GQ (Portugal)

DEVENDRA, O CENTRO DAS ATENÇÕES

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Quem o viu, em 2013, no CCB – sério, tímido, direto ao assunto, eficiente, pop –, não estaria a contar com o Devendra de fevereiro, no Capitólio, em Lisboa. Talvez porque os concertos em Portugal (um no Porto, dois em Lisboa) foram os últimos antes de uma pausa de mais de um mês na agenda, ou talvez porque Portugal é um lugar que lhe é verdadeira­mente querido, como já várias vezes sublinhou, o músico norte-americano desinibiu-se e deu show. O alinhament­o ajudou à festa, misturando hits antigos e clássicos incontorná­veis com boas canções emergentes. Mas foram o espírito livre e o discurso a roçar o nonsense de Devendra que permitiram um ambiente de grande comunhão e diversão descontraí­da entre o público e a banda – que, já agora, deu um belíssimo concerto, irrepreens­ível, com um som de sala absolutame­nte impecável (atrevo-me a dizer que, neste momento, o Capitólio é a melhor sala de concertos de Lisboa). Devendra Banhart, músico, cantor, compositor, indivíduo bonito, cheio de estilo, com um tique superfofo de mexer no cabelo, postura leve e discurso que lhe sai aparenteme­nte sem rumo e sem língua materna – às vezes vem em quase português, outras em castelhano enferrujad­o, e ainda outras num inglês americano e sussurrado – é aquele tipo por quem as miúdas na sala – até na tua própria, sim – sorriem embevecida­s. Poderia ser preocupant­e, mas depois reparas que tu mesmo sorris embevecido. É um sorvedor de atenções e, quando transpira, escorrem-lhe gotas de carisma testa abaixo. Deu um grande concerto e fomos todos para casa "fazer marmelada", como o Devendra sugeriu. Ele faz-nos bem.

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