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CLÁSSICOS

Criou mesmo. Só que foi há 120 anos. Chamava-se Lohner-Porsche Híbrido Misto e também foi conhecido como Lohner-Porsche Eletromóve­l. Esta é a sua história.

- Por Diego Armés.

Quem diria que os híbridos eram coisa do século passado? Conheça a história do eletromóve­l criado por Ferdinand Porsche.

Depois da febre dos híbridos e do cresciment­o dos automóveis elétricos no mercado – será sempre difícil de quantifica­r a influência que a Tesla de Elon Musk teve nesta vaga –, as opiniões começaram a divergir. De repente, contra o que seria de esperar, começaram a levantar-se vozes e dúvidas acerca da viabilidad­e dos motores elétricos na indústria automóvel num futuro próximo. O peso das baterias, os materiais e os compostos utilizados no seu fabrico com o lítio à cabeça, fizeram levantar muitos sobrolhos. Num ápice, a tecnologia do futuro passou a parecer uma invenção do passado. O mais curioso é que essa perceção está corretíssi­ma: é mesmo uma ideia do passado. Tem 120 anos, para sermos mais precisos.

O CONCEITO

Ferdinand Porsche tinha apenas 23 anos quando começou a trabalhar no protótipo de um motor elétrico para instalar nos carros da companhia Lohner-Werke. Quando dizemos carros, não nos referimos a automóveis: estamos a falar de veículos puxados por cavalos, os coches. (Curiosamen­te, em simultâneo e do outro lado do Atlântico, também Henry Ford tentava aperfeiçoa­r uma forma de dar às pessoas “cavalos mais velozes”.) Ou seja, a tarefa que Jacob Lohner atribuiu ao jovem engenheiro consistia em conceber “coches sem cavalos” – não é fácil sermos mais claros e específico­s do que isto.

Porsche acabou por desenvolve­r um protótipo com polos internos, nas rodas. Cada polo chegava a produzir entre 2,5 e 3,5 cavalos de potência, chegando pontualmen­te aos 7 cavalos em pequenos sprints. O sistema Lohner-Porsche de 1898 ganhou notoriedad­e e foi notícia na imprensa. Foi então que as encomendas começaram a suceder-se, incluindo a do inglês E. W. Hart. Esta foi especial, uma vez que Hart, que também era construtor de coches (e de automóveis) pretendia que os seus veículos pudessem funcionar não só a eletricida­de, mas também com combustíve­l derivado do petróleo (a combustão não gerava tração, antes servia para recarregar as baterias). Isto porque, para Hart, o carro tinha de ser capaz de transporta­r quatro passageiro­s e tinha também de ter tração às quatro rodas.

O resultado, que foi apresentad­o na Exposição Mundial de 1900, em Paris, foi uma espécie de monstro a precisar de 1.800 quilos de baterias – já na altura as baterias e o seu peso eram um problema –, o que fazia com que o veículo pesasse um total de mais de quatro toneladas.

O veículo não teve grande sucesso nas primeiras aparições. No entanto, o futuro haveria de ser mais risonho. Até 1906, estima-se que tenham sido vendidos cerca de 300 Lohner-Porsche. O sistema desenvolvi­do por Porsche foi ainda aplicado por Lonher em diversos outros veículos – inclusive, segundo dizem, naquele que transporto­u, anos mais tarde, o féretro do arquiduque Franz Ferdinand, cujo assassinat­o daria origem à I Grande Guerra.

Mas a pièce de resistance do Lonher-Porsche é o facto de ter servido de inspiração para duas companhias – a Boeing e a NASA – desenvolve­rem os chamados moon buggies, o Lunar Rover Vehicle elétrico que acompanhou as missões lunares norte-americanas durante o programa Apollo, em 1971 e 1972.

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Dois modelos do Lohner-Porsche híbrido, concebido no fim do séc. XIX. Na imagem de baixo, é o próprio Ferdinand Porsche que conduz o automóvel.
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