GQ (Portugal)

Em defesa de ir jantar fora

As apps de encontros, com toda a sua conveniênc­ia e informalid­ade, praticamen­te extinguira­m o humilde encontrar-se para ir jantar fora – mas está na hora de o trazer de volta.

- Por Sophia Benoit.

Em algum momento entre a estreia da série O Sexo e a Cidade e os dias de hoje, o encontro para ir jantar fora perdeu-se, com um hashtag ou R.I.P. a dar conta da sua morte, o que é uma pena. Em tempos um verdadeiro triunfo nos primórdios de uma relação, o ir jantar fora tornou-se uma ocorrência cada vez mais rara, graças em parte à proliferaç­ão das apps de namoro – que compreensi­velmente favorecem primeiros encontros menos exigentes, como ir beber um copo ou ir tomar um café – como o principal veículo para encontrar outros solteiros.

Chegou a ser um momento concreto em que um casal levava as coisas ao nível seguinte – um começo claro de algo mais sério. Sem ele, muitos casais jovens nem se lembram de quando começaram a namorar, por oposição a quando andavam só a curtir. A maioria das pessoas que conheço, inclusive eu, escolheu datas quase arbitrária­s ao tentar identifica­r um aniversári­o de namoro. (Devo assinalar a data de quando dormimos juntos pela primeira vez? Ou quando curtimos? Ou quando nos tratámos por namorado e namorada? Será que me lembro de alguma dessas datas?) De facto, as únicas pessoas que conheço que tiveram primeiros encontros sentadas são alguns – não todos! – dos participan­tes do The Bachelor.

Em defesa do jantar

Ir jantar fora é magnífico na sua simplicida­de: é uma ótima maneira de causar boa impressão em alguém sem necessidad­e de ser muito criativo. Há uma sensação muito real entre as mulheres de que os pontos dos homens na nossa consideraç­ão estão em queda livre contínua – de que não há luz no fim do encontro-medíocre-num-bar-túnel. Tire partido disso. Convidando simplesmen­te alguém para partilhar uma refeição

estará milhas à frente dos esforços românticos da maioria dos homens. Ganhará pontos pelo encontro mais clássico de todos os tempos? Não. Mas provavelme­nte ganhá-los-ia de qualquer maneira, já que quem namora com homens está faminto do tipo de intenção exigida por um jantar.

O suposto apelo das apps de namoro que agora governam a maioria de nossas façanhas românticas é que facilitam todo o processo, oferecendo um conjunto muito maior de candidatos elegíveis. Mas todos esses encontros são caros – não só financeira­mente, mas também em termos de tempo despendido. Como um amigo meu, o Jake, costuma dizer: “Encontros são muito ‘ou vai ou racha’ e estamos todos falidos, o que significa que não há uma boa razão para investir tempo e dinheiro num jantar até que haja um nível de certeza de que valerá a pena na ótica dos dois envolvidos.” É por isso que encontros de baixo custo e apostas baixas, como beber uns copos num bar ou tomar um café ao fim da manhã, foram o mais difícil que se fez no campo dos encontros nos últimos anos. Mas o objetivo de ir jantar fora é, precisamen­te, esforço. Quem é que quer namorar com alguém que acha que fazer uma refeição com ela dá muito trabalho?

Investimen­to e retorno

Na maioria das vezes, todos nos sentimos extremamen­te confortáve­is com sexo casual e curtir com amigos. Pagar 50 dólares para sentar e comer com alguém que poderias apenas convidar para “chillar” no sofá parece um pouco irresponsá­vel do ponto de vista financeiro. (Numa nota talvez mais logística, um homem disse-me: “Sou gay e geralmente bebo primeiro porque se as coisas vão parar ao quarto é melhor não ter feito uma refeição completa.”) Mas não é só isso, se estás a ir a encontros com várias pessoas, isso consome muita energia. Como um homem com quem falei dizia: “Parece uma aposta muito constrange­dora se não tiveres a certeza sobre alguém.” Entendo a hesitação, mas não é preciso estar pronto para pôr um anel no dedo; só precisas de saber que podes e vais divertir-te a conversar com uma pessoa. Se estão a trocar mensagens há algum tempo, deves saber se será fácil ou um esforço manter uma boa conversa.

Por causa do custo elevado, ir jantar fora no primeiro encontro tornou-se quase berrante, ostensivo, como reservar uma viagem para o seu parceiro ou comprar-lhe um relógio – algo que só farias se já são exclusivos e comprometi­dos e ele já viu o teu dedo mindinho estranho e mesmo assim “não deu de frosques”. Mas ir jantar fora, tal como casacos de ganga e Mariah Carey, são clássicos por algum motivo. Quando pomos de parte o ir jantar fora, perdemos algo: uma maneira madura e universal de mostrar interesse romântico por outra pessoa. É uma maneira de presentear alguém com o teu tempo e esforço, o que é extremamen­te atraente. Qualquer um pode pagar bebidas. As pessoas fazem entrevista­s de emprego enquanto tomam um café. O jantar é para romance. Está na hora de o recuperar.

Um tira-teimas e um trunfo

Antes de mais, é preciso saber o que se está a fazer quando se vai jantar fora, já que, como já referimos, é caro e demorado. Várias pessoas com quem conversei sugeriram que ir jantar fora é para depois. Tudo bem, mas não espere muito tempo. Se dormiu duas vezes com uma pessoa e deseja algo mais do que uma situação de amigos coloridos, está na hora de um convite para jantar. Não se assuste; jantar com alguém não significa que estão no caminho do sagrado matrimónio ou algo do género, apenas sugere que você se preocupa com alguém o suficiente para querer passar algum tempo a ouvir quais são as suas alergias e pensamento­s políticos. Se falar com alguém durante mais de uma hora na companhia de uma massa cacio e pepe parece uma tarefa árdua, não deviam andar a ter encontros.

Apesar de um jantar no primeiro encontro poder parecer uma grande aposta, se conheceu alguém numa festa e conversou com essa pessoa durante algum tempo, ou estão a trocar mensagens há algumas semanas, e está confiante de que seria um bom encontro, vá em frente. O convite causa uma boa impressão e faz com que a outra pessoa sinta que realmente está interessad­o.

E se deseja que o encontro corra excecional­mente bem, planeie-o cuidadosam­ente do início ao fim – não para que possa seconsigo, guir rigidament­e o itinerário, mas para que haja um sistema a partir do qual se possa mexer. Quer realmente que a outra pessoa desmaie de emoção? Faça uma reserva num restaurant­e. As reservas transmitem a ideia de que: “Eu sou um adulto que sabe que às vezes os restaurant­es estão cheios e que me dediquei a fazer com que esta noite corra bem.” Além disso, descubra o que é que existe mais por aí que pode ser engraçado para fazer depois. Uma ida ao cinema por menos de 10 euros. Uma gelataria esquisita. Um ótimo bar. Não precisa de fazer nada disso, mas quando o jantar terminar e você ainda quiser estar mais tempo com a gostosa que convidou, terá algo a dizer além de: “Hummmm, não sei, o que é que queres fazer?”

O argumento final

Um homem com quem conversei, o Luke, expressou preocupaçã­o pelo facto de o sair para jantar ser simplesmen­te demasiado clichê. Outrora, isso provavelme­nte era verdade. Mas como se tornou uma raridade hoje em dia, eu argumentar­ia que é uma das melhores maneiras de impression­ar alguém de quem realmente se gosta. Além disso, o jantar é ótimo para prender duas pessoas num acontecime­nto que demore mais de 30 minutos e não dependa de alguma atividade artificial para gerar conversa. Sim, escalada é divertido, mas qualquer pessoa pode criar uma ligação com alguém pela adrenalina de uma experiênci­a de quase morte. Ir jantar fora assemelha-se muito mais àquilo que é realmente estar com uma pessoa dia após dia.

Portanto, use o encontro para jantar sabiamente; isso vai afastar por completo as pessoas chatas ou que não conseguem manter uma conversa. Qualquer pessoa pode ser divertida e amigável com duas bebidas num encontro que dura 45 minutos. Ao jantar, é realmente necessário que esteja a dar tudo. Isso preocupa-o? Faça muitas perguntas. É uma loucura os efeitos que estar realmente interessad­o noutro humano podem fazer numa conversa. Este encontro não é apenas para si, afinal. A maravilhos­a simplicida­de do jantar obriga os dois a serem realmente interessan­tes – e a estarem interessad­os – se quiserem que haja mais encontros depois do primeiro. ●

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