GQ (Portugal)

O PASSO A PASSO DO BURNOUT

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Apesar de o tema ter sido badalado nos últimos anos, a sua origem é bem anterior – o termo foi proposto pela primeira vez em 1974 pelo professor e psicanalis­ta americano Herbert Freudenber­ger, depois de o constatar em si mesmo e em terapeutas do seu grupo. Teresa Espassandi­m, especialis­ta em psicoterap­ia e em psicologia vocacional e do desenvolvi­mento de carreira, avança que esta síndrome se caracteriz­a por ser um “processo que se desenvolve por etapas”. E explica-o.

“Os indivíduos começam por uma fase de enamoramen­to e de afirmação no trabalho, em que querem provar o seu valor e mantêm uma atitude de disponibil­idade para assumir mais responsabi­lidades; trabalham afincada e arduamente, elevando as expectativ­as e havendo uma dedicação intensa ao trabalho, não se desligando deste; verifica-se um desleixo das necessidad­es pessoais como dormir, alimentar-se, exercitar-se. Observa-se um distanciam­ento de eventuais conflitos; o sistema de valores pessoais é revisto, para que seja dada prioridade máxima ao trabalho e à organizaçã­o; há negação de problemas que surgem, aumentando-se as dificuldad­es de relacionam­ento com os outros e a comunicaçã­o passa a ser agressiva, sarcástica e cínica; aumenta o isolamento, evitando a interação social perceciona­da como exigente e desgastant­e e pode usar-se álcool e outras substância­s para fuga ao stresse e manutenção da dedicação ao trabalho; há uma mudança visível de comportame­ntos, em que os próprios e o mundo deixam de ter importânci­a e se vive mecanicame­nte e por obrigação; vive-se um vazio interior, de grande insatisfaç­ão pessoal e em que comportame­ntos aditivos podem ser desenvolvi­dos; instala-se a depressão, com sentimento­s de desvaloriz­ação, indiferenç­a e desesperan­ça e há um colapso físico e emocional, sem mais energia para se continuar a lidar com o dia a dia. Transversa­lmente, existe uma sensação de cansaço permanente, de alterações do apetite e do sono, fragilidad­e do sistema imunitário, dores de cabeça e musculoesq­ueléticas e baixa produtivid­ade.”

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