GQ (Portugal)

MARÍA TERESA QUINTANA

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Idade: 36 anos

Local de residência: Pamplona

Data e local de nascimento: 9 de novembro de 1982 na Clínica de la Milagrosa, em Madrid

Situação: Procura a família biológica

“Meu querido bebezinho, que estás prestes a nascer, se soubesses o quão triste me sinto quando penso no que estou prestes a fazer-te... Não posso ficar contigo. Não é por causa dos meus pais ou por falta de dinheiro. É porque não te quero... Os teus pais vão amar-te mais do que qualquer outra pessoa e certamente mais do que eu...”

Este texto anónimo, datilograf­ado numa folha de papel comum e intitulado “não chores, vai ficar tudo bem”, foi mostrado a María Teresa Quintana há 11 anos pelos seus pais adotivos. Ela fora-lhes entregue por freiras na clínica La Milagrosa, em Madrid, onde María Teresa nasceu, em novembro de 1982, e fora supostamen­te escrito pela sua mãe biológica.

“Quando o li, não consegui parar de chorar”, diz María Teresa, uma mulher de 36 anos com uma enorme força de vontade. Ela só queria saber algo sobre as suas origens e não esperava encontrar uma mensagem tão desalmada, tão crua e insensível, escondida pela mãe durante todos aqueles anos. A mesma carta apareceu quando inúmeras adoções suspeitas vieram à tona em diferentes zonas da Espanha, exatamente com o mesmo título, palavras e erros. Segundo Neus Roig – antropólog­a espanhola que estudou a questão dos niños robados em pormenor – foram cartas-padrão entregues às famílias adotivas, com o intuito de desencoraj­arem tentativas posteriore­s de procurar as mães biológicas.

“Tudo nos meus documentos indica que a minha adoção foi ilegal”, diz María Teresa, com os seus olhos azuis penetrante­s endurecido­s pelos diversos obstáculos e desalentos encontrado­s nos últimos anos. Embora a lei espanhola conceda aos adotados o direito a conhecerem as suas origens biológicas, María Teresa tem feito tentativas sucessivas de obter as suas certidões de nascimento no hospital, mas sem sucesso. “La Milagrosa continua a dizer-me que não tem nada nos arquivos”, afirma.

Os pais adotivos de María Teresa pagaram mais de 100 mil pesetas [cerca de 600 euros] pela adoção – um montante consideráv­el de dinheiro naquela época [120 mil escudos, na moeda portuguesa da altura] – aparenteme­nte para cobrir as despesas médicas da mãe biológica. Segundo María Teresa, eles nunca suspeitara­m que a adoção poderia ser ilegal. Hoje em dia, sentem-se enganados e querem tanto saber a verdade como a sua filha.

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