GQ (Portugal)

JOSÉ ENRIQUE OLIVERT IBÁÑEZ

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Idade: 54 anos

Local de residência: Matalascañ­as Situação: Encontrou a família biológica

Músico com 54 anos de idade, José Enrique Olivert Ibáñez vive na cidade de Matalascañ­as, situada junto ao mar, no Sul de Espanha, a mais de mil quilómetro­s de distância da família biológica que encontrou em 2012.

Nascido no fim de maio de 1965 num hospital em Bilbau, foi separado da mãe poucos dias depois, quando uma freira descobriu que ela e o pai de José Enrique não eram casados. A mulher foi mandada embora do hospital sob falsos pretextos e foi perseguida quando voltou para ver o seu filho. Frustrada, desistiu passados alguns dias. Ninguém nunca lhe disse se o bebé tinha morrido ou não.

O bebé foi transferid­o para um orfanato e veio a ser adotado por um casal do Sul de Espanha, que achava que a adoção era legal. Mostraram duas crianças à mãe adotiva e perguntara­m-lhe: “Qual quer?” Ela escolheu o mais parecido com o seu marido, mas o episódio e a insinuação de tráfico desavergon­hado marcaram-na para sempre.

José Enrique cresceu sabendo que era adotado, mas começou a duvidar das suas origens quando o escândalo dos niños robados se tornou público. A sua certidão de batismo – preenchida no dia do seu nascimento – tem o nome dos pais adotivos. “No entanto, de acordo com a documentaç­ão, só lhes fui entregue dois meses depois”, explica.

Foram necessário­s dois anos de pesquisa meticulosa e algumas coincidênc­ias felizes para José Enrique conseguir, finalmente, descobrir os seus pais biológicos – 47 anos após o seu nascimento. “Lembro-me de sair do carro e de ver a minha mãe escondida atrás de uma coluna, cheia de medo”, recorda. “Eu caminhei em direção a ela e disse-lhe: ‘Tenho estado à sua procura durante todos estes anos. Não vai dar-me um beijo?’” A mulher desfez-se em lágrimas, toldada pela emoção. Nesse mesmo dia, um teste de ADN confirmou que eram mãe e filho.

Às vezes José Enrique sente-se um pouco aflito com a publicidad­e que o seu caso tem recebido, bem como devido à sua incapacida­de de ajudar os outros. A sua história de sucesso tornou-se, inevitavel­mente, uma fonte de inspiração e esperança para as outras vítimas, mas cada caso de niños robados é diferente – e não há nenhum modelo para os resolver. A partilha de sofrimento pode unir as vítimas, mas todas as missões são únicas e pessoais.

José Enrique tenta visitar a sua família biológica pelo menos uma vez por ano. Embora tenha dificuldad­es em considerá-los seus pais – a sua mãe e pai adotivos deram-lhe uma vida maravilhos­a –, a responsabi­lidade que sente em relação a eles é palpável. “Quero torná-los tão felizes quanto possível porque eles já sofreram muito”, diz, acrescenta­ndo que a sua mãe biológica teve uma depressão durante 40 anos que só acabou quando, finalmente, encontrou o seu filho perdido.

Hoje em dia, José Enrique é um homem casado e feliz e tem dois filhos. Pensa muitas vezes no outro bebé que foi mostrado à sua mãe adotiva e interroga-se sobre o que lhe teria acontecido se a mãe o tivesse escolhido a ele. “Espero que ele tenha tido a sorte de encontrar uma boa família”, conclui com uma voz comovida.

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