GQ (Portugal)

O SEXO IMPORTA

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Seleção natural = sobrevivên­cia do mais apto? Quem acha que a teoria de Darwin pode resumir-se a isto está a esquecer-se de um importante ponto: a reprodução. “Não basta ser o mais forte, o mais rápido, não basta ser perfeito. É preciso que me reproduza. Se eu não me reproduzir, em termos evolutivos, é como se eu tivesse morrido à nascença, porque não vou passar os meus genes à geração seguinte”, argumenta Nuno Monteiro.

“Depois de ter escrito A Origem das Espécies, Darwin escreveu uma carta a um naturalist­a americano chamado Asa Gray, em que lhe dizia ‘Sempre que eu olho para a pena de um pavão, sinto-me doente’”, relata o biólogo da FCUP: “Ele não entendia que sentido fazia uma espécie ter uma cauda com aquele tamanho e com aquelas cores. Em que é que aquilo ajudava à sua sobrevivên­cia? Por isso é importante reforçar: não basta ser o mais bem-adaptado, é preciso reproduzir-se também. A natureza é um conjunto de custos e benefícios. Se as fêmeas do pavão gostam daquelas caudas, os machos estão ‘dispostos’ a pagar a energia que for necessária para tentar criar – e estou a falar em termos evolutivos – aquelas caudas.”

Foi por ter reparado que não havia dado relevo necessário à parte da reprodução n’A Origem da Espécies que, em 1871, Darwin publica o livro

A Descendênc­ia do Homem e Seleção em Relação ao Sexo, onde cunha o termo seleção sexual, uma subalínea da seleção natural, que assume que as fêmeas podem preferir certas caracterís­ticas nos machos, que podem não ter valor evolutivo, mas que são passadas à geração seguinte.

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