NASCIDOS DA PREGUIÇA
Longe vão os tempos em que uma grande obra cinematográfica se reunia em volumes, habitualmente trilogias, como
O Padrinho ou A Guerra das Estrelas, nos seus três tomos originais. Nos dias que correm, uma boa ideia pode fazer render mais de uma ou duas décadas de bilheteiras. Num tempo em que as sequelas, as prequelas, os remakes, os spin-offs e as adaptações tomaram de assalto os grandes ecrãs e as novas plataformas digitais, deixando um espaço cada vez menor para as obras originais, aproveitamos para assinalar algumas das mais desgastantes, aborrecidas, bem-sucedidas, ou até criativas (dentro do género) genealogias de mais do mesmo para consumo massivo e altamente
lucrativo diante de um ecrã, qualquer que seja a sua dimensão.
FAST AND FURIOUS (€5.304 M)
Ligaram a ignição em 2001 e, desde então, não pararam de acelerar.
São dez, no total, os filmes ligados à premissa inicial, mantendo-se algum do elenco nuclear – e ainda se juntaram umas quantas estrelas, entretanto (oportunidades não faltaram, na verdade). Homens duros com queda para o tuning, para as acrobacias rodoviárias e para se meterem em problemas são o centro da mesma história há quase 20 anos. Há quem diga que o 11.º da ninhada vem a caminho – em vez de homens duros, tem mulheres, mas o enredo deverá ser o mesmo de sempre.
É um dos franchises cinematográficos mais rentáveis da história.
DIE HARD
(€1.290 M)
Quando, em 1988, se estreou Assalto ao Arranha-Céus, ninguém esperava que John McClane (Bruce Willis) conseguisse dar conta de um bando de terroristas armados até aos dentes que, como os mais vulgares bandidos, afinal só buscavam o mais elementar: dinheiro. A verdade é que McClane não só sobreviveu a esses bandidos como, ao longo dos anos, despachou uma enorme quantidade de outros meliantes.
ALIEN (€1.353 M)
Quando Ridley Scott lançou, em 1979, no espaço a nave Nostromo, levando a bordo Sigourney Weaver no papel da tenente Ripley, era de prever que a história pudesse ter pano para mangas. Sendo assim, não espantou que chegasse o
segundo capítulo da saga, com assinatura de James Cameron – que conseguiu a proeza de manter o nível e a intensidade do filme original. A terceira parte da história, com David Fincher aos comandos, já teve o doce aroma do xarope e criou sérias reservas acerca do quarto episódio, reservas
que se revelaram plenamente justificadas pelo desastre realizado por Jean-Pierre Jeunet. O mais surpreendente é que ainda havia mais para vir. É certo que o bicho alienígena era duro de roer, mas nada fazia prever a existência de duas prequelas (e fala-se em mais uma) e dois crossovers com, imagine-se, o Predador (mais uma linha de montagem
de enchidos cinematográficos, diga-se).
JURASSIC PARK
(€4.512 M)
O realizador Steven Spielberg teve, em 1993, a ideia audaz de ressuscitar dinossauros a partir do ADN destes gigantes desaparecidos que estava armazenado em mosquitos fossilizados. Rebuscado? 26 anos e cinco filmes mais tarde, dir-se-ia que Spielberg deu vida ao pterodáctilo dos ovos de ouro: Jurassic Park é uma das franquias mais bem-sucedidas da história do cinema – e a que gerou, em média, maiores receitas por cada capítulo.
ANIMAÇÃO REQUENTADA
Procuremos a analogia perfeita para o que sucede nestes casos. Pegar num prato pronto e levar ao forno? Em
O Rei Leão, tal como em O Livro da Selva, não parece ser esse o caso. Ao invés, suspeitamos de que se trata de confecionar novamente o mesmo prato, sem grandes alterações, utilizando apenas ingredientes mais frescos
– em ambos os casos, os recursos tecnológicos parecem ser a nota que atrai para a novidade, muito mais do que uma proposta de releitura das histórias. De uma forma diferente, também Madagáscar e Toy Story apresentam as suas receitas infalíveis para gerar lucros, nomeadamente não acabando nunca. Parecem ser sagas que vão durar, como diria Buzz Lightyear, “até ao infinito e mais além”.
CANTINHO DA BD
Se há receita para a rentabilidade imediata em bilheteira – e não só, porque depois vem o merchandise e todo um universo de produtos envolvente ou anexo – é a da adaptação dos comics ao cinema. O que dantes acontecia pontualmente – um filme do Batman aqui, outro do Super-Homem acolá – tornou-se prática comum nos anos mais recentes. Os resultados, financeiramente falando, justificam as opções de produtores e distribuidores, por mais que, em termos de novidade, as criações surjam com fórmulas cada vez mais repetitivas. Neste universo da BD, há uma diferença entre as duas gigantes criativas, Marvel e DC Comics. Embora a DC apresente um aumento drástico do número de filmes – durante toda a segunda metade do século XX, produziram-se 15 filmes com base nas personagens da DC Comics (de entre os quais, seis “Super-Homens” e quatro “Batmans”); desde 2000, chegaram aos cinemas 17 e há mais dois a caminho –, é a Marvel quem mais baralha para voltar a dar, recorrendo constantemente a spin-offs, sequelas e crossovers entre personagens, ambientes e
equipas. Basta pensar em Os Vingadores e todas as personagens que daí derivam ou aí desaguam com filmes em nomes próprios, ou ainda nos Guardiões da Galáxia, já para não falar nas intermináveis sagas de Homem de Ferro e de Homem Aranha. Para além de todos estes, numa espécie de canal paralelo da Marvel, surgem ainda os X-Men com oito filmes, mais os dois que existem em torno ou
a partir de Wolverine e ainda o surpreendente e hilariante acrescento de Deadpool, literalmente um subproduto dos X-Men.