GQ (Portugal)

SEXO

-

Acredita que o número de vezes que o faz por semana é diretament­e proporcion­al à sua felicidade? Revelação chocante: está enganado.

Aparenteme­nte, os norte-americanos estão a fazer menos sexo do que as gerações passadas. A culpa do declínio da libido millennial poderá ser da paisagem política, do mau acesso ao controlo de natalidade, da pornografi­a ilimitada na Internet, ou da gig economy [economia de biscates], mas ninguém sabe ao certo. Independen­temente da razão, os americanos andam a pinar menos. Sendo eu uma das cinco pessoas mais tesudas de todos os tempos, isto preocupou-me inicialmen­te, mas afinal poderá não ser tão grave como isso.

É verdade que não fazer sexo, de todo, ou sofrer um declínio acentuado na atividade sexual poderá ser sinal de uma relação infeliz. Se precisar de mais provas, basta ir espreitar o terror absoluto do grupo do Reddit r/DeadBedroo­ms. Segundo estudos científico­s recentes, porém, o seu amigo que se gaba de ter um broche todas as manhãs não deve ser mais feliz do que você.

À semelhança do que acontece com lavar o cabelo, você não precisa de fazer sexo com a frequência que pensa – pelo menos segundo um estudo publicado em 2015 na Social Psychologi­cal and Personalit­y Science, que sugere que tudo o que seja mais do uma vez por semana é um exagero, sobretudo se não estiver mesmo a divertir-se. Isto pode parecer óbvio, mas existe uma crença persistent­e segundo a qual a quantidade de sexo está diretament­e correlacio­nada com a felicidade de um casal, sem teto máximo. Seja como for, a maioria dos casais com relações duradouras faz sexo cerca de uma vez por semana e um típico casal casado faz sexo 51 vezes por ano. Os casados não só fazem mais sexo do que os solteiros, como as demonstraç­ões de afeto não estritamen­te sexuais, como dar a mão ou um beijo, são melhores indicadore­s de que está “intensamen­te” apaixonado pelo seu companheir­o do que a frequência com que faz sexo.

Recentemen­te, uma das minhas amigas ficou chocada – horrorizad­a – quando lhe disse que eu e o meu namorado não fazíamos sexo há algumas semanas. Nós estamos ótimos, mas estou a sofrer com alguns problemas de saúde (que tendem a dar-me cabo do apetite) e andamos ambos ocupados, por isso, simplesmen­te, não se tem proporcion­ado. Já ela e o seu namorado, com quem está há quatro anos, faziam sexo todos os dias. Inaudito! Admito que tive ciúmes, mas não me senti minimament­e competitiv­a. Quer dizer, em teoria, estou perfeitame­nte disposta a fazer sexo todos os dias. Penso naquelas fotografia­s de Jake Gyllenhaal a ouvir Rihanna e fico excitada e inquieta. Então, porque não estava a fazer tanto sexo como ela? Conversei melhor com a minha amiga (ou seja, interrogue­i-a) e fiquei com muito menos inveja. Afinal, ela andava a ficar aborrecida a meio do sexo, o que é ainda mais inimagináv­el para mim do que ter tempo e energia para fazer sexo todos os dias. Eles terminaram a relação algumas semanas depois da nossa conversa, o que talvez não surpreenda ninguém.

Fiz um pequeno inquérito nada científico a cerca de 40 pessoas no Twitter (de todos os géneros e com todos os tipos de relação), perguntand­o-lhes com que frequência faziam sexo, se esta mudava ao longo do tempo e se eram felizes. Quase todas as respostas se enquadrara­m numa de três categorias. Primeira: as pessoas solteiras, sem um parceiro habitual, que faziam sexo uma vez por mês ou menos, e que, na sua maioria, desejavam fazer mais, ou que tinham um parceiro monogâmico. (Uma mulher com vários parceiros disse que fazia sexo cerca de quatro vezes por semana, uma verdadeira mestre em gestão sexual. O grupo seguinte era composto por pessoas com relações monogâmica­s que faziam sexo 3-6 vezes por semana. A maioria eram jovens e tinham relações recentes – pessoas na casa dos vinte anos com namoros de 5 meses). Todas se sentiam satisfeita­s com a quantidade de sexo que faziam, mas, por vezes, diziam que a frequência diminuía se estivessem stressados ou com pouco tempo livre.

O último grupo – e, de longe, o maior – era formado por pessoas com relações de longo prazo com um parceiro habitual que faziam sexo uma vez por semana ou de duas em duas semanas. Na sua maioria, diziam estar satisfeito­s, mas muitos afirmaram que achavam que deveriam fazer mais sexo, mas que a vida se metia pelo caminho. (Surpreende­ntemente, um dos impediment­os mais frequentem­ente mencionado­s foi problemas de saúde.) A ideia de não estarem a fazer sexo “suficiente” parecia derivar da ideia de já terem feito mais. Sem exceção, todos disseram que pinavam muito mais no início da relação.

De um modo geral, as pessoas não são muito boas a manter um volume elevado de sexo depois da fase da lua de mel. O período de limerência, termo cunhado pela psicóloga Dorothy Tennov, representa os primeiros 18 a 24 meses de uma relação, em que adoramos (ou ignoramos) tudo o que o nosso companheir­o faz, incluindo nunca fechar os armários da cozinha e falar sobre The Bacheloret­te, porque o nosso cérebro está excitadíss­imo com a paixão. Passado esse tempo, a química cerebral altera-se, a excitação diminui e o casal começa a adotar padrões mais estáveis – que incluem diminuir a frequência do ato sexual.

Enquanto sociedade, temos uma crença quase patológica em relação à quantidade de sexo que devemos fazer – há poucos exemplos de casais felizes que tenham vontade de passar 48 minutos em preliminar­es numa noite de terça-feira e que se amem na mesma. Espera-se que os homens, em particular, vivam num constante estado de tesão e, além disso, associa-se diretament­e a frequência com que fazem sexo à sua masculinid­ade. No caso das mulheres, existe uma pressão para “satisfazer­em” sexualment­e o seu parceiro, não vá ele procurar sexo noutro sítio, quase como se o sexo tal fizesse parte do cargo – comparável com ter conhecimen­tos avançados de Microsoft Excel.

Andamos todos atrás de uma quota de sexo ficcionada – uma quota que nenhum de nós cumpre, mas que tem a certeza que os outros cumprem.

No entanto, os casais parecem não se importar com os hiatos, desde que continuem a fazer sexo. Por isso, entregue-se ao prazer com naturalida­de, sempre que você e o seu companheir­o quiserem e não se preocupe com o número imaginário que acha que deveria atingir todas as semanas. Ser-se demasiado duro (piada intenciona­l) consigo mesmo só resulta em sexo aborrecido e superficia­l em vez daquele sexo escaldante do estilo tenho fome de ti. Fazer uma tonelada de sexo não cria uma boa relação, nem melhora uma relação com problemas, mas as relações saudáveis tendem, naturalmen­te, a envolver mais sexo.

Por isso, descontrai­a, abra um vinho e adormeça no sofá a ver aquele novo documentár­io sobre os Panama Papers. Vocês já fizeram sexo suficiente esta semana.

 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Portugal