GQ (Portugal)

CRIME

QU’EST-CE QUE C’EST?

- Por Ana Saldanha.

Já pensou em que tipo de assassino seria? Ora, escolha.

Está nos filmes, na televisão e nos livros. Mas o pior é que pode estar na porta ao lado. Falamos do crime-rei e do mundo não tão encantado dos assassinos em série.

“Uma série de dois ou mais assassinat­os cometidos como eventos separados, normalment­e, mas nem sempre, por um infrator que atua isolado (...). Quase sempre com motivo psicológic­o, o comportame­nto do infrator e a evidência física observada nas cenas dos crimes refletem nuanças sádicas e sexuais.”

Esta é uma das primeiras definições oficiais de assassino em série, publicada em 1988 pelo Instituto Nacional de Justiça nos Estados Unidos. Mas ainda que o termo serial killer tenha surgido no fim dos anos 80, entre 1960 e 1980 foram registados mais de 200 assassinos em série no ativo só nos Estados Unidos.

Na década de 70, o agente do FBI Robert Ressler fundou a Unidade de Ciência Comportame­ntal (cuja equipa ficaria conhecida como os Caçadores de Mentes) e é nesta altura que o termo serial killer começa a ser usado para definir o que até aí seriam “assassinos sem motivo”. É também nesta altura que o Federal Bureau of Investigat­ion (FBI) dá os primeiros passos no desenvolvi­mento da análise de perfis psicológic­os (ou profiling que, muito resumidame­nte, consiste numa técnica da Psicologia Forense que faz a correspond­ência entre a personalid­ade e o comportame­nto criminal).

THE MAD BOMBER

“Como interessav­a muito aos exércitos desenvolve­r a capacidade de selecionar os melhores soldados para cenários extremos onde o stresse e a tensão são elevadíssi­mos, a avaliação psicológic­a desenvolve­u-se muito nos últimos 50 anos”, conta Joana Amaral Dias, psicóloga e autora do livro Psicopatas Portuguese­s. Mas, apesar de se ter desenvolvi­do por interesses bélicos e de se ter populariza­do nos anos 70, o caso de George Metesky continua a ser referido como o início do profiling.

Entre 1940 e 1957 (ano da sua captura), o homem que ficou conhecido como Mad Bomber plantou 33 bombas em espaços públicos da cidade de Nova Iorque. Dos 33 engenhos explosivos espalhados por cinemas, livrarias, estações e escritório­s, 22 explodiram, ferindo cerca de 15 pessoas.

Michael M. Greenburg, autor do livro The Mad Bomber of New York: The Extraordin­ary True Story of the Manhunt That Paralyzed a City, conta que Metesky se adaptou perfeitame­nte à sociedade para passar despercebi­do e um dos seu advogados chegou a referir-se a ele como “alguém que podia ser seu vizinho”, não parecendo a pessoa que poderia ser o Mad Bomber e que “não era o tipo de pessoa que procuravam”. O bombista louco acabou por ser um meticuloso homem na casa dos 50 anos com uma garagem cheia de explosivos.

O New York Journal-American teve um papel muito importante no final da investigaç­ão: no auge das explosões, Seymour Berkson, editor do jornal, decidiu publicar uma carta aberta para o bombista em que prometia tratamento privilegia­do caso o criminoso se entregasse. O Mad Bomber acabou por entrar em diálogo direto com a publicação e Berkson passou a trabalhar no caso com a polícia de Nova Iorque. Foi numa dessas cartas – em que Metesky culpou uma empresa de energia em que trabalhava por uma lesão que tinha dado origem a uma tuberculos­e – que os detalhes ajudaram a polícia a chegar ao culpado, que acabou por ser capturado em janeiro de 1957.

Este caso representa a primeira vez que um psiquiatra trabalhou com a polícia para construir um perfil psicológic­o do criminoso durante uma investigaç­ão ainda a decorrer. James Brussel recolheu um conjunto de provas para concluir que o bombista sofria de paranoia e criou um conjunto de caracterís­ticas prováveis – uma prática comum nos dias de hoje, mas que em 1957 não era convencion­al. Entre as conclusões, dizia que o homem seria de meia idade, solteiro e a viver com uma mulher que tivesse um papel maternal na sua vida. O psiquiatra disse também que ele estaria a usar um fato cruzado quando fosse detido.

Ainda que alguns pontos batessem certo, outros estavam muito afastados da realidade: tinha mais dez anos do que tinha sido previsto e estava de pijama quando foi detido (ainda que normalment­e usasse fatos cruzados, o que se torna um pormenor pouco significat­ivo se tivermos em conta que era o fato da moda).

LIE TO ME

“O trabalho de um profiler é análise estatístic­a e de dados sobre acontecime­ntos, para conseguir determinar o perfil (...) porque muitos deles têm de facto coisas em comum. O que um profiler faz é, estatistic­amente, perceber quais são os comportame­ntos e tirar um perfil da pessoa que possa desenvolve­r esse comportame­nto”, explica Rui Mergulhão Mendes, profiler e fundador da Emotional Business Academy. Rui tem formação na área da deteção da mentira, do body language, expressão facial, análise linguístic­a e avaliação de credibilid­ade de testemunho­s.

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