GQ (Portugal)

PERFUME

Um perfume foi a razão perfeita para uma conversa transatlân­tica com o ator Pedro Pascal, o agente Peña na série Narcos.

- Por Ana Saldanha. Fotografia de Gonzalo Machado.

Pedro Pascal: um ator de contrastes para uma fragrância de contrastes.

AA fórmula do sonho americano de Hollywood parece simples: o jovem sonha e o papel que é a chave para a fama nasce. Mas nem sempre a história é esta linha reta. Para Pedro Pascal houve uma vida antes e depois de Game of Thrones. O ator, que já tinha feito pequenos papéis em televisão e que se dedicava ao teatro em Nova Iorque, conseguiu, aos 37 anos, o papel que lhe abriria as portas que achava que já estavam trancadas.

Depois de ser o príncipe Oberyn Martell, em 2013, surge o papel que cristaliza a chegada à meta após uma maratona de audições e castings que nem sempre tinham finais felizes: Javier Peña, o agente da DEA (Drug Enforcemen­t Administra­tion) enviado pelo FBI para capturar Pablo Escobar, na série Narcos.

Foram três anos de uma série em bom que retratou o mau e o vilão e Pascal não parou mais. O ator chileno foi um mercenário em The Great Wall, um agente secreto em Kingsman: The Golden Circle,o bad guy em The Equalizer 2 e, mais recentemen­te, o protagonis­ta da série The Mandaloria­n, a primeira série spin off do franchise Star Wars em parceria com a Disney+.

Mas não só de polícias e antagonist­as se fez Pascal. Em 2017 o ator foi convidado para ser embaixador da campanha de Solo da Loewe e, este ano, é o rosto de Mercurio, a nova fragrância da marca de luxo espanhola.

Como foi voltar a ser um homem Loewe com esta nova fragrância?

Bem… é muito especial representa­r uma marca com tanta qualidade. Toda a gente que eu conheço adora a Loewe e é muito gratifican­te representa­r uma banda com tanto bom gosto.

E esta nova fragrância, Mercurio, é feita de contrastes… Como é que te identifica­s com esses contrastes?

Eu acho que o mundo inteiro é um contraste, a realidade é um contraste de ideias e de sentimento­s. E eu estou sempre a identifica­r os contrastes que fazem parte dos meus dias… Por isso acho que o contraste é a ideia mais realista que se poderia usar numa campanha.

E qual é a tua parte favorita desse contraste no perfume?

Eu adoro que seja um aroma muito imprevisív­el. Não dá para identifica­r se é particular­mente doce ou particular­mente masculino. É uma fragrância aberta a todas as interpreta­ções.

É habitual associarmo­s os homens das campanhas de perfume a charme e classe. Qual é o beauty secret de um homem Loewe?

Bem… Eu tenho sorte e não tenho muitos segredos [risos]. Acho que o único verdadeiro esforço que posso fazer é cheirar bem. O resto ou é por acidente ou por engano.

Muita gente te conhece por causa da série Narcos. Como foi fazer parte de um projeto que teve tanto sucesso?

Foi muito especial fazer parte de uma experiênci­a televisiva que definiu a fasquia para o que é possível fazer em storytelli­ng televisivo. Eu lembro-me de ver o Tropa de Elite antes de filmarmos o primeiro episódio de Narcos e pensar que se conseguíss­emos alcançar a experiênci­a visual daquele filme e transformá-lo numa série, iríamos fazer o que ainda ninguém tinha visto. E acho que foi isso que aconteceu, especialme­nte graças aos locais fantástico­s em que estivemos a gravar. Foi incrível viver na Colômbia durante aqueles três anos de gravações.

Porque é que as pessoas gostam tanto de programas sobre barões da droga e, especialme­nte, sobre Pablo Escobar?

Eu não acho que seja sobre droga… Acho que as pessoas se sentem fascinadas pelo poder e pela guerra, que são coisas que encontramo­s em todas as facetas da sociedade, de organizaçõ­es criminosas a políticas… E acho que a série [Narcos] foi um grande reflexo das lutas de poder no mundo.

Também fizeste parte de Game of Thrones e, mais recentemen­te, da série The Mandaloria­n. Como foi fazer parte de projetos com uma grande base de fãs? Sentiste a pressão?

Não, de todo. Como ator, sinto que sou apenas o veículo para a visão de alguém e, especialme­nte nos três programas que mencionast­e, havia um grupo de realizador­es, argumentis­tas e criativos visionário­s atrás das câmaras. Se havia alguma pressão, eles acabaram por proteger-me dela.

“TU AUMENTAS SEMPRE AS CHANCES SE FIZERES MAIS E DURANTE MAIS TEMPO. ACABA POR SER UMA FÓRMULA MUITO SIMPLES E CONCRETA PARA UMA VIDA MUITO ABSTRATA. CÁ ESTÁ O CONTRASTE”

Mas apesar de teres feito parte de projetos tão bem-sucedidos, o teu caminho para o sucesso foi longo, certo? Fala-me disso…

Eu queria ter sido bem-sucedido muito mais cedo e partiu-me o coração quando isso não aconteceu… Mas depois tornei-me pragmático e continuei a ser muito grato por todo o caminho que estava a fazer e por qualquer dinheiro que ganhasse em qualquer trabalho que conseguia. Chegou a um ponto em que, mesmo sem estar a ganhar muito, estava rodeado de amigos atores, guionistas e pessoas do teatro e era feliz. E foi aí que parei de tentar criar a ideia do que eu achava que era o sucesso... e foi precisamen­te quando eu menos estava à espera que apareceu o papel de Game of Thrones… E a partir daí a minha vida mudou drasticame­nte.

E achas que isso pode ser um exemplo para que jovens atores que estão a ter dificuldad­es continuem à espera do seu Game of Thrones?

Exatamente. Eu acho que a única razão pela qual isso me aconteceu foi porque eu continuei a tentar. Tu aumentas sempre as chances se fizeres mais e durante mais tempo. Acaba por ser uma fórmula muito simples e concreta para uma vida muito abstrata. Cá está o contraste [risos].

Até se torna difícil acompanhar todos os projetos diferentes que estão a sair e as plataforma­s diferentes em que saem. Acho que estamos num momento com um mercado muito abundante para pessoas que querem contar histórias.

E achas que o facto de serviços de streaming como a Netflix estarem a produzir conteúdos em língua não inglesa está a abrir portas para os atores?

Sem dúvida. E acho que é incrível. Estão constantem­ente a recomendar-me produções originais do México, de Espanha, de Itália, de Israel… E todos na sua língua materna. Acho que é uma coisa incrível que antes simplesmen­te não tinha espaço para existir.

E os EUA ainda têm um caminho longo a percorrer até aceitarem conteúdos em língua não inglesa?

Eu acho que… Sim. Sim, temos um longo caminho a percorrer em termos de alargar horizontes no entretenim­ento, para a língua, para a representa­tividade inclusiva, para haver mais mulheres realizador­as e argumentis­tas… Acho que estão a acontecer muitos dos debates certos e, a longo prazo, espero que a conscienci­alização crie resultados.

E depois de personagen­s tão memoráveis, qual é o papel de sonho?

Não sei… Nem sei se tenho um papel de sonho… Acho que é mais uma experiênci­a de sonho: divertir-me imenso num projeto com amigos.

E realizar ou escrever está nos planos? Secretamen­te eu gosto muito de escrever e é algo que faço desde criança. Mas sou mais recatado quanto à escrita porque é um trabalho muito mais exposto e vulnerável e nem sei se sou bom a fazê-lo, precisamen­te porque é difícil partilhá-lo. Mas talvez um dia...

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