GQ (Portugal)

VICENTE MARTINEZ GIL

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Idade: 47 anos Local de residência: La Eliana Data de nascimento: 14 de março de 1972 – Clínica Casa de Salud, em Valência

Situação: Procura a família biológica

Em dezembro de 2010, Vicente Martinez Gil recebeu um telefonema que mudou a sua vida para sempre. A sua mãe estava em lágrimas. “Ela disse-me que tínhamos que falar sobre uma coisa muito importante e eu fui a correr para casa dos meus pais”, relata. “Ela sentou-me no sofá e disse-me que eu tinha sido adotado. Eu tinha 38 anos e toda a minha vida até àquele momento tinha sido uma mentira.”

Vicente cresceu sendo o único filho de um casal de idosos abastados. O pai era dono de uma pequena fundição e o rapaz era adorado e bem tratado por toda a família. Ele não sabia que os seus pais eram incapazes de ter filhos e que, alguns meses antes do seu nascimento, tinham falado com um padre conhecido por facilitar adoções.

Segundo Vicente, às 5h do dia 14 de março de 1972, os seus pais adotivos receberam um telefonema. O filho que aguardavam acabara de nascer e tinham de ir rapidament­e buscá-lo. O casal recebeu um recém-nascido embrulhado num lençol em troca de 200 mil pesetas [1.200 euros] – o preço de um carro naquela época. Na manhã seguinte, Vicente foi registado no registo civil como filho biológico dos seus pais adotivos.

A esposa de Vicente foi a primeira a levantar suspeitas. “Ela costumava dizer-me que algo não batia certo na minha relação com os meus pais. Ela achava-me muito frio e desapegado”, diz ele. Em vez de despertar dúvidas em Vicente, isso tornou-se uma piada privada do casal até 2010, quando a sua curiosidad­e foi despertada pelos vários casos de crianças roubadas que estavam a surgir na imprensa e o homem foi, finalmente, procurar a sua certidão de nascimento. Para sua surpresa, a hora de nascimento e o nome da clínica onde nascera não correspond­iam ao que oss pais sempre lhe tinham dito. Pressionad­os pelo filho ao longo de vários dias, os pais acabaram por ceder e confessar.

Vicente demorou algum tempo a perceber completame­nte o que tinha acontecido. Então, foi dominado pelo ressentime­nto. “Eu fora posto num filme que não era meu”, afirma. “Eu perdera a oportunida­de de conhecer os meus pais verdadeiro­s, os meus irmãos e as minhas origens.”

Hoje em dia, Vicente tem 47 anos e é pai de dois filhos. Devido à sua demanda para encontrar a sua família biológica, perdeu completame­nte o contacto com a família adotiva. Foi deserdado pelos pais, entretanto falecidos, e impedido de ir ao funeral da mãe. “Eu não posso parar. Não me interessam as consequênc­ias”, diz. “Talvez a minha mãe verdadeira tenha sido obrigada a dar-me. Talvez lhe tenham dito que eu morri e ela esteja a chorar por mim numa sepultura vazia. Eu preciso de saber a verdade.”

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