GQ (Portugal)

BERINGELA FÁLICA

- PELO BURACO DA FECHADURA LUÍS PEDRO NUNES

Por vezes esbarras num título como se desses uma cabeçada no poste. É uma marrada, e ficas assim sem perceber a cena: “Estudo – enviar emojis ligado a conseguir mais sexo.” Isto numa publicação respeitáve­l em termos científico­s. Nesta curta frase estavam conjugados dois mistérios que têm atormentad­o a Humanidade (eu). Uma, desde sempre: o que leva uns a “safarem-se” nos amores carnais e outros a ficar a chuchar no dedo. E outro enigma recente: porque é que tendo chegado a um estádio de desenvolvi­mento tão sofisticad­o em que ainda mal conseguem perceber a complexida­de de Shakespear­e, os humanos decidiram regredir para um estádio de quase pré-linguagem e comunicar com bonecagem. Questão científica: “Porque é que o fdp que usa emojis saca mais?”

Odeio emojis. Odeio. Desde o seu aparecimen­to. Nunca soube lidar com aquilo. Acho aquela porcaria uma falsidade. Enquanto foram miúdos a usá-los, tudo bem. Mas um dia, há meia dúzia de anos, tipos adultos, velhadas, fulanos por quem tinha consideraç­ão mandaram-me o primeiro emoji de língua de fora no fim de uma frase. Fiquei perplexo. Que merda era aquela? Não me vou alongar. Não vou destilar aqui como se chegou ao ponto que o problema não é a utilização do emoji mas a falta dele. Se escrevo uma mensagem irónica sei que me arrisco a ser mal interpreta­do porque não tenho no final um emoji a alertar que “é ironia”. E que esse interlocut­or poderá pensar lá no seu inconscien­te: “Bom isto pode ser ironia... mas, se fosse, teria um emoji.” É como se o boneco amarelo fosse a banda sonora que dá o tom emocional à palavra escrita. É uma forma de suicidar a linguagem escrita: exige um acessório que dá o mood. Mas este é apenas um exemplo soft.

Uso? Agora vou usando. No gerúndio. Quando estou sem pachorra. Quando tenho 40 mensagens no Instagram para responder. Escolho dois bonecos que deem para tudo (amarelo com óculos escuros + mãos cool) e siga para todos. É bonito? Não. Resolve? Uhá.

E chegamos ao sexo do primeiro quartel do século 21. Aquilo que antes era a “lábia” – ou seja, a capacidade de um fulano ter em “dar a volta” para usar expressões de um tempo antigo e perdido – foi hoje substituíd­a por mensagens de texting. Ou sexting. E aqui entram os emojis. E, não estranhame­nte, a coisa está estudada.

O tal estudo constata que respostas mais curtas e com emojis têm uma taxa de resposta maior (Kinsey Institute, Indiana University). O uso de emojis está relacionad­o com mais sucesso sexual. Como? Pode ser porque as pessoas que usam emojis sejam emocionalm­ente mais expressiva­s, emocionalm­ente mais inteligent­es. Yeah, right. O que está relacionad­o com relações mais satisfatór­ias. Dizem os homens da bata branca. E porque as mensagens com emojis substituem a linguagem corporal, dão o tom, preenchem informação emocional que não está lá. Um violador que envie um coração e um boneco a piscar é capaz de parecer queriducho. Sei lá.

Mas alertam – “é essencial não exagerar”. Isto reflete a vida emocional. Quando se é logo demasiado intenso acaba por não resultar. Na vida digital é o mesmo. E dão uma listinha de emojis a que as mulheres reagem positivame­nte como “olhos com coração”, “cara de fome”, “macaco que não vê”, “diabo feliz”, “língua de fora”. Emojis que as mulheres não respondem... “beringela fálica”, “bater palmas”, “bíceps”, “fist bump”. (Já agora, na lista de emojis que os homens não respondem, está à cabeça “anel de noivado”.)

O que é que se me apraz dizer sobre tudo isto? Olha que bom pra quem anda por aí a fazer pela vida. Eu, no meu tempo de doidivanas, passava noites sem fim nessas discotecas a fazer figura de urso 99% das vezes. O Cyrano de Bergerac teve de arranjar um duplo de cara para declamar a sua prosápia ao alpendre. O Júlio Iglésias disse agora que teve 3.000 namoradas, coitado, e está com a cara mais curtida que um pedaço de coiro marroquino esquecido no verão de Ibiza e anda a fugir dos filhos que deitou ao mundo. E agora, pelo que percebo, só é preciso tirar uma selfie com bom ângulo, debitar frases curtas e não mandar uma berrata no final da graçola. Não está mal. E se isto for verdade até é uma bela evolução. Agora se eu fosse um gajo modernaço enchia o texto de emojis para isto ficar assim muita giro. Mas pqp quero que vocês se lixem. Não cedo. Até novembro.

ODEIO EMOJIS. ODEIO.

DESDE O SEU APARECIMEN­TO. NUNCA SOUBE LIDAR COM AQUILO

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