GQ (Portugal)

LUNA GARCIA SORIANO

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Idade: 45 anos

Local de residência: Benicassim Situação: Procura a sua irmã, Inmaculada, nascida no dia 30 de setembro de 1972 no Hospital General – Castellón de la Plana

Na madrugada do dia 9 de janeiro de 1978, a mãe de Luna Garcia Soriano aguardava para dar à luz a sua terceira filha no Hospital General, em Castellón de la Plana.

A mãe estava a conversar com uma parteira que, por acaso, era amiga do seu cunhado, e confessou que ela estava um pouco nervosa. Seis anos antes, tivera a sua primeira filha, Inmaculada, naquele mesmo hospital, mas a bebé morrera passadas algumas horas, por razões pouco claras. A parteira ouviu-a atentament­e sem dizer uma palavra. Depois, pediu licença e foi-se embora.

Regressou às 7h, uma hora antes do final do seu turno, visivelmen­te agitada. “Você tem de parir enquanto eu ainda aqui estiver”, disse à mãe de Luna, sem entrar em pormenores. “Vou dar-lhe um fármaco para acelerar o trabalho de parto, mas não diga nada ao médico.” O bebé nasceu às 8h em ponto e foi colocado nos braços da sua felicíssim­a mãe.

Para Luna, que investiga a alegada morte da sua primeira irmã há quase 10 anos, aquilo não foi apenas um ato benevolent­e de uma pessoa conhecida. “A parteira tinha, provavelme­nte, verificado quem estava prestes a começar o turno seguinte e sabia que a minha mãe poderia perder outro bebé”, diz.

A mãe nunca imaginou que a sua primeira filha pudesse ter sido roubada. Aparenteme­nte, a bebé morreu algumas horas após o nascimento e ninguém da família viu o seu cadáver. O pai e o tio de Luna foram ao enterro, mas só viram um caixão fechado.

Professora e mãe solteira, Luna Garcia Soriano, de 45 anos, tinha dúvidas em relação à morte de Inmaculada desde os seus 14 anos. “Eu não percebia como os meus pais podiam ter sido tão ingénuos”, explica. A sua pesquisa começou em 2011 e confirmou as suas suspeitas: o relatório clínico do hospital não afirma que a sua irmã morreu, “era como se ela tivesse recebido alta juntamente com a nossa mãe, viva”, acrescenta Luna.

Passar dias e noites no computador em busca de documentos e pessoas que pudessem ter testemunha­do o nascimento da sua irmã custou-lhe muito. O seu rosto desgastado mostra uma mulher muito mais velha do que ela é na verdade, mas a coisa mais difícil para ela foi contar o que descobrira aos seus pais. “Porque a vida do meu pai parou naquele dia”, diz. “Alguém lhe roubara a filha debaixo das suas barbas e ele nunca se perdoou por isso.”

Luna apresentou queixa em 2011. Menos de um ano depois, foi convocada para ir ao gabinete do Promotor Público em Castellón, juntamente com outras 21 famílias afetadas. Todas receberam uma carta-padrão, afirmando que os seus casos haviam sido encerrados por falta de provas.

“A minha demanda pessoal é secundária”, diz ela. “Eu faço isto pelos meus pais. Eu sou a ligação entre eles e ela.”

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