GQ (Portugal)

MÚSICA

O músico paulista de 20 anos está a fazer furor no Brasil e não só. A sua notoriedad­e tem crescido em flecha e o fenómeno em seu redor já não deixa margem para dúvidas. Vitão veio a Lisboa e apresentou-se à GQ.

- Por Diego Armés. Fotografia de Estelle Valente.

Conheça Vitão, o artista emergente da MPB que está a dar cartas no Brasil – e por cá também.

Dizemo-lo sem hesitações: é a next big thing brasileira. Aliás, talvez Vitão já não seja propriamen­te next, ele é uma big thing. Se não, vejamos: cada vídeo que publica no YouTube atinge os 30, os 40, às vezes os 50 milhões – com sublinhado em “milhões” – de visualizaç­ões; em outubro atuou no Rock in Rio ao lado de Projota diante de dezenas de milhares de pessoas; e, last but not at all least, gravou um teledisco com Anitta. O músico paulista de apenas 20 anos passou por Lisboa numa operação de charme para antecipar os concertos que dará em Portugal no próximo verão e nós aproveitám­os para conversar um pouco com ele.

Pedimos-lhe que se apresentas­se aos leitores da GQ. “Acho que me apresentar­ia como artista de música popular brasileira [MPB]”, começa por dizer, como quem ainda está a desbravar e vai acrescenta­r algo. “Quando alguém fala MPB, as pessoas têm ainda uma ideia um pouco conservado­ra. Pensam no Caetano Veloso e no Chico Buarque e somente isso.” Calma, Vitão explica onde quer chegar. “Eles com certeza são MPB, a música deles com certeza é a raiz da MPB, mas a MPB existe até hoje. Na minha conceção, a MPB é simplesmen­te uma música comunicati­va e que conversa com as pessoas.”

A explicação de Vitão tem uma razão de ser. Aquilo que ele canta e que ele toca está bastante distante dos grandes clássicos da MPB. Aceitando que podemos incluir as criações do jovem músico nesse enorme saco que é a música popular brasileira – até porque é música, é popular e é brasileira –, há que perceber que Vitão faz parte de uma vaga de músicos distantes dessa sua raiz que misturava cantares tradiciona­is e ritmos antigos, que bebia da bossa nova e que se inspirava no samba. Vitão é da era do baile funk, do R‘n’B da favela, do hip-hop fundido e diluído por tudo quanto é tendência dos anos 10 do século XXI. “Eu tenho-me apresentad­o como MPB, por mais que eu cante um género pop englobado com um monte de coisa, com rap, com samba e com pagode, com bossa nova, com soul e com blues.”

A pesar de fazer parte de uma nova era, Vitão não nega as suas influência­s na tradição brasileira. “Hoje em dia, aquilo que me influencia é até mais nacional do que já foi”, diz. “De há uns anos para cá, tenho escutado muita MPB, muito samba, muito pagode.” Quando era mais novo, ouvia outras coisas. “Escutava muito blues, sempre escutei muita música negra americana, muito soul, muito R‘n’B, sou o maior fã do mundo de Michael Jackson, sou muito fã de Marvin Gaye, de James Brown.” O músico tem vestida uma T-shirt dos Guns ‘n’ Roses, de quem também assume gostar. “Quando era mais novo ainda, eu era muito fã de rock”, admite e depois confessa que Slash, o guitarrist­a dos Guns, é um dos seus ídolos. “Até o meu cabelo lembra ele.” [Risos.]

DO AUTORRÁDIO AO MAINSTREAM

Vitão fala sobre os tempos em que ouvia muito hard rock – AC/DC, Aerosmith, por aí fora. Ouvia e tocava, a guitarra elétrica era um elemento presente em ambas as vertentes. O músico revela que começou a tocar guitarra muito cedo. “Tinha um violão lá em casa e comecei por aí.” Mas não começou de uma maneira habitual. “Quando a minha mãe me levava para a escola no carro, ela costumava escutar Beethoven.” Vitão conta que adorava a melodia da 9.ª Sinfonia e que aquilo lhe foi ficando na cabeça. Chegava a casa e tentava descobrir como é que se tocava a música. Tirou-a de ouvido, tinha 8 anos. Quando o pai percebeu – “quem te ensinou isso?”, “ué, ninguém” – o que o seu prodígio tinha feito, declarou o inevitável: tinha de aprender violão, foi ter aulas de música.

O violão levou à guitarra elétrica e esta cresceu sozinha até aos blues e ao rock de que se falou atrás. Entretanto, estudou composição, harmonia e, de novo, violão, numa vertente mais voltada para a música brasileira, “com acordes mais brasileiro­s e harmonia brasileira”. A evolução enquanto músico permitiu-lhe continuar a fazer aquilo que fez logo no primeiro momento: tirar músicas de ouvido. Filmou-se a si mesmo a tocar e a cantar, publicou o resultado no YouTube – é que Vitão tinha uma estratégia. “Eu queria ir juntando material para que, quando lançasse as músicas autorais, eu já tivesse uma fanbase, nem que fossem 100 pessoas ali para ouvir.” Nessa época dos vídeos no YouTube, começou a tocar em bares e deu aulas de música.

Os vídeos online ajudaram-no a chegar às pessoas de editoras e de agências, aos empresário­s que tem hoje. Em 2018, começou a gravar em estúdio. Ao início, gravava apenas singles, “numa estratégia de ir lançando um por mês”, depois lançou um EP. O primeiro álbum de longa de duração só foi lançado recentemen­te, no início deste ano, e chama-se Ouro. Neste disco, Vitão conta com a colaboraçã­o de vários músicos, “todos escolhidos a dedo, pessoas próximas, pessoas que ajudaram muito”.

ANITTA

A lista de colaboraçõ­es é longa e inclui, por exemplo, o português Diogo Piçarra, mas há um nome que sobressai: o de Anitta. A megaestrel­a brasileira coprotagon­iza o videoclipe de Complicado com Vitão. Há um antes e um depois de Anitta? “Há”, diz o cantor sem hesitações. “Ela me ajudou muito e, de repente, eu estava em todo o lado.” O cresciment­o no Brasil foi tão óbvio quanto imediato, mas não se ficou por aí. Vitão chegou a outros mercados na América do Sul e até nos Estados Unidos. O resto do mundo será uma questão de (pouco) tempo.

Nas gravações do vídeo, Vitão e Anitta protagoniz­aram cenas quentes com beijos que muito deram que falar – a relação do músico com a sua namorada da altura foi abalada e há quem diga que chegou ao fim por causa desta aproximaçã­o a Anitta, embora Vitão e Thaylise Pivato, assim se chama a ex-companheir­a, neguem essa versão. A pergunta que se impõe: Anitta beija bem? Vitão ri-se, “já me fizeram essa pergunta várias vezes”, e depois esclarece, sem surpresas: “Beija muito bem.” “Ela também treina muito, né?” Diz isto e ri-se de novo. Sem-vergonha.

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