TOQUE DE SEDA
O universo masculino contém seda e isso deve-se, em boa parte, à Hermès, às suas gravatas e aos seus lenços. Falámos com Cristophe Goineau, diretor criativo das sedas masculinas da Maison.
Aseda é, juntamente com o couro, um dos pilares da herança Hermès. A história da seda Hermès começou em 1937, com o lançamento do icónico carré (quadrado de seda, na altura de 90 cm X 90 cm) feminino Jeu des Omnibus et Dames Blanche, inspirado num jogo da época. Em 1949, a moda masculina ganhou um novo aliado com a primeira gravata estampada Hermès.
Cristophe Goineau, diretor criativo das sedas masculinas da Maison desde 2011, fala-nos da herança da seda na Hermès, que hoje tem uma biblioteca em Lyon – onde toda a cadeia de produção de seda se realiza – com mais de 75 mil tons deste material emblemático da marca.
Pode fazer um resumo do que é, para si, a história do universo masculino de seda na Hermès – a herança, tradição e evolução nas últimas três décadas? Sem dúvida que a evolução é central. Na Hermès, evoluímos de forma constante e suave, a cada seis meses. A evolução é uma adaptação
do passado, para o tornar contemporâneo. Gostamos de dizer que preferimos a evolução à revolução. Cheguei há 30 anos a um universo muito influenciado pela gravata. Era o fim dos anos 80 e era o boom das gravatas extravagantes. Era uma época que pertencia a grupos, regras, códigos e a uma certa obrigação. Nos anos 2000, surgiu o cool-chic e um interesse por produtos diferentes, novos materiais, novas formas. Nos últimos anos, mudámos para um momento mais individualista, mais personalizável. Uma gravata tem de falar sobre quem a usa, ser próxima dos seus gostos, hábitos, estado de espírito... Mas a coisa mais importante agora, é o prazer que os nossos clientes sentem quando compram uma gravata, um cachecol, um lenço. Os homens têm mais prazer a fazer compras, dão cada vez mais importância aos detalhes, passam mais tempo a escolher um acessório, o que é algo novo. É uma altura muito interessante para desenvolver acessórios masculinos, com muito mais liberdade.
Como é que sente que a coleção da Maison causa e tem causado impacto na moda masculina? Na Hermès, seguimos o nosso próprio caminho, o nosso próprio estilo. Os acessórios masculinos na Hermès, são impregnados de cor, leveza, mensagens escondidas e humor. O maior impacto na moda foi que, penso eu, descontraímos e revelámos a fantasia e a imaginação que existe em cada um de nós.
Alguns dos desenhos e prints são feitos em colaboração com artistas externos, mas outros são elaborados dentro da Maison. Como é feita uma colaboração com um artista? Quais são os critérios de seleção? O processo criativo é sempre o mesmo para todos os acessórios masculinos. Começamos, geralmente, com a Verónique Nichanian, a diretora criativa do universo masculino da Hermès. O design tem de expressar o desejo do momento, dizer algo, ter um bom equilíbrio, um ritmo na sua composição e na sua escrita. Por vezes, os designers ou artistas gráficos contactam-nos de forma espontânea para trabalharmos em conjunto. Outras vezes, somos nós que queremos elaborar um projeto junto de um ilustrador ou artista. E depois existe aquilo a que chamamos os encontros “por acaso”, numa exposição ou porque um amigo fala de um ilustrador ou artista. Cada projeto é um pretexto para um encontro. Depois, falamos de materiais e formas. O último passo é a coloração. Acredito que as cores de um acessório têxtil são o elemento mais importante. É a chave do sucesso.
Pode falar-nos um pouco sobre como é feito o estudo do print para cada padrão e qual é a técnica aplicada nas sedas para as cores e os desenhos permanecerem tão precisos? Nos nossos workshops, em Lyon, imprimimos os nossos designs em suportes que foram previamente tecidos. A “Lyonnais Flat Frame” é uma técnica de serigrafia utilizada nos nossos carrés e gravatas, mas trabalhamos também, por vezes, com técnicas de jato de tinta. Há uns anos, tirámos tempo para refletir sobre esta nova técnica, trabalhando durante três anos nas novas propriedades para as compreender e dominar. Importa relembrar que o primeiro lenço Hermès foi impresso com um bloco de madeira em 1937. Acredito mesmo que “cada detalhe não é de todo um detalhe” e que a qualidade está precisamente escondida nos pormenores visíveis e invisíveis. Acima de tudo, gostamos de brincar com os quatro elementos que temos para criar um objeto de seda: o desenho (ou padrão), o material, a forma e a cor. ●