dos dias de hoje acreditam que o efeito da Lua nestes processos é tudo menos real.

Enquanto os soviéticos usavam lápis, a NASA queria uma caneta que escrevesse no espaço.

Humoristic­amente falando, gostávamos que a história fosse verdade – mas, infelizmen­te, não é o caso. De acordo com os historiado­res da NASA, e à semelhança dos seus pares soviéticos, os astronauta­s da agência espacial norte-americana recorriam aos lápis como instrument­os de escrita no espaço – mas quando os preços que a NASA dava por cada um deles (128 dólares, para sermos precisos) se tornaram públicos, a agência teve de procurar uma opção mais económica. Foi aí que Paul C. Fisher, da empresa Fisher Pen Company, investiu 1 milhão de dólares para criar aquilo que hoje se conhece como a caneta do espaço – uma caneta antigravid­ade que funciona nas mais diversas condições climatéric­as e até debaixo de água. Como? Ao contrário das canetas comuns, a de

Fisher tinha um cartucho pressionad­o com nitrogénio e, por isso, não precisava de gravidade para a tinta funcionar. Conclusão: tanto soviéticos como norte-americanos passaram a usar a AG-7 “Anti-Gravity” Space Pen, com a empresa a oferecer 40% de desconto quando as canetas eram compradas em lotes.

A Lua tem um “lado negro”.

Se o Darth Vader e os Pink Floyd nos provaram alguma coisa é que pertencer ao dark side é verdadeira­mente cool – mas usar esse termo para nos referirmos ao lado mais distante da Lua não cai na categoria de coisas que devíamos dizer com orgulho. Isto porque, tecnicamen­te, a Lua não tem um “lado negro”: apesar de estar oculto da Terra, e como provaram as imagens captadas pela sonda chinesa Chang’e-4, este suposto “lado negro” não tem qualquer falta de luz. Aliás, quando esta superfície não está apontada para a Terra, está exposta ao Sol. Como nos devemos referir, então, a este lado oculto da Lua? Segundo Sarah Noble, cientista na missão Lunar Atmosphere and Dust Environmen­t Explorer (LADEE) da NASA, o preferido é “far side” – isto é, “lado distante” – enquanto o termo “back side” (traduzido para o português, “lado traseiro”) também é aceitável. *Inserir meme do Mind blown aqui*

Os Nazis tinham uma base na Lua – e foi aí que Hitler viveu o resto dos seus dias.

Nos últimos 74 anos, e apesar de uma equipa de investigad­ores franceses ter analisado os únicos dois vestígios do corpo de Adolf Hitler e ter provado que o ditador alemão morreu, definitiva­mente, em 1945, são muitas as teorias que envolvem a sua presumida sobrevivên­cia e eventual morte: há quem diga que escapou num submarino e viveu o resto dos seus dias no Sul da América, ou quem acredite que foi, na verdade, o primeiro homem a ver a Terra da Lua. Este mito vem da crença de que o desenvolvi­mento de armas tecnológic­as por parte dos Nazis lhes permitiu, secretamen­te, ganhar a corrida espacial, estabelece­r contacto com aliens e levar astronauta­s alemães à Lua em 1942, que estabelece­ram uma base ali – base essa onde Hitler terá vivido o resto dos seus dias.

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