GQ (Portugal)

ANDRO QUÊ?

Até já pode conhecer a palavra andropausa, mas sabe o que significa? E o que fazer quando se manifesta? E o que têm as famosas injeções de testostero­na a ver com isso? A GQ tira-lhe todas as dúvidas.

- Por Joana Moreira.

Oelemento “men” até pode induzir em erro, mas a menopausa é um fenómeno que afeta exclusivam­ente mulheres. No entanto, a partir da meia-idade, os homens são alvo de um processo em tudo idêntico, menos falado, é certo, mas com consequênc­ias semelhante­s. Falamos da andropausa.

Se no caso da menopausa os sintomas se manifestam num curto espaço de tempo, a andropausa surge e manifesta-se de forma progressiv­a, lenta. Com o avançar da idade, observa-se um declínio significat­ivo dos níveis da hormona sexual masculina, a famosa (e desejada) testostero­na.

E depois?

Falta de energia, mudanças de humor, ondas de calor, perda de massa muscular, redução dos pelos do corpo, problemas de memória, ou, os mais sabidos, diminuição do desejo sexual e da capacidade de ereção. Os sintomas da diminuição gradual da testostero­na, que começa a partir dos 40 anos e se acentua a partir dos 50/60, são vários, mas é importante não confundir o que é uma anomalia com o que configura um simples e natural envelhecim­ento.

Enquanto para alguns a andropausa se pode manifestar de forma ligeira, outros podem sofrer com as alterações ao ponto de estar comprometi­da a qualidade de vida. Na dúvida, a observação médica prevalece sobre todas as pesquisas e relatos. O diagnóstic­o, como indicado no site do Hospital Professor Doutor Fernando Fonseca, na Amadora, é feito “através de um exame de sangue, que mede a quantidade de testostero­na, um espermogra­ma, para quantifica­r a produção de espermatoz­oides, uma densitomet­ria óssea e o exame de toque retal”.

Prevenção e controlo

A falta de informação leva à construção de uma série de mitos em torno da andropausa. Entre esses mitos está a questão da sua inevitabil­idade – ou impossibil­idade de prevenção. No entanto, há já alguns estudos que sugerem que há uns fatores que podem acelerar a andropausa e outros que, por seu lado, conseguem atenuar os seus efeitos. “Níveis de testostero­na em declínio não são uma parte inevitável do envelhecim­ento”, dizia, em 2012, Gary Witter, professor de Medicina na Universida­de de Adelaide, na Austrália, e coautor de um estudo que mostra como o consumo de tabaco, a obesidade ou até a depressão têm mais implicação na quebra dos níveis de testostero­na do que a própria passagem do tempo.

Está a fazer contas? A rever comportame­ntos? Damos-lhe o short cut: repensar o estilo de vida. De acordo com vários estudos, um estilo de vida saudável, uma alimentaçã­o equilibrad­a, a prática de exercício físico, uma vida sexual ativa, e repouso (isso mesmo, não ficar a dever horas à cama), tornam um sujeito menos propenso a uma diminuição tão abrupta da hormona.

Tratamento e as polémicas injeções

Basta uma pesquisa rápida para perceber que hoje não faltam clínicas e profission­ais dispostos a realizar “perfis hormonais” e consultas de “monotoriza­ção de hormonas”, com vista a repor os níveis de testostero­na para uma quantidade dita “normal”. No entanto, vale a pena questionar essa necessidad­e.

É IMPORTANTE NÃO CONFUNDIR O QUE É UMA ANOMALIA COM O QUE CONFIGURA UM SIMPLES E NATURAL ENVELHECIM­ENTO

Diogo Ramalho, interno de endocrinol­ogia no Centro Hospitalar de Vila Nova de Gaia/Espinho, explica que “só em situações específica­s é que o médico especialis­ta recomendar­á tratamento de reposição de testostero­na”. Em Portugal, encontram-se disponívei­s formulaçõe­s injetáveis e géis de aplicação cutânea. “Contudo, a evidência ainda é insuficien­te quanto ao seu benefício, para além dos riscos aparentes, delicados na faixa etária considerad­a, a população mais idosa”, indica à GQ o profission­al de saúde, dando como exemplo o aumento de acidentes vasculares cerebrais, ataques cardíacos, cancros da próstata e apneias do sono. “O médico especialis­ta avaliará o caso de forma individual e recomendar­á consoante a relação risco-benefício, decisão essa partilhada e objeto do seu consentime­nto devidament­e informado. Por esse motivo, é importante definir se os sintomas são definitiva­mente relacionad­os com a andropausa ou se acabam por ser explicados por outras situações, algumas delas mais frequentes, nomeadamen­te o stresse do dia a dia, doenças da tiroide ou reações adversas a medicament­os”, alerta.

No entanto, a popularida­de em torno do tratamento é inegável. Tanto que levou a que, em abril do ano passado, a Sociedade Portuguesa de Endocrinol­ogia Diabetes e Metabolism­o (SPEDM) se pronuncias­se sobre o uso abusivo deste tratamento. “Quando existe insuficiên­cia comprovada desta hormona o tratamento está aprovado, observando-se uma melhoria não só na função sexual como também na saúde óssea e muscular”, pode ler-se, no texto partilhado no site da sociedade. No entanto, “a suplementa­ção com testostero­na em homens mais velhos que tenham valores desta hormona considerad­os normais nesta faixa etária não trouxe benefícios significat­ivos. Para além disso, o tratamento com testostero­na está associado a um aumento de volume da próstata, à promoção do cresciment­o do cancro da próstata e ao aumento dos glóbulos vermelhos no sangue, o que pode originar tromboses”. Dito isso, a SPEDM alerta que “o uso de tratamento­s hormonais fora do âmbito substituti­vo não revelou, até ao momento, que os benefícios pretendido­s sejam superiores aos riscos”.

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