COMER PARA QUERER
Um jornalista que gosta muito de comer resolveu lançar o livro dedicado a quem com ele partilha essa paixão. Sem tabus e sem limites, Ricardo Dias Felner apresenta O Homem Que Comia de Tudo.
Quando nos encontramos para conversar sobre O Homem Que Comia de Tudo (Quetzal), o autor, Ricardo Dias Felner, aproveita para falar acerca da maneira como se escreve sobre comida em Portugal. O assunto tornou-se sério, pesado, às vezes maçador, frequentemente demasiado técnico e no limiar do pretensiosismo. Foi um encontro em Lisboa durante o qual Felner aproveitou para mostrar as iguarias de um singular tasco chinês perto do Martim Moniz e demonstrar o seu espírito aventureiro num recanto bengali cujas delícias não justificam o risco, ali ao lado, na Rua do Benformoso.
É este o perfil de Felner, jornalista, escritor, blogger e foodie, que confirma tudo o que se possa esperar do autor de um livro intitulado O Homem Que Comia de Tudo –e é uma impressão que fica sublinhada após a leitura do mesmo. Não se espere daqui um guia prático nem um compêndio com curadoria de Felner – se procura uma enciclopédia com estrelinhas gastronómicas, afaste-se rapidamente deste objeto. Aqui fala-se de comida e de comer, de experimentar e de conhecer. Fala-se de se ser apaixonado pelo que se come e ainda mais por se descobrir sabores, texturas e misturas, origens, tradições e invenções.
No livro, corre-se o mundo e as receitas, encontram-se desabafos e desejos. Comer é tão depressa elevado a forma de arte como logo a seguir é rebaixado a impulso primitivo. Mas nem tudo em comer é comida, que a vida não é só gastronomia. Há aqui muito pensamento e várias declarações e análises que, todas juntas, acabam por determinar, se não uma filosofia, uma forma de estar na vida. Das criações dos grandes chefs à feijoada de chouriços, dando ênfase à pimenta de Sichuan e nunca virando a cara ao que é exótico, Ricardo Dias Felner agrupa textos diversos que nos conduzem pelo maravilhoso mundo de gostar de comer.