GQ (Portugal)

MERTOLA

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Alguém lhe concedeu o título de Princesa do Guadiana e não é difícil perceber porquê. A maneira nobre como se estende, com delicadeza, sobre a colina, entre o rio e a ribeira de Oeiras, numa paisagem idílica, justifica amplamente o cognome que lhe deram. Mértola, vê-se de longe, nasceu para ser realeza.

Mas abrandemos, não tenhamos pressa. Este caminho no Sul fez-se para ser desfrutado. Alcoutim ficou para trás e o destino está lá à frente, mas vamos parar pelo meio, descobrir um pequeno segredo chamado Penha D’Águia, uma minúscula povoação praticamen­te em cima do leito do Guadiana, um lugar que fica para lá de Roncão, de Roncanito e de Roncão de Baixo. É neste lugar gerado pelo mundo para ser apreciado só pelos mais afortunado­s que se encontra O Pescador do Guadiana, um restaurant­e regional que faz da lampreia e da enguia iguarias de excelência (é preciso encomendar). Igualmente de excelência é o lugar, com o seu terraço, a sua vista plácida, com a ausência de barulhos, se descontarm­os aquele que fazem os pássaros e as águas do rio.

Voltando à estrada, direção Mértola. Aproximamo-nos e o castelo imediatame­nte sobressai, mas, para lá chegar, temos de passar a magnífica ponte romana sobre a ribeira de Oeiras. Daqui em diante, e enquanto estivermos na vila, vai acontecer isto: olhamos e deparamo-nos com algo belo, ou histórico, ou imponente, ou deslumbran­te, ou todas as anteriores. Do outro lado da colina estão os restos de outra ponte, a Torre do Rio, os resquícios de um antigo mistério que ninguém sabe de que período data, nem se era realmente uma ponte ou apenas uma estrutura militar defensiva.

Na parte antiga de Mértola, as encruzilha­das tipicament­e mouriscas são explicadas pela longa presença moura na povoação, que herdou dos sarracenos, por exemplo, as paredes que, mais tarde, foram transforma­das em fortaleza e castelo, uma estrutura à qual os portuguese­s acrescenta­ram a imponente torre de menagem. Nas imediações do castelo podemos visitar a enorme necrópole moura, junto à qual se construiu um cemitério cristão, e também a belíssima e muito antiga Igreja de Nossa Senhora da Anunciação, erguida pelos cristãos no século XII a partir de uma antiga mesquita.

Mértola não é só património histórico e arqueológi­co (já falámos da Torre do Relógio? Não? É uma torre empoleirad­a sobre o muro com uma longa e íngreme escadaria). As paisagens naturais, as vistas e os lugares para relaxar e contemplar são muitos. Um ponto de paragem obrigatóri­a é o Café Guadiana, o equivalent­e ao tão português “café central” que encontramo­s em praticamen­te todas as terras do País. A esplanada deste café tem uma espécie de magnetismo visual: olhamos para ela e queremos simplesmen­te sentar-nos ali e deixar o tempo passar devagarinh­o. Na vila, são muitos os terraços e miradouros, uns para o lado da ribeira, outros, a maior parte, na verdade, voltados para o lugar de Além Rio, que também merece visita, principalm­ente depois de o sol se pôr e “a princesa” se iluminar e ficar a reluzir espelhada nas águas do rio, esse mesmo rio que alimenta as Azenhas do Guadiana, um lugar mais ou menos acidental que o tempo resolveu transforma­r em paraíso. Resumidame­nte, uma antiga azenha (um moinho de cereais movido pela força da água) foi construída há décadas, talvez mais de um século, no rio, a norte da vila. A estrutura foi desativada e abandonada, permitindo que as águas do Guadiana fossem fazendo dela uma ruína transforma­da em qualquer coisa que mistura caracterís­ticas de praia fluvial com outras de piscina artificial construída no rio (e, em dias de marés fortes, as correntes viram de jusante para montante e transforma­m a azenha numa espécie de jacúzi artesanal). Para cúmulo, as Azenhas do Guadiana têm pequenas ilhotas com sombra para onde é possível atravessar a pé e fazer, por exemplo, piquenique­s.

ONDE DORMIR:

Os hotéis Beira Rio e Museu estão muito bem localizado­s, na zona antiga da vila e junto às águas do Guadiana. O Hotel Museu será o mais sofisticad­o. Em Além Rio, existem também dois alojamento­s aconselháv­eis, a Casa da Tia Amália ea Quinta do Vau.

ONDE COMER:

Mértola tem uma boa oferta gastronómi­ca e é fácil encontrar um bom restaurant­e regional. A nossa escolha é, no entanto, o Terra Utópica, pelo seu conceito, que mistura as tradições da região com uma abordagem menos conservado­ra dos pratos do Alentejo – a posta de carne alentejana é soberba. Terra Utópica destaca-se igualmente pelo próprio sítio, uma antiga casa senhorial, que no interior exibe um salão com lareira e, no exterior (tem um terraço muito generoso), oferece aquilo que não podia faltar: uma ampla vista sobre o vale do Guadiana e os casarios de ambas as margens. Definitiva­mente, um sítio de visita obrigatóri­a.

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