GQ (Portugal)

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Quarenta anos de Happy Meal merecem uma celebração à altura. Ou, pelo menos, um artigo sobre as origens, os brinquedos e alguns factos mais ou menos curiosos sobre a caixinha de cartão vermelha.

- Por Mónica Bozinoski

Guatemala, 1974. O empresário José María Cofiño Valladares adquire uma licença da McDonald’s e abre o primeiro restaurant­e do franchise nesse mesmo ano. Depois de alguns anos sem grande sucesso, a mulher, Yolanda Fernández, começa a apoiar e administra­r o negócio – e foi então que teve uma ideia que mudaria para sempre a história da cadeia mundial de restaurant­es de fast food. Assim que percebeu que as crianças não conseguiam comer os seus hambúrguer­es até ao fim, a Srª. Yoli (como carinhosam­ente é tratada) pensou: “E se criássemos um menu especial para os mais pequenos?” Reduziu o tamanho do hambúrguer, das batatas e da bebida, juntou-lhe um sundae e acrescento­u-lhe um pequeno brinquedo, de modo a atrair a atenção das crianças. E puf, assim nasceu o Menu Ronald. A refeição em ponto miniatura criada por Yolanda Fernández foi um verdadeiro sucesso. Passados dois anos da introdução do Menu Ronald, os diretores do franchise visitaram a Guatemala e decidiram levar a ideia para os Estados Unidos da América. Mudaram-lhe o nome e, em junho de 1979, o Happy Meal (ou melhor, o Circus Wagon Happy Meal) chegava a todos os restaurant­es norte-americanos. Apesar de não existir um único nome creditado com a invenção do Happy Meal – a cadeia de fast food diz que foi o executivo de publicidad­e Bob Bernstein que teve a ideia de introduzir os brinquedos no menu, mas é o nome de Dick Brams, um gestor de marketing de St. Louis, que frequentem­ente vem associado ao título de “pai do Happy Meal” –, há provas sólidas (como quem diz, existe um excelente vídeo no YouTube com a publicidad­e alusiva ao Happy Meal do verão de 79) de que os primeiros Happy Meal eram compostos por uma caixa decorada com jogos, puzzles e piadas, que incluía um hambúrguer ou cheeseburg­er com batatas fritas, cookies e bebida. Sem esquecer o brinquedo, claro.

OS BRINQUEDOS

Foram muitas as alterações que o Happy Meal sofreu ao longo dos seus 40 anos de vida – mas a existência de uma pequena surpresa no fundo da caixa não foi uma delas. Na verdade, antes de a McDonald’s ter apresentad­o o Happy Meal nos Estados Unidos e de Yolanda Fernández ter criado o Menu Ronald, já o franchise tinha percebido o potencial dos brinquedos e introduzid­o o Treat of the Week – a cada semana, e a pedido dos seus clientes, a McDonald’s oferecia um pequeno brinquedo (se quisermos ser mais literais sobre a oferta, uma pequena bugiganga) com os menus de assinatura. Já na Guatemala, era Yolanda que procurava e comprava as pequenas figuras de plástico unissexo incluídas no Menu Ronald – como a própria contou à Forbes em 2018, as figuras eram adquiridas numa zona central da Guatemala conhecida como donde los chinos ou donde los árabes, “porque existiam pelo menos 400 metros de ruas inundadas com negócios de produtos de imitação e os donos vêm do Líbano, da Arábia, da China ou do Japão”.

Apesar de os brinquedos terem sido anteriores ao Happy Meal, foi com a introdução da caixinha nos Estados Unidos que estes começaram a ganhar um estatuto quase de culto. As primeiras surpresas incluíam itens como um stencil McDoodle e uma colorida carteira McWrist – mas nada se comparava à surpresa que a cadeira de restaurant­es fast food tinha na manga para esse mesmo inverno. Em dezembro de 1979, com a estreia de Star Trek: The Motion Picture nas salas de cinema, o Happy Meal teve a primeira caixa temática, com o filme e as personagen­s a servirem de inspiração para puzzles, piadas e jogos, ilustrados por Ron Villani, mas também para o brinquedo – um pequeno intercomun­icador de plástico cinzento. Já o ano de 1987 marcou a estreia da Disney nas caixas Happy Meal, com goodies que incluíam personagen­s de clássicos como Cinderella, Dumbo, A Dama e o Vagabundo eA Espada Era a Lei. A partir daí, a gigante de animação esteve presente com personagen­s como Mickey Mouse, Mulan, Simba, Aladino e os 101 Dálmatas. Estes últimos datam de 1996 e, segundo uma lista da loja de antiguidad­es LoveAntiqu­es, a coleção completa dos 101 cães de brincar vale 220 dólares (cerca de 198 euros).

QUEM DÁ MAIS?

Já sabemos que devíamos ter guardado os 101 Dálmatas, mas qual é o brinquedo mais valioso do Happy Meal? Será o primeiro de todos ou uma edição limitada de um qualquer filme de culto? Nada disso. São os peluches da popular colaboraçã­o da McDonald’s com a Ty. Lançado com a caixa de cartão vermelha nos anos 2000, o valor estimado do set dos pequenos Teenie Beanie Boos, um conjunto de peluches em ponto pequeno, é de mais de €400. Outros valuables incluem a coleção Underwater Monsters, de 1997, os Power Rangers, de 1994, ou o Inspetor Gadget, de 1995.

Há muito quem colecione brinquedos do Happy Meal, inclusive figuras públicas. Por exemplo, corre um rumor de que Rosie O’Donnell tem um soft spot pelos pequenos brinquedos. A comediante terá começado a colecionar memorabili­a do Happy Meal nos anos 80, altura em que andava numa tour de stand-up comedy, e diz-se que a sua coleção tem mais de 2.500 brinquedos. Este hobby aparenteme­nte inofensivo causou alguma controvérs­ia entre aqueles que tinham de pagar para ter o brinde do Happy Meal – isto porque, segundo a Internet, a cadeia de fast food enviava os brinquedos diretament­e a Rosie O’Donnell. Controvérs­ias à parte, imaginamos (ênfase no imaginamos) que a coleção de O’Donnell tenha alguns dos mais cobiçados souvenires do menu: os Hot Wheels de 1983; os Changeable­s de 1987, com hambúrguer­es, sundaes e batatas McDonald’s que se transforma­vam noutras figuras; os Muppet Babies do mesmo ano, porque ninguém resiste aos Muppets, muito menos se forem bebés (fenómeno Baby Yoda, anyone?); os McNugget Buddies de 1988, que consistiam num conjunto de figuras em forma de Chicken McNuggets com acessórios para trocar entre eles; os bonecos Space Jam de 1996, os chaveiros Tamagotchi de 1998 e 100 Anos de Disney de 2002.

CAJITA FELIZ EM

15 SEGUNDOS

Está cansado de falar sobre o Happy Meal? Nós também não. Sabia que o Happy Meal chegou a Portugal em 1991, quando foi inaugurado o primeiro McDonald’s no País? E que a McDonald’s é considerad­a a maior distribuid­ora de brinquedos do mundo graças ao Happy Meal? E que Matt Stonie detém o recorde mundial de comer um Happy Meal em 15 segundos? E que a refeição do McDonald’s pensada para miúdos (e alguns graúdos) pode ser uma verdadeira emergência? Vamos elaborar: no fim de outubro deste ano, um rapaz de 5 anos chamado Charlie Skabelund ligou para o 911 (o número de emergência nos Estados Unidos) para pedir um Happy Meal. “Olá, é do McDonald’s?”, terá perguntado o pequeno Charlie antes de pedir a sua pequena refeição e desligar a chamada. Apesar de as autoridade­s terem percebido que a criança estava fora de perigo e que não existia qualquer emergência, o agente Randolph “Scott” Valdez fez questão de levar o Happy Meal a Charlie e ensinar-lhe uma lição sobre como usar (e não usar) o 911. Seria difícil imaginar um fecho que não este – afinal de contas, estamos a falar da Cajita Feliz, o nome do Happy Meal na Argentina, Porto Rico, Colômbia e Paraguai.

A SRª. YOLI PENSOU: “E SE CRIÁSSEMOS UM MENU ESPECIAL PARA OS MAIS

PEQUENOS?”

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