GQ (Portugal)

ENTREVISTA

Seis anos depois de os fãs se despedirem da série, El Camino: A Breaking Bad Movie vem explicar o que aconteceu a Jesse Pinkman. Em conversa com Aaron Paul, perguntámo­s tudo o que ficou para lá do ecrã. Com spoilers.

- Por Ana Saldanha, em Londres.

Depois de seis anos de espera, fomos de Breaking Bad a El Camino em 15 minutos.

No decorrer de Breaking Bad, Jesse Pinkman viu a vida virada ao contrário depois de se juntar ao seu ex-professor de Química para montar um negócio de fabrico e tráfico de metanfetam­inas. Torna-se toxicodepe­ndente, assassino e acaba preso em cativeiro.

A última vez que o vimos, atrás do volante do seu Chevrolet El Camino, o seu destino era incerto e o capítulo de Jesse teve um fim que não pareceu a conclusão de nada. E o seu desfecho foi esse, pelo menos durante os seis anos que separaram o último episódio de Breaking Bad e a estreia-surpresa de El Camino e que serviram para cozinhar um fim para Jesse Pinkman.

O filme esteve sob um manto de invisibili­dade – e não só – até a estreia ser anunciada, com data marcada para a meia-noite (fuso horário do Pacífico) de dia 11 de outubro, na plataforma de streaming Netflix. Os fãs, um grupo bastante paciente que aguardou seis anos para que lhe fosse feita a vontade, receberam de braços abertos a terceira obra de Vince Gilligan e a GQ falou com o ator Aaron Paul para saber como foi vestir a pele de Jesse e voltar a encontrar velhos amigos.

Como foi regressar ao Jesse depois de tantos anos? Foi fantástico! Foi revisitar um velho amigo. E eu adoro-o, sabes? Ele está a tentar safar-se e estar, finalmente, livre e em paz… E foi como se não tivesse passado tempo nenhum. A primeira vez que li o guião percebi logo como é que ia representa­r cada mudança emocional, porque conheço a personagem muito bem.

Achas que isto foi um adeus? Bem… Penso que sim. Mas também já tinha pensado isso antes [risos]. Mas acho que sim. Acho que o propósito do filme é mesmo dar-lhe um final decente.

Pensas no que ele estará a fazer no Alasca? Por acaso penso muito nisso, porque quando Breaking Bad acabou, construí uma ideia do que teria acontecido ao Jesse. Quando me perguntava­m eu dizia que ele provavelme­nte estaria escondido numa pequena cidade no Alasca, se calhar abriu uma loja de artesanato para voltar a construir coisas com as mãos. Mas sempre de cabeça baixa porque as pessoas estão à procura dele por ter feito coisas terríveis e vai ser um caminho com muitos obstáculos. Mas acho que ele está na direção certa.

O que achas que ele sente em relação ao Walt (Walter White) depois do que se passou no El Camino? Bem… Ele despreza-o. O Walt virou a vida do Jesse ao contrário desde o momento em que o conheceu. Por causa do Walt, ele tornou-se um assassino, as pessoas à volta dele começaram a morrer. O Walt desiludiu-o muito e ele está muito desapontad­o e zangado.

Mas ficamos com a impressão de que ele acaba por fazer as pazes com o Walt no flashback… Eu não sei se foram pazes… Mas aquela cena com o Walt é muito bonita e reveladora e acaba por mostrar quem ele realmente é, sabes? Especialme­nte quando ele diz ao Jesse “tens tanta sorte por não teres demorado a vida toda para fazer uma coisa especial” e está a falar de cozinhar metanfetam­inas e isso é… um bocado horrível.

El Camino foi filmado em sigilo total, especialme­nte durante o fim de semana em que o Bryan lá estava, diz-se que foi uma loucura, sobretudo porque ele estava a fazer uma peça. Sim, ele estava a fazer uma peça que teve de fechar por um dia. Acho que a Netflix comprou todos os bilhetes para essa sessão – pelo menos é esse o rumor [risos]. E depois trouxeram o Bryan num avião privado para termos a certeza de que ninguém fazia perguntas. Foi tudo filmado em segredo, até tínhamos de usar uns mantos quando íamos para o set – que eu sempre achei que chamava mais a atenção, mas aparenteme­nte funcionou! [Risos.]

E foi filmado em Albuquerqu­e (Novo México), certo? E ninguém viu nada? É assim… As pessoas iam ter comigo aos fins de semana – porque durante a semana eu estava a trabalhar e depois do trabalho só queria estar em casa sossegado com a minha bebé. Mas aos fins de semana eu saía com a minha família e não podia estar com ninguém do elenco fora do trabalho porque tudo levantava suspeitas. E quando me perguntava­m o que eu andava a fazer eu não mentia, dizia que estava a fazer um projeto pelo qual estava apaixonado… atirava para lá a palavra “indie” [risos], um projeto indie pelo qual estava apaixonado e diziam: “Oh, ok, boa sorte com isso!” Outros perguntava­m se eu estava a gravar um episódio de Better Call Saul e eu dizia que não, que eles estavam em pausa e que até estávamos a usar uma parte da equipa deles (e estávamos), mas ninguém duvidou de nada.

E achas que o Skinny Pete e o Badger também tiveram um final feliz? Olha… Acho que sim. Porque eles foram sempre tão bons amigos...

Só devem ficar sob vigilância policial durante algum tempo… Ah, sim, de certeza. Porque estamos a falar na maior rede de metanfetam­inas da história e eles, de alguma forma, estão ligados a ela e vão estar a ser vigiados. Mas são bons rapazes.

Se fosses amigo do Jesse Pinkman, que conselho lhe darias no início dos eventos de Breaking Bad e agora no final de El Camino? Não uses drogas! [Risos.] E… boa sorte.

Disseste em entrevista­s que há três horas de cenas cortadas. Tens alguma cena favorita ou uma que gostarias que tivesse ficado? Tenho, sim. Ainda tiraram um grande bocado em que… Eu não quero contar muito porque tenho esperança que um dia possa sair uma versão estendida. Mas existe um final alternativ­o, há um grande pedaço que saiu, depois de (o Jesse) sair da Kandy Welding Co., que eu gostaria que tivesse ficado. E uma parte estava relacionad­a com o Robert Forster… E acho que o mundo ia adorar vê-lo.

Quão importante foi o Bryan para a tua carreira? Vocês tinham uma relação quase de pai e filho, certo? E quando a série começou ele era uma espécie de mentor… Ele ainda é um mentor e eu adoro aquele homem. Nós tornámo-nos muito próximos logo desde o primeiro episódio... E, anos mais tarde, temos negócios juntos, começámos a produzir Mezcal há uns anos e agora foi finalmente lançado. E eu falo com ele quase todos os dias.

Houve um certo nível de frustração entre os teus fãs quando vocês anunciaram o Mezcal, porque pensavam que era um filme que estava para vir. Sentiste algum gozo por saber que, de facto, vinha aí um filme? Eu achei muita piada porque houve muitas pessoas que ficaram muito chateadas. E eu nunca disse que aquilo tinha a ver com um filme. Eu publicava fotos de… primeiro de uns burros – e nunca há burros em Breaking Bad; a segunda foto era comigo e com o Bryan, não como Walt e Jesse, a andar no México – sem as tatuagens do Jesse e, obviamente, o Bryan está vivo e de boa saúde, não é o Heisenberg e não está morto… Os fãs estavam só a tentar agarrar-se ao facto de quererem muito que existisse um filme.

Muitos pensaram que os burros eram correios de droga... Exato, estavam a agarrar-se a tudo. Mas quando anunciámos o Mezcal, muitas pessoas ficaram mesmo felizes, mas muitas ficaram frustradas, diziam que eu devia ter vergonha e que lhes tinha mentido. Mas na verdade não, eles mentiram-se a si próprios. E como eu sabia que o filme ia sair, também sabia que todo este drama e frustração era sem razão.

Breaking Bad tem tantas mensagens escondidas ao longo da série... Como é que sabem quando parar e não fazer um filme sobre a vida do Todd ou sobre o Skinny Pete sob vigilância? [Risos] Não sei… Existe todo um universo de Breaking Bad e era possível fazer mais uma série ou outro filme que se passasse nesse universo e que não tivesse nada a ver com estas personagen­s. Tal como no universo Marvel, há personagen­s completame­nte diferentes, com vidas e temas completame­nte diferentes. Terias de perguntar ao Vince, o nosso líder destemido [risos]. O que ele fez com Breaking Bad foi brilhante e depois Better Call Saul e agora El Camino também… Mas quem sabe, não é?

Se o Vince quisesse fazer uma série spin-off, talvez daqui a seis anos, sobre a vida do Jesse. Alinharias? Bem… eu seguiria o Vince para qualquer lado, sabes? Ele é um contador de histórias incrível e eu confio-lhe a minha vida. Mas não vejo isso a acontecer… Acho que foi uma história cheia de altos e baixos mas que está terminada. Porém, se ele me ligasse a dizer “Olha, tenho aqui uma ideia… passa-se no Alasca” [risos], eu diria: “Vince, continua a falar, tens a minha atenção.” Porque ele nunca conta uma história só por contar, há sempre uma razão. Por isso sim, eu segui-lo-ia para o Alasca, sem dúvida.

“A PRIMEIRA VEZ QUE LI O GUIÃO PERCEBI LOGO COMO É QUE IA REPRESENTA­R CADA MUDANÇA EMOCIONAL, PORQUE CONHEÇO A PERSONAGEM MUITO BEM”

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