O que nós queremos? MULHERES que nos governem!
Se a pandemia provou alguma coisa é que as nações lideradas por mulheres foram as que melhor responderam aos desafios causados pela doença, colocando sempre a ciência à frente do calculismo político. Jacinda Ardern, Angela Merkel, Tsai Ing-wen, Katrín Jakobsdóttir ou Erna Solberg. Estas mulheres deviam governar o planeta.
eEntrámos na terceira década do século XXI e o mundo já viu melhores dias. A começar pela pandemia e a segunda vaga que aí vem, mais a economia destruída que leva a ainda mais desigualdade, mais a emergência climática que o coronavírus não parou, apenas fez esquecer um pouco, mais o regresso dos nacionalismos e a disseminação do ódio através das redes sociais, mais…
Tempos como estes requerem grandes líderes. Na II Guerra Mundial, houve Winston Churchill, Charles de Gaulle, Franklin Roosevelt. Na Guerra Fria, o planeta só escapou ao apocalipse nuclear graças ao bom senso de John F. Kennedy e Nikita Kruschev. A Europa unida nasceu das ideias de Jean Monnet e Robert Schuman e cresceu com Helmut Kohl e François Mitterrand.
Que qualidades fazem um grande líder? Existe muita literatura sobre o assunto, geralmente arrumada na categoria de business intelligence que, na realidade, não é mais do que autoajuda para candidatos a gestores de “grandes” empresas. E que enumera uma série de qualidades que, bem, não são mais do que senso comum... O grande líder deve ser honesto, íntegro, confiante, inspirador, assertivo, corajoso, empático, criativo, humilde, dotado de inteligência emocional, transparente, capaz de delegar, e por aí fora.
Olhando para todas estas qualidades, sabemos imediatamente quem não as tem. Os maus líderes têm-se espalhado pelo mundo como uma pandemia à parte e é difícil encontrar qualquer item desta lista em Donald Trump. Ou em Jair Bolsonaro. Ou mesmo em Boris Johnson. E não esqueçamos Vladimir Putin e Xi Jinping, cuja grandeza como líderes só se mede, na realidade, pelo poder que detêm e pelo que são capazes de fazer para o manter, incluindo naturalmente a repressão.
DECÊNCIA E COMPETÊNCIA
Onde podemos então encontrar hoje as qualidades que forjam, se não os grandes líderes, pelo menos os bons e decentes, até porque nesta altura do campeonato já estamos um bocado por tudo… Podemos, por exemplo, olhar para a maneira como as nações lidaram com a pandemia, categoria em que podemos arquivar logo à partida Trump, Bolsonaro, Johnson e outros na gaveta de como não fazer. Do lado oposto, o da competência, quem é que se destaca? Eis alguns nomes: Angela Merkel, Jacinda Ardern, Tsai Ing-wen, Katrín Jakobsdóttir, Erna Solberg, Mette Frederiksen, Halimah Yacob.
Se a humanidade atingisse um estado de emergência tal que fosse preciso, de repente, formar um governo de unidade mundial – um pessimista diria que tal cenário já esteve mais longe –, quem é que deveria fazer parte? Os nomes atrás referidos fariam certamente parte desse executivo global, a que podíamos ainda juntar Ursula von der Leyen, Margrethe Vestager, Elizabeth Warren ou Kamala Harris. É isso mesmo: um governo mundial de mulheres, livre da testosterona que, num tempo perigoso e sensível como o que vivemos, temos de admitir que não é a melhor hormona para lidar com a situação. Mas vá lá, atiremos alguns homens para o baralho, que nem todo o género caiu na incompetência lunática. Emmanuel Macron, um homem decididamente sensato, caberia neste governo. Assim como, naturalmente, Barack Obama (nem que fosse pelo estilo) ou mesmo António Guterres, talvez num papel de conselheiro.
BEM PREPARADAS
Se a pandemia de covid-19 trouxe algo bom foi uma espécie de clarificação mundial em relação a quem estava preparado para a enfrentar. Quem utilizou as melhores armas, quem ponderou as melhores respostas, quem colocou a ciência à frente do cálculo político, quem não teve medo de dizer, sempre, a verdade aos seus cidadãos. O mundo mudou e a mudança exige novas formas de liderança e governo. E, até prova em contrário, quem se saiu melhor foram as nações lideradas por mulheres.
E, claro, já foram feitos estudos. Como o realizado por três investigadores da Universidade de Michigan – Soumik Purkayastha, Maxwell Salvatore, Bhramar Mukherjee – com o título Are women leaders significantly better at controlling the contagion? (Serão as mulheres líderes significativamente melhores a controlar a epidemia?), que, mesmo não provando a tese para lá de todas as dúvidas, mostra que a tendência é real. O tempo de resposta após o aparecimento do vírus é ligeiramente melhor nos países governados por mulheres, assim como a percentagem de população testada é maior nas nações com liderança feminina, com 3,28%, contra 1,59% nos países com liderança masculina. “Embora não seja estatisticamente significativo, os países liderados por mulheres têm uma vantagem sobre os países liderados por homens em termos de indicadores de saúde pública para controlar a propagação da pandemia de covid-19”, concluem os autores do estudo.
Noutro estudo, este pelas professoras de Economia Supriya Garikipati, da Universidade de Liverpool, e Uma Kambhampati, da Universidade de Reading, as investigadoras propõem-se verificar se há diferenças significativas nos números da covid-19 entre países liderados por homens e mulheres no primeiro trimestre da pandemia e se essas diferenças podem ser explicadas por diferenças nas medidas políticas adotadas por líderes masculinos e femininos. Recorrendo à análise de diversas variáveis, das características socioeconómicas e demográficas à gestão de risco e ao estilo de liderança, as autoras do estudo concluem que “os resultados são sistemática e significativamente melhores em países liderados por mulheres e, em certa medida, isso pode ser explicado pelas respostas políticas pró-ativas que adotaram”. As investigadoras vão ainda mais longe: “Mesmo tendo em consideração o contexto institucional e outros fatores, serem liderados por mulheres proporcionou aos países uma vantagem na crise atual.”