AINDA “UM CANTINHO DE CÉU E O REDENTOR”?
Seria impossível falar com Toquinho sem falar do Brasil. Com 73 anos, viveu distintos momentos políticos e compôs canções que são autênticos retratos de época. Como é que, hoje, o músico olha para o seu país? “O Brasil é de uma potência enorme, é um país que tem tudo, riquíssimo. Só que existem políticos terríveis no Brasil e o que foi acontecendo de anos para cá foi uma corrupção monstruosa, a maior corrupção do planeta. Tanto é que o Lula é um Presidente preso.”
Em termos políticos, Toquinho é quase uma exceção entre a sua geração: é apoiante do governo de Bolsonaro – Presidente que, três meses após ter tomado posse, autorizou o Ministério da Defesa a comemorar os 55 anos do golpe que deu início à ditadura militar no país, o regime político repressivo a que Toquinho se refere múltiplas vezes ao longo desta entrevista. Mas, apesar de se dizer apoiante do governo de extrema-direita, o artista atribui as culpas do fenómeno da polarização ao Partido dos Trabalhadores (PT): “O Bolsonaro foi uma cria do
PT. Essa extrema-direita só conseguiu subir no poder porque a esquerda foi muito ruim. O PT falava ‘nós e eles’, ‘quem não estiver com a gente é inimigo’. Isso o Lula sempre falou. Agora quando veio a possibilidade de a extrema-direita entrar no poder, a polarização aumentou ainda mais. Porque o ‘eles’ realmente ficou contra o ‘nós’.”
Por outro lado, quando afloramos as polémicas declarações de Bolsonaro e os preconceitos subjacentes, Toquinho distancia-se. “Eu não concordo com as declarações de Bolsonaro, não. O que eu concordo é com o caminho que ele está tentando dar ao Brasil, político e de honestidade. Votaria nele de novo por esses motivos. Agora em termos de negro, homossexual, mulher... O que ele fala é uma grande bobagem. Felizmente, são só palavras e não são atitudes.”
Mas as palavras não podem ser perigosas? Admite brevemente que sim, mas contorna a questão: “O que eu acho mais importante no Governo do Bolsonaro, é essa conduta rígida que ele está tendo contra a corrupção. Se não fosse um homem radical hoje no Brasil, eu acho que não mudaria nada.” No geral, o artista diz-se otimista em relação ao futuro do país. “Estamos numa fase de muito conflito, mas eu acho que o caminho radical desses quatro anos é necessário”, conclui.