HÁ TEMPO PARA DEMORA
O homem dos mil projetos, Luís Fernandes, lançou o primeiro disco em nome próprio: Demora, uma faixa de 40 minutos, pensada para se ouvir num só take.
“Tínhamos todos uma paixão muito grande pela área da música eletrónica e instrumental e sentíamos, como consumidores, uma dificuldade em ver este tipo de espetáculos em Portugal.” Foi esta a premissa que lançou o festival Semibreve, que se mantém como um dos mais atrativos da Europa e que, no próximo ano, comemora uma década.
“Na altura, não havia nenhum festival dedicado à música eletrónica exploratória, o que, à partida, tornou o festival atrativo para muita gente (...) tendo em consideração que só conseguiríamos ter sucesso com essa aventura caso o cartaz fosse apelativo.” O convite, endereçado a quatro amigos ligados ao mundo da música – para além de Luís Fernandes, também António Rafael e Miguel Pedro (Mão Morta) e Tiago Sequeira foram chamados para pôr de pé o evento –, surgiu quando Braga se prepara
va para ser Capital Europeia da Juventude, em 2012 e, no ano anterior, foi-lhes sugerido que criassem de raiz um evento que seria prelúdio da comemoração.
No próximo ano, uma década de festival assinala o sucesso estabelecido que o Semibreve atingiu. Luís conta que, no ano passado, decidiram pôr à venda um lote de 100 bilhetes, antes de anunciarem o cartaz: “foi curioso porque em meia hora desapareceram, foram todos vendidos. Isso leva-nos a pensar que já há um público Semibreve, que nos segue afincadamente”.
Foi o Semibreve que lhe abriu a porta para ser programador a tempo inteiro do gnration, um espaço de criação, performance e exposição de arte e tecnologia. A par disso, concilia a curadoria e a programação com a atividade musical. É guitarrista dos peixe:avião, que atualmente estão em pausa, porque, tal como Luís, os restantes membros têm “múltiplos projetos em mãos”, mas nos últimos três anos, tem-se focado num projeto musical com a pianista Joana Gama (o primeiro que assinou sem alter egos).
“No meio disto tudo, vou acumulando algum material pessoal, componho música quase diariamente para libertar a cabeça e este ano decidi lançar um disco a solo e, pela primeira vez, com o meu próprio nome”. Fala de Demora, o projeto que estreou no fim de julho e que tem um conceito particular: é um bloco de música contínuo gravado de uma só vez.
São 40 minutos de disco, divididos em cinco partes, que “funcionam isoladamente, embora a big picture faça mais sentido quando se ouve o disco como um todo porque se percebe como é que a música evolui, que é o que torna o disco bonito, essa alteração, essa linguagem musical que não é tão óbvia”. Luís diz, entre risos, que se pudesse nos obrigaria a ouvi-lo em bloco.