GQ (Portugal)

MAIS UM EM BUSCA DO LUGAR AO SOL

Depois d’O Fim, S. Pedro lança Mais Um, um disco cheio de luz, que é uma ode à beleza da normalidad­e.

- Por Beatriz Silva Pinto.

Mais Um porque agora há mais uma pessoa lá em casa, Mais Um porque dar nomes a álbuns é uma chatice, mas principalm­ente Mais Um porque S. Pedro é – e di-lo sem rodeios – “só mais um”. “De há uns anos para cá, comecei a sentir-me muito confortáve­l nessa posição, de ser só mais um e não ser o gajo que na secundária se senta no banco dos fixes. Antigament­e tinha muito essa preocupaçã­o, parecia que tudo o que fazia tinha de ser especial. Mas, de repente, apercebi-me de que não tem de ser assim. Sou só mais um gajo no meio disto tudo, no meio destas pessoas todas que têm uma banda. Sou só mais um gajo a tentar arranjar concertos, a tentar furar de alguma maneira.” E isso não tem de ser mau, assegura o artista. “O normal é uma coisa mesmo muito bonita.”

Pedro Pereira é o músico por trás do nome de santo que, há um par de anos, se estreou a solo com O Fim. E, não, não foi um paradoxo: O Fim foi “uma manta de retalhos”, explica. Pedro tinha acabado de montar o seu pequeno quarto-estúdio e decidiu ir à gaveta recuperar “músicas que tinham ficado na calha” para os Doismileoi­to, banda que encabeçou e com a qual editou dois álbuns. Por esse motivo, a estreia acabou por ser também o fechar de um capítulo. Mais Um, por outro lado, foi feito no presente e com os olhos postos no futuro, já com uma banda e com uma meta muito específica: ser um disco bom de se tocar ao vivo.

É capaz de já ter apanhado um dos singles deste Mais Um na rádio – por exemplo, aquele que, no verão do ano passado, incitou o pessoal a ir Apanhar Sol. O álbum, lançado em setembro, é igualmente luminoso, enérgico e promete ficar preso ao ouvido – seja pelas melodias pop, seja pelas histórias narradas (de uma trivialida­de bela), que tantas vezes se ligam às que já vivemos. “É um disco curtinho, com músicas sucintas e boa onda. Mas, acima de tudo, com muita sinceridad­e e muito amor”, resume. E é cantado totalmente em português. “Quando era miúdo ouvia muita música americana, não era assim muito fixe ouvir música portuguesa. Mas eu venho da cultura do rap, fui MC há muitos anos e então sempre achei muita piada à cadência, ao ritmo do português. Em inglês parece que as tuas palavras não têm tanto peso.”

Se S. Pedro canta orgulhosam­ente na língua-mãe, não dá menos importânci­a à terra natal. “Aqui na Maia parece que moro na Rua Sésamo: toda a gente conhece toda a gente. E eu gosto muito desse espírito de comunidade. Estou sentado na esplanada do meu cafezinho, vou ouvindo uma série de histórias... E isso influencia-me. Tu também és o sítio onde vives.” Por ter orgulho nas raízes é que tenta ser “um gajo ativo, culturalme­nte e socialment­e” no município. E instiga qualquer um a fazer o mesmo: “É isso que faz com que as cidades mais pequenas se tornem cidades maiores – porque há pessoas que ficam lá e que fazem da cidade alguma coisa.”

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Mais Um é o segundo álbum a solo de Pedro Pereira, ex-Doismileoi­to.
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S. Pedro Valentim de Carvalho
Mais Um S. Pedro Valentim de Carvalho

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