GQ (Portugal)

JÉSSICA SILVA

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Fala-nos de um momento em que sentiste mudança. Sinto que a minha vida está repleta de mudanças, são tantas e todas tão importante­s que se torna difícil escolher uma. Qual delas escolher? Provavelme­nte, quando tive de deixar de viver com a minha mãe e com os meus irmãos, todos eles mais novos que eu, exceto a minha irmã gémea. Costumava levá-los à escola, ao infantário, aos treinos, ir às compras, fazer o lanche e arrumar a casa. Foi muito difícil. Ou então quando saí de Portugal pela primeira vez e fui viver para a Suécia em busca dum sonho – assinei o meu primeiro contrato profission­al. Aos 19 anos, tornei-me jogadora profission­al. País novo, cultura completame­nte diferente, vivia sozinha. Sabia inglês, mas se em condições normais me faltava coragem para falar, muito mais difícil se tornou ali, onde era preciso comunicar constantem­ente em inglês. A equipa era nova, uma potência europeia, com aquelas jogadoras... elas eram as estrelas. No treino, só se falava sueco, poucas ou nenhumas vezes o treinador falava inglês. Tinha um par de colegas que faziam questão de me fazer entender os exercícios.

Foi difícil, fazia frio, os dias eram escuros. Tornavam-se mais claros e bonitos quanto eu me fazia ver no treino e, numa jogada, trazia momentanea­mente magia e lá ouvia delas

“wow, well done Jessi!”, ou então quando me juntava nos meetings da malta universitá­ria lá da cidade, Linkoping – foi a forma que eu arranjei de me poder abstrair e colmatar a ausência dos meus e ao mesmo tempo adaptar-me ao país e conhecer gente nova. Foi duro, foi difícil, mas hoje agradeço todos os dias pela experiênci­a ou não seria aquilo que sou hoje.

Resume mudança numa frase. A mudança é uma atitude, quase sempre um desafio e sempre uma aprendizag­em. No fundo, é permitirmo-nos o cresciment­o e, nesse sentido, tornarmo-nos melhores.

O que é que é preciso mudar já? E qual é o primeiro passo para essa mudança?

O respeito e o bem-querer pelo próximo: mudava muita coisa no mundo. E como? Talvez se fôssemos todos liderados por pessoas com valores mais claros e vincados, assim como pessoas mais inspirador­as. A intolerânc­ia que existe no mundo devia ser transforma­da em respeito, mas é um processo que cada vez parece mais custoso, dá a sensação de que cada vez é mais visível, até palpável e, ao mesmo tempo, os que mandam não querem ver ou fingem que não existe. A luta pelos nossos direitos – e a igualdade e o respeito são dois desses direitos –, NÃO DEVE ACABAR. São os mesmos para todos. Todos.

O que é que achas que nunca devia mudar? Somos todos responsáve­is, devíamos ser todos agentes dessa mudança. Preocuparm­o-nos todos um bocadinho, seria interessan­te.

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