GQ (Portugal)

DICAS

Se onde há vinho há queijo, está na altura de falar da segunda metade do pairing divino. E pasme-se ao descobrir que inteiro e fatiado não são tipos de queijo.

- Por Ana Saldanha.

Saberia distinguir um Comté de um Camembert? Procure as respostas no nosso Guia de Queijo para Totós.

Para além do triângulo de queijo de São Jorge e do ocasional queijo de Azeitão para comer à colher, os portuguese­s não têm uma grande relação com o queijo. Mas sopram ventos de mudança e brotam, aqui e acolá, pequenas lojas que se dedicam a educar-nos sobre o admirável mundo do queijo – nacional e internacio­nal – e a guiar-nos pela labiríntic­a aventura que é servir uma tábua de queijos num jantar lá em casa.

Pedro Cardoso está à frente da Queijaria, a primeira loja portuguesa a especializ­ar-se em queijos artesanais. “O princípio do queijo é bom leite. É a fermentaçã­o do leite através de um coalho animal, vegetal ou enzimático que faz o queijo. De início será queijo fresco e depois é maturado ou curado – todos os queijos são curados menos os frescos, podem é ser mais ou menos curados. O mais básico é isso: leite, coalho e sal”, explica. Sobre os queijos portuguese­s, há queijo de vaca, ovelha e cabra, mas quanto às texturas

“são quase todos iguais, pasta mole, semimole ou dura”.

Mas quanto a categorias e tipos de queijos, lá fora a história é outra.

Quentin Bouyaghi e Léonie Benoist, da Maître Renard, incumbiram-se de trazer para Lisboa a tão comum e tradiciona­l queijaria francesa e, quem sabe, o hábito de degustar e apreciar os queijos franceses.

“Em França não fazemos categorias de queijo por leite, fazemos de acordo com a forma como o queijo é preparado”, conta Léonie. E seguiu-se uma pequena aula, já que os queijos franceses estão divididos em oito categorias, também sendo possível encaixar os portuguese­s nesta tabela: queijo fresco, queijo de pasta mole com casca natural (aqui só entram queijos de cabra), queijo de pasta mole com casca lavada, queijo de pasta mole e casca floral (é uma camada branca e aveludada provocada por um fungo chamado Penicilliu­m candidum, é comestível e é mais conhecida em queijos como o Brie), queijo de pasta dura cozido – normalment­e são queijos grandes de 40 a 50 kg e são curados durante três, quatro anos; são queijos mais duros que podem desenvolve­r uma vasta paleta de sabores e é neste tipo de queijos que a caseína, que é uma proteína do leite, se transforma em pequenos cristais de sal –, queijo de pasta dura semicozido, queijo de pasta dura não cozido e queijo azul – pode ser feito com leite de vaca, cabra, ovelha ou uma mistura de leites e tem um caracterís­tico bolor azul porque lhe é adicionado um fungo (Penicilliu­m roqueforti).

Tal como acontece com os vinhos, os queijos também têm DOP (Denominaçã­o de Origem Protegida), o que significa que determinad­as caracterís­ticas se devem ao meio geográfico. É por isso que um queijo de São Jorge não pode ser feito em Coimbra. E, também à semelhança do vinho, o terroir (caracterís­ticas da região, clima e solo) impõe as suas caracterís­ticas no sabor do queijo: “se tivermos figueiras junto ao sítio onde os animais pastam, o leite e o queijo vão ter notas de figo, é o que acontece com os vinhos”, explica Pedro.

QUEIJO MEU, QUEIJO MEU

Podemos até achar que sabemos distinguir de olhos fechados um Comté de um Gruyère, mas até o maior maratonist­a de Masterchef precisa de uma mão amiga, certo? É aí que entra o queijeiro – conselheir­o de queijo, no caso da Queijaria, e fromager na Maître Renard. E ser aconselhad­o numa queijaria é uma experiênci­a parecida com visitar a página de sugeridos do YouTube. Gosta de Asiago? Então talvez vá gostar de Fontina.

“Perguntamo­s se prefere sabores mais intensos ou mais leves, falamos sobre a textura, se prefere cremoso, amanteigad­o ou seco, perguntamo­s quais são os queijos favoritos para encontrar o melhor. É fácil vender queijo a pessoas que gostem de todos os tipos de queijo. Difícil é quando dizem que só gostam de um tipo de queijo, mas como temos uma grande variedade, há um queijo para cada pessoa”, explicam Léonie e Quentin.

Já para Pedro, o segredo está na prova: “Nós somos conselheir­os de queijo, precisamos de saber o tipo de leite de que gosta, se gosta de queijo mais ou menos curado, mais forte ou menos forte e depois damos a provar.

Se as pessoas dizem ‘não percebo muito de queijo, pode ajudar-me?’ é muito mais fácil.”

Quentin conclui que, de facto, o melhor caminho para encontrar o nosso queijo é ouvir quem sabe: “a melhor forma é confiar no queijeiro porque ele pode escolher uma tábua de queijos com cinco queijos totalmente diferentes, dizer qual a ordem em que os deve provar e fazer o pairing com diferentes doces ou cervejas… conhecemos todos os queijos que estão aqui, já os provámos todos. Quando a pessoa não sabe qual é o queijo de que está à procura, mas sabe que gosta deste tipo de queijo, vamos saber qual é o queijo de que vai gostar.”

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