GQ (Portugal)

ISABEL MARIA GIL PÉREZ

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Idade: 62 anos

Local de residência: Terrassa Situação: Procura o filho Raul, nascido em 17 de março de 1978 no Hospital Universita­ri Mútua de Terrassa – Terrassa Isabel Maria Gil Pérez está sentada na sua sala de estar, no centro da cidade de Terrassa, com as persianas semicorrid­as para se proteger do sol escaldante do meio-dia. À meia-luz, os seus olhos melancólic­os castanho-esverdeado­s observam uma fotografia pequena e esbatida que mostra uma mulher com 20 anos e o seu bebé recém-nascido. “Esta é a única recordação que tenho do meu filho Raul”, diz, segurando cuidadosam­ente a imagem entre os dedos. “Sem isto, o que aconteceu teria sido apenas um pesadelo.” A fotografia foi tirada no dia 17 de março de 1978, na maternidad­e do hospital local, onde Isabel acabara de dar à luz um menino com cerca de 4 quilos. Durante quatro dias, Raul ficava com a mãe durante o dia e era levado para um berçário comum durante noite. Isabel Gil Pérez estava a recuperar bem e tinha tanto leite que uma enfermeira lhe perguntou se poderia bombear parte dele para o dar a outro recém-nascido cuja saúde estava em risco porque a mãe não conseguia alimentá-lo. Isabel acedeu ao pedido sem pensar muito no assunto.

Às 5h do quarto dia, o marido invadiu-lhe o quarto, desesperad­o e sem fôlego. Um agente policial acabara de lhe telefonar para casa, dizendo que um parente seu estava gravemente doente no hospital. Enquanto Isabel tentava acalmá-lo, um médico e algumas enfermeira­s entraram na sala para a informar da morte súbita de Raul. A mãe ficou incrédula e quis falar com a enfermeira que encontrara o bebé morto, mas o médico respondeu que ela ficara transtorna­da devido ao choque e tinha ido para casa.

Isabel Gil Pérez deu à luz mais três filhos, mas o jovem casal teve dificuldad­es em recuperar da perda de Raul. Não fazia sentido. “Eu e o meu marido responsabi­lizávamo-nos constantem­ente pelo sucedido. Foi uma tortura constante e quase nos separou”, explica Isabel. A família derramou muitas lágrimas e, quando o escândalo dos niños robados surgiu, Isabel e o seu marido não estavam preparados para enfrentare­m os seus próprios demónios.

Por fim, foi a teimosia da sua filha mais nova que os obrigou a agir. Em julho de 2011, os alegados restos mortais de Raul foram exumados do nicho da família no cemitério municipal e testados num laboratóri­o privado. Os resultados foram devastador­es: o laboratóri­o não conseguiu encontrar qualquer relação paterna entre os restos e os dois progenitor­es. O bebé que fora enterrado não era Raul.

Isabel lembrou-se imediatame­nte do leite que tinha dado à tal criança doente no hospital. Teria Raul sido trocado por ele e os restos mortais pertenceri­am a esse bebé? Isabel nunca viu a criança à qual estava a dar o seu leite e nunca conseguiu entrar em contacto com a enfermeira que relatou a morte do seu filho.

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