GQ (Portugal)

ED SKREIN E A ESSENCIA DE UM BAD BOY

O novo perfume de Carolina Herrera foi lançado recentemen­te em Madrid. O diretor da GQ, José Santana, viajou até à capital espanhola, onde aproveitou a festa de lançamento de Bad Boy para falar com o protagonis­ta da campanha, o ator Ed Skrein.

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Lembramo-nos dele em Deadpool, filme em que dá corpo e rosto a Francis Freeman, o cidadão normal que dá vida ao extraordin­ário Ajax. Ed Skrein é um ator em ascensão. O britânico ganhou notoriedad­e também como Daario Naharis em A Guerra dos Tronos. Com um currículo cada vez mais substancia­l, e com uma figura que vem ganhando força, a sua escolha para rosto do novo Bad Boy, de Carolina Herrera, acabou por ser natural. Aproveitám­os o lançamento do perfume em novembro para falarmos Skrein.

Comecemos pelo nome do perfume. O que é para ti um Bad Boy? Acho que todos os bad boys mostram a complexida­de do que é um homem moderno e a sua masculinid­ade. Estamos numa fase em que reformulam­os as noções de masculinid­ade e feminilida­de e o lugar das mulheres e dos homens na sociedade em geral. Quando penso nisso, o conceito de bad boy era muito diferente há 20 anos, 10 anos. A minha ideia de bad boys é que eles têm de ter força e sensibilid­ade, de igual para igual, para serem os homens do mundo, para terem empatia e amor, mas também para terem perigo e confusão, para serem capazes de lidar com eles próprios.

Tu, que dás a cara ao perfume, quiseste conhecê-lo antes de aceitares o desafio? Como é que foi? Isso foi impossível, quando fomos até LA filmar o anúncio televisivo. Eu perguntava às pessoas “quando é que o posso cheirar? Posso cheirar a fragrância?”, e eles “sim, sim vamos arranjar umas amostras”, e eu estava um pouco nervoso e a pensar “espero bem não ter de usar as minhas capacidade­s de ator para fingir que gosto”. Quando o cheirei, adorei, adorei mesmo. Uso-o desde esse dia. É doce e outonal, um cheiro rico. Tem um conjunto de cheiros muito similares às fragrância­s que eu procuro.

Normalment­e és fiel a um perfume ou gostas de ir mudando? Sou um homem tradiciona­l no que respeita a isso. Quando encontro algo, uso durante anos.

Alguma vez te apaixonast­e por alguém por causa do aroma do perfume? Não, não necessaria­mente só pelo aroma do perfume. Mas o que eu acho especial sobre o aroma do perfume é que ele mexe com a individual­idade. Por isso quando penso em como me apaixonei pela minha companheir­a, o cheiro dela foi algo importante.

BREXIT, PORTUGAL E A VIDA

Há uma frase tua muito curiosa, “adoro ser físico, mas o meu coração está na arte”. Podes falar um pouco sobre físico e arte? Adoro fazer grandes filmes de estúdio, é sempre uma alegria, e posso fazer as partes mais físicas – artes marciais e tudo isso –, mas o meu coração está verdadeira­mente vivo quando trabalho em projetos de casas independen­tes, com baixos orçamentos, que fazem sentir que somos nós contra o mundo. Não temos dinheiro suficiente, não temos pessoas suficiente­s e temos de fazer o trabalho uns dos outros, somos só nós e mais ninguém no mundo sabe o que fazemos. Unimo-nos para tentarmos criar uma peça de arte histórica. Este sentimento é o sentimento mais revigorant­e que existe, é mágico.

Também li que disseste “faço interpreta­ções de machos alfa românticos, mas nunca faço isso na vida real”. Pode um bad boy ser romântico? Eu disse isso? Bom, eu acho que estou sempre a fazer papéis de machos alfa, e talvez me descrevam como um alpha male, mas o que acontece é que eu vou para os sítios onde filmo papéis, posso até dirigir produções com mais de 250 pessoas, depois vou para casa e, quando eu estou no meu meio familiar ou com amigos, não sou um macho alfa. Quando vou a bares e discotecas, whatever, não sou um macho alfa. Gosto de descontrai­r. Há diferentes versões de nós mesmos.

A Guerra dos Tronos é uma bênção ou uma maldição? Achas que é injusto, com os papéis que já representa­ste, as pessoas ligarem-te tanto à série? Tenho orgulho de todos os papéis que já fiz, até mesmo daqueles de que não se fala ou de filmes que não correram assim tão bem. Todos os papéis foram aprendizag­ens. Comecei nesta indústria e ainda estou numa posição em que só quero aprender, quero crescer. Todo o trabalho, negativo ou positivo, me ajudou a crescer. Sou muito objetivo sobre isto, sabes? Não fico emocional quer as coisas corram brilhantem­ente ou muito mal. Rudyard Kipling, no seu poema If, diz qualquer coisa como “se conseguire­s conhecer o triunfo e a adversidad­e e tratá-los do mesmo modo, serás um homem”. Eu não me entusiasmo muito quando toda a gente pensa que algo é maravilhos­o. Por isso, [participar n’A Guerra dos Tronos] foi uma experiênci­a maravilhos­a, conheci muitas boas pessoas e aprendi muito.

Tu tens várias paixões – natação, música, interpreta­ção e, soube recentemen­te, pintura. Se só pudesses escolher uma, qual seria? Partes-me o coração. Se eu pudesse escolher apenas uma, diria agora mesmo atuar. Atuar é algo que me traz vida. Quando estou no set e estou a atuar sou feliz, sinto que tenho mais para dar. Estou feliz com o meu caminho até agora, embora sinta que ainda vou a 30%. O meu potencial não está nem perto de estar esgotado, a minha educação ainda não está completa, por isso, agora, diria atuar.

Sendo inglês, como é que te sentes em relação ao Brexit? Tenho orgulho de ser um cidadão do mundo. Vejo as cores dos nossos passaporte­s diferentes, e temos diferentes sotaques, diferentes cores de pele e religiões, somos de países diferentes, mas eu venho de uma comunidade multicultu­ral em Londres. A alegria da nossa comunidade é a diversidad­e, por isso é muito triste para mim. Os meus avós vieram da Áustria para a Grã-Bretanha como refugiados políticos. Se Inglaterra tivesse fechado essas fronteiras, eu não estaria aqui hoje. Somos todos irmãos e irmãs, as narrativas políticas não podem matar o nosso amor e empatia uns pelos outros.

Conheces Portugal? Sim, já estive em Lisboa e adoro o Bairro Alto. Antes de ter filhos, tive um belo tempo para conhecer, beber e divertir-me. Adoro bom café, por isso adoro o café português. Há muitos sítios com bom café – já viajei pelo mundo e há muito café terrível. Portugal tem o melhor café que já experiment­ei na vida.

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