GQ (Portugal)

E TUDO O TEMPO MUDOU

Estas são as histórias de quatro grandes marcas de automóveis do mercado Europeu. Hoje, quando os vemos a rolar na estrada, ostentando os seus emblemas inconfundí­veis, talvez não imaginemos as metamorfos­es que sofreram desde a origem.

- Por Diego Armés.

Se nos cruzarmos com um Ferrari F8 Tributo, enquanto contemplam­os os seus traços inconfundí­veis e, provavelme­nte, o cobiçamos ou desdenhamo­s – dependendo das preferênci­as de cada um – com a discrição possível, devemos ter em mente que este modelo, um dos mais recentes da casa de Maranello, transporta consigo uma longa história. O mesmo sucede com os últimos modelos de outras marcas emblemátic­as, do Porsche 718 Cayman ao Alfa Romeo Giulia GTA, ou ao Volkswagen Arteon, para só mencionar alguns. Estes modelos sofisticad­os e tecnologic­amente avançados são o ponto mais alto de uma evolução que dura há décadas, que chega a ser mais que centenária em alguns casos. Mas a história destas marcas não é linear ou previsível. Na verdade, algumas destas marcas têm um passado surpreende­nte.

Alfa Romeo

Não é possível falar da Ferrari sem começar pela Alfa Romeo. A explicação é simples e será dada mais à frente.

Comecemos pelo princípio, antes de ser Alfa Romeo e antes de existir nos arredores de Milão. A primeira fábrica do que viria a ser a Alfa existia em Nápoles e resultou da parceria entre o fabricante francês Darracq e um aristocrat­a milanês chamado Ugo Stella. Desfeita a parceria, Stella transferiu a produção para os subúrbios de Milão e deu novo nome à empresa, ALFA – que nada tem a ver com o facto de ser a primeira letra do alfabeto grego; pelo contrário, trata-se de uma sigla com as iniciais de Anonima Lombarda Fabbrica Automobili (Milão é a capital da Lombardia).

Pouco depois de produzido o primeiro automóvel ALFA (o 24HP de 1910), a produção foi interrompi­da durante três anos devido à I Guerra Mundial, após o que retomou a atividade em 1916. Só que tudo tinha mudado. Já sob a direção de Nicola Romeo, a ALFA começou a produzir material de guerra – munições, motores, inclusive motores para aviões, e outras peças. Foi só em 1919 que a ALFA retomou o fabrico de automóveis, então já com um know-how acrescido depois da experiênci­a com o material de guerra. No ano seguinte, o novo líder da marca mudou o nome para aquele que hoje conhecemos, Alfa Romeo. O emblema da marca passou a ostentar a bandeira de Milão e o símbolo da cidade, o

biscione, a “cobra grande”.

Ferrari

Os modelos Alfa Romeo eram, nos anos 20 do século passado, potentes – tão potentes que disputavam as corridas automóveis da época com grande sucesso. Um dos pilotos da marca era Enzo Ferrari, que veio a mudar a história da Alfa Romeo antes de criar a sua própria marca: em 1923, foi o próprio Ferrari a ir buscar o designer da FIAT para a Alfa Romeo.

O papel de Enzo Ferrari na Alfa Romeo foi crescendo, ao ponto de, em 1929, liderar a Scuderia Ferrari da marca milanesa. Em 1939, Ferrari separa-se da Alfa Romeo e constitui a Auto Avio Costruzion­i, que começa por fabricar maquinaria e material de aviação. Em 1940, produz o primeiro carro de competição, o Tipo 815, a partir de uma base de um FIAT, que haveria de competir na Mille Miglia. Porém, não houve muito tempo para competição, devido à II Guerra Mundial. Em 1947, a história mudou definitiva­mente: foi lançado o primeiro automóvel com o emblema da Ferrari e ostentando o nome do seu criador. Nascia o Ferrari 125S.

Porsche e Volkswagen

As duas marcas alemãs surgem juntas porque não podem, de todo, ser dissociada­s na sua origem e nos primórdios da sua história. Antes de mais, havia duas situações em simultâneo: as oficinas Porsche, em Estugarda, faziam consultori­a mecânica e desenvolvi­am peças, mas não fabricavam automóveis; Adolf Hitler procurava um fabricante que conseguiss­e desenvolve­r um automóvel de baixo custo, que fosse acessível a qualquer cidadão alemão do Terceiro Reich.

O engenheiro Ferdinand Porsche, que já tinha desenhado alguns automóveis de luxo e desenvolvi­do modelos de competição com grande sucesso, vinha desenvolve­ndo há algum tempo os esboços para um protótipo com essas caracterís­ticas, precisamen­te. O modelo de Porsche, chamado Volksauto (“automóvel do povo”), não divergia assim tanto de outros contemporâ­neos que reuniam caracterís­ticas semelhante­s, tais como o Hanomag ou o Tatra T77, mas acabou por ser o escolhido pelo próprio Adolf Hitler. O führer alemão pretendia inicialmen­te que um dos fabricante­s

Ferrari 250TR sob uma forte chuva nos

treinos para as 12 Horas de Sebring, em 1959. A Ferrari nasceu da vocação

competitiv­a de Enzo Ferrari, que começou por ser piloto da Alfa Romeo. existentes produzisse o veículo de baixo custo, mas depressa se concluiu que isso não seria rentável para os privados, pelo que fundou, em Wolfsburgo, uma fábrica para produzir aquele que conhecemos como Beetle. O carro chamou-se Volkswagen (“carro do povo”). Quanto a Ferdinand Porsche, ainda antes de começar a desenhar e a produzir os bólides que fizeram história e que hoje conhecemos, concebeu pesados tanques de guerra na fábrica Volkswagen. No fim da II Guerra Mundial, e depois de ter deixado a Volkswagen e de ter sido preso, durante 20 meses, por crimes de guerra, Porsche fundaria a Reutter Karosserie, que acabaria por produzir o 356, tido como o primeiro Porsche (e que foi concebido a partir de uma ideia original de Ferry Porsche, filho de Ferdinand, que não conseguia encontrar o modelo de automóvel que procurava e, então, decidiu desenhar o seu próprio carro). ●

A HISTÓRIA DESTAS MARCAS NÃO É LINEAR OU PREVISÍVEL. NA VERDADE, ALGUMAS TÊM UM PASSADO SURPREENDE­NTE

 ??  ?? Uma verdadeira multidão multicolor de Volkswagen Beetles estacionad­os diante da fábrica de Wolfsburgo. O Beetle marcou o início da Volkswagen – e, de certa forma, o da Porsche também.
Uma verdadeira multidão multicolor de Volkswagen Beetles estacionad­os diante da fábrica de Wolfsburgo. O Beetle marcou o início da Volkswagen – e, de certa forma, o da Porsche também.
 ??  ?? Um Porsche 356, o primeiro modelo da marca, participa numa corrida em Laurel Run, na Pensilvâni­a, Estados Unidos da América, em 1956.
Um Porsche 356, o primeiro modelo da marca, participa numa corrida em Laurel Run, na Pensilvâni­a, Estados Unidos da América, em 1956.
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