GQ (Portugal)

COM DINHEIRO TAMBÉM SE BRINCA

Monopoly é um famoso protagonis­ta de discussões nos serões em família e um dos mais conhecidos jogos de tabuleiro do mundo. Mas sabia que, tal como o próprio jogo, também na sua história houve batota?

- Por Ana Saldanha.

Chegou a Portugal na década de 50 com o nome traduzido para Monopólio, mas, a partir de 1961 e por pressão da Parker Brothers, detentora dos direitos do jogo, o nome foi uniformiza­do para Monopoly, a versão internacio­nal.

A sua história, que durante muitos anos vinha na caixa, contava que Charles Darrow, o ex-vendedor que ficou desemprega­do durante a Grande Depressão, inventou o jogo para entreter a família. Mas a sua criação, que, em 2015, supostamen­te, comemorou 80 anos, não foi bem como reza a lenda.

A primeira patente do antecessor do famoso Monopoly data de 1903, mas já havia registos do jogo em 1902. Foi criado por Elizabeth “Lizzie” Magie, ativista política e atriz, que era apoiante de Henry George, o economista responsáve­l pela teoria do imposto único. Lizzie criou um jogo de tabuleiro que serviria para explicar a teoria de George e deu-lhe o nome de Jogo do Senhorio (The Landlord’s Game). A versão original era muito semelhante ao atual Monopoly e também continha as casas da prisão e dos caminhos de ferro. Foi o primeiro jogo com um caminho contínuo, não havendo uma casa específica para o início e para o fim da partida, e a primeira introdução do conceito de “posse” de uma casa, que originaria uma consequênc­ia para o jogador que lá calhasse. O jogo foi apelidado de monopólio porque era usado para explicar os perigos da monopoliza­ção.

Ainda que o jogo estivesse patenteado, só começou a ser produzido e publicado em 1906, quando Lizzie e dois colegas fundaram a Economic Game Company of

New York. Em 1910, a empresa enviou uma edição para a Parker Brother, mas um dos CEOs, George Parker, recusou publicá-la. Na sua versão inicial, o jogo era usado por alguns professore­s universitá­rios da área da economia como ferramenta de ensino e alguns alunos faziam os seus próprios tabuleiros para ensinar os colegas.

A patente original do jogo acabou por expirar em 1921 mas, em 1924, Magie, que entretanto se tinha mudado para Washington DC, repatenteo­u uma versão atualizada do Jogo do Senhorio – esta versão incluía nomes das ruas, uma regra em que as rendas seriam mais altas se possuíssem­os todos os caminhos de ferro e contas que indicavam melhoramen­tos nas propriedad­es. Numa tentativa de recuperar os direitos sobre os jogos caseiros que andavam a ser feitos, Lizzie voltou a propor a venda à Parker Brothers, mas o pedido voltou a ser recusado por considerar­em o jogo “demasiado político”.

Alcançando alguma popularida­de, começou a ganhar atração noutros locais dos Estados Unidos e, em 1931, Daniel Layman, aluno do Williams College, que costumava jogar o Jogo do Senhorio com os colegas de dormitório, criou a sua versão, a que chamou Finance. Esta versão incluía cartas de propriedad­e, cartas de sorte e casas em miniatura – aproximand­o-o da versão que é hoje comerciali­zada. Layman acabou por licenciar o jogo, que passou a ser produzido pela Knapp Electric. Um ano depois, uma edição chamada Prosperity, também criada por Elizabeth Magie e, desta vez, com novas regras, começou a ser comerciali­zado pela Adgame Company.

Começaram também a ser criadas versões personaliz­adas, com os locais de cada cidade e um dos tabuleiros mais populares foi o de Ruth Harvey, professora em Atlantic City, que, com uma amiga que trabalhava no ramo imobiliári­o, pôs preços realistas nas propriedad­es, distinguin­do as zonas ricas das pobres.

Voltando a Charles Darrow, o alegado criador teve conhecimen­to do jogo porque os vizinhos teriam comprado uma das cópias de Ruth Harvey. Darrow aprendeu o jogo, copiou o tabuleiro e começou a distribuí-lo sob o nome Monopoly, com a ajuda do filho mais velho e da mulher, que cortavam e pintavam à mão o tabuleiro e os cartões. Com o aumento da demanda, acabaram por contactar uma gráfica que passou a imprimir as casas do tabuleiro e os cartões. Ainda assim, tanto a Milton Bradley como a Parker Brothers recusaram-se a comprar o jogo até 1935, data em que os direitos passaram a pertencer à Parker Brothers e que é, até hoje, “vendida” como a data original da invenção do jogo. A empresa fabricante de jogos acabou por também comprar a patente de 1924 de Lizzie e os direitos comerciais das várias versões (como Inflation, Big Business, Easy Money e Fortune). Uma versão em particular, Inflation, criada por Rudy Copeland e comerciali­zada pela Thomas Sales Co., continuou a ser vendida depois de a Parker Brothers ser detentora de Monopoly, dando origem a um processo em tribunal em que a magnata dos jogos acabou por ceder a um acordo quando soube que Copeland iria testemunha­r que já conhecia o jogo antes da suposta data da invenção atribuída a Darrow.

Contudo, a Parker Brothers não foi enganada quanto à proveniênc­ia de Monopoly e até chegaram a pedir a Darrow uma declaração que explicasse detalhadam­ente a ideia e o processo que teriam dado origem ao jogo e consta que Darrow não foi capaz de inventar uma justificaç­ão credível.

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No dia 6 de fevereiro de 1935 foi aprovada a patente que vemos na imagem e que confere a Charles Darrow os direitos sobre o jogo Monopoly.
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