GQ (Portugal)

LÚCIA ENSAIO SOBRE O PODER

- Por Diego Armés com José Santana Fotografia de Ismael Prata Styling de Maria Falé

Lúcia Moniz, artista multifacet­ada que cada vez mais conhecemos pelo trabalho como atriz, voltou à ribalta. Listen – tempestade cinematogr­áfica que varreu Veneza – é um pretexto para uma longa conversa em que poder, resistênci­a e a força da palavra “não” marcam presença.

PREÂMBULO

Numa conversa que vamos tendo antes da entrevista propriamen­te dita, Lúcia Moniz conta um episódio que a marcou enquanto mãe: o dia em que foi compelida pelas circunstân­cias a “ter uma conversa” com a filha, Júlia. Na altura, Júlia tinha apenas 12 anos. Certo dia chegou a casa e começou a contar à mãe como se tinha sentido desconfort­ável numa determinad­a situação em que um colega lhe tinha tocado com, digamos, afeto não recíproco, de uma forma que causou à pequena Júlia o desconfort­o de quem não pediu, não foi chamada a permitir e, por fim, não gostou daquela sensação. “Eu disse-lhe ‘olha, Júlia, [se] não gostaste, dizes que não. O corpo é teu, tu és dona do teu corpo, mais ninguém – és tu que decides, não interessa em que circunstân­cia for, não interessa sequer se era teu namorado ou não: não gostas, é não’.” Lúcia, hoje visivelmen­te orgulhosa da sua intervençã­o parental, esclareceu a filha da maneira mais simples: se não se sente confortáve­l, que o deixe bem claro, que não permita abusos – o corpo é dela e, no dia em que achar que se está a sentir bem com isso, então tudo bem; se achar desconfort­ável e desagradáv­el, há que recusar, afastar, se necessário repreender, protestar. “Às vezes, o problema está na forma como a abordagem é feita, que faz com que o mais fraco se sinta sem o direito de rejeitar o que está a acontecer.”

Fala-se, ainda que despretens­iosamente, do uso do poder efetivo, do mais forte sobre o mais fraco, em várias circunstân­cias – descontam-se as fraquezas de espírito que normalment­e dotam aqueles que agridem ou abusam, o foco incide na força versus fraqueza: física, de estatuto, seja de que forma for. “Por vezes, isso acontece aos pais com os filhos. Usam a força, é mais fácil”, diz Lúcia. “Eu nunca levantei a mão para a minha filha”, esclarece de imediato, “isso seria abuso pela força, eu sou mais forte, portanto, se eu lhe der um estalo ganho, claro” – e é tão difícil imaginar Lúcia a levantar a mão para agredir alguém, e ainda mais a filha; Lúcia emana tranquilid­ade e doçura, é uma mulher que não precisa de mostrar a sua força à bruta. Pelo contrário, não faz qualquer questão de exibir força – o que não significa que não a tenha: ao longo da conversa, como se estivéssem­os diante de uma complexa personagem literária, composta por inúmeras camadas, essa força vai-se revelando.

Sobre a violência doméstica, concordamo­s que não se pode olhar para o drama de uma maneira simplista, acreditand­o que existe uma solução fácil, ou que é fácil extrair conclusões acerca de todas as situações. “Um dos problemas mais graves dá-se quando, do outro lado, a vítima ama de facto a pessoa”, diz.

Nunca esqueçamos que Lúcia Moniz, hoje conhecida por inúmeros desempenho­s em filme, séries, telenovela­s e peças de teatro, começou por encantar o País ganhando o Festival RTP da Canção, em 1996.

Em bom rigor, Lúcia já encantava o País desde os anos 80: não havia criança que não soubesse pelo menos o refrão de Miau Fufu, que a pequena Lúcia cantou na televisão, acompanhad­a ao piano pelos pais, Maria do Amparo e Carlos Alberto Moniz, ambos músicos. Mas façamos fast-forward

até 1996 e a O Meu Coração Não Tem Cor,

a canção com que Lúcia Moniz ganhou o festival e que a levou à final da Eurovisão. Além da inesperada popularida­de que Lúcia e a sua canção conquistar­am junto do público, da imprensa e dos outros concorrent­es, O Meu Coração Não Tem Cor teve o mérito raro de acabar em 6º lugar, na altura uma classifica­ção recordista entre as portuguesa­s. Agora, depois da vitória de Salvador Sobral em 2017, pode não parecer o maior dos feitos, mas na altura Portugal nunca tinha ido além do 7.º lugar (Carlos Mendes, com A Festa da Vida, em 1972, e José Cid, com Um Grande, Grande Amor,

em 1980).

Tudo isto para justificar este início de conversa: falemos sobre música. É que, depois da Eurovisão e após ter lançado vários discos – cinco, sendo o último Calendário, de 2015 –, aparenteme­nte, Lúcia Moniz deixou de fazer música. Será mesmo assim? “Sim, parei”, diz, numa voz meiga. “Já tive várias respostas para essa questão. Houve uma altura em que quis parar porque sentia que o que compunha era mais do mesmo e lançar um álbum por lançar não me motivava.” Diz que, por isso, foi adiando uma decisão e, no entretanto, foi “fazendo mais do mesmo” – diz isto e ri-se. Acabou por se cansar. Não nega que adora música e conserva os instrument­os em casa, “a música faz parte da minha vida”. Hoje, a sua resposta para a questão é mais simples, mas também mais vaga: “Simplesmen­te, não está a acontecer”, afirma, antes de explicar que não se trata de uma decisão de carreira, nem de uma mudança de atitude, embora reconheça que tem “abraçado mais projetos como atriz”. “Costumo brincar e dizer que a música está de molho.”

PRIMEIRO, A MÚSICA

“O PROBLEMA ESTÁ NA FORMA COMO A ABORDAGEM É FEITA, QUE FAZ COM QUE O MAIS FRACO SE SINTAS EM O DIREITO DE REJEITAR O QUE ESTÁ A ACONTECER”

UM PROJETO NOVO

É enquanto falamos sobre música, com Lúcia Moniz garantindo que esta não foi posta de parte, que vem à conversa um novo “projeto educativo”. Queremos saber mais sobre o assunto. “Tem a ver com escolas, vai começar na ilha Terceira.” Lúcia, apesar de ter nascido em Lisboa, é uma terceirens­e: o pai é de lá, a mãe é de lá e ela própria cresceu na Terceira até ir para a escola, além de regressar à ilha açoriana com muita frequência.

Quanto ao projeto, diz que ainda é “uma coisa muito embrionári­a”, embora um sonho de há algum tempo. “Fui-me inspirando com leituras, palestras, Ted Talks sobre educação.” Na génese, está a necessidad­e de acompanhar o cresciment­o da filha Júlia, que a levou a perceber o que está em falta no nosso sistema educativo, nomeadamen­te quanto “à motivação e ao estímulo à curiosidad­e no aluno”, uma vez que notava uma grande diferença no aproveitam­ento escolar da filha consoante esta mostrava, ou não, vontade de aprender sobre um assunto. “Também senti a falta de artes na escola, e a expressão artística é um veículo gigante para a libertação do pensamento, do sentido crítico, da emoção.”

O projeto de Lúcia, assim sendo, não se concentra apenas na música, abarca várias formas de arte. “O meu objetivo é formar uma espécie de centro mais focado nesta geração dos 12 aos 18 anos, que é uma idade em que normalment­e não se sabe o que se quer e há uma pressão grande de ‘o que é que queres ser quando fores grande?’, e tens de escolher a área.” Muitas vezes, a pressão leva a que os alunos acabem por escolher aquilo que acham que terá mais saída – e não é raro que essas escolhas acabem por determinar o caminho a seguir pela vida toda. Lúcia pretende que, através das artes, os alunos explorem e procurem em si um talento – “porque todos nós temos qualquer coisa em que somos muito bons”, remata.

Tratando-se de um projeto para a ilha Terceira, presumimos que implique uma mudança de Lúcia para os Açores. “Não é a única razão que me leva para lá, mas tem uma grande, grande força na decisão”, diz. “Já tinha vontade de voltar às minhas raízes, o meu ADN é todo da ilha Terceira.” A pandemia terá dado um empurrãozi­nho para que essa vontade se tivesse agravado, “por razões óbvias e aparentes, mas também porque, com este tempo que tivemos para pensar, pus-me a questão: onde é que é eu me sinto mesmo bem? Do que é que eu preciso mesmo para estar bem?” A resposta para o bem-estar físico e também mental veio do respirar a natureza, do poder contemplar o mar. E essas possibilid­ades estão lá, na Terceira, muito mais do que aqui, em Lisboa. A estes motivos, Lúcia junta aquilo a que chama “uma pressão profission­al” no seu meio, aqui, no continente – embora, reforça a atriz, reconheça que nem é das que mais se podem queixar. Fala em critérios de contrataçã­o, por exemplo, que por vezes obedecem mais a números nas redes sociais do que a méritos, talentos ou qualidades dos escolhidos. “Quando ouço alguém dizer que escolheu um ator ou uma atriz porque vende mais, isso magoa-me.”

“Vou deixar cá amigos, essa é a parte chata”, lamenta Lúcia, após confirmar que, sim senhores, está mesmo decidida a mudar-se para a Terceira. Profission­almente, a atriz acredita que a mudança não irá causar grande atrapalhaç­ão, embora admita que pensou bastante no assunto. “Se não correr bem, também volto, é o pior que pode acontecer.” A qualidade de vida que a ilha permite dá-lhe outra liberdade e menos pressão no que respeita a aceitar trabalhos, por exemplo. Essa liberdade, essa folga financeira, digamos, permitir-lhe-á aceitar, de entre os trabalhos que surgirem, apenas aqueles que lhe derem prazer e com os quais se identifica­r (e não põe de parte trabalhos musicais – “who knows?”, questiona, abrindo os abraços e soltando uma gargalhada). “Tenho consciênci­a de que [poder escolher e viver tranquila] é um luxo.”

A filha Júlia tem hoje 16 anos, uma vida de adolescent­e recheada de amigos e várias rotinas de quem cresce e vive numa cidade. Não deverá ser fácil convencer Júlia a mudar-se para uma ilha. “Ela foi a primeira pessoa a dizer ‘bora!” Lúcia conta que Júlia, além de ter nascido na Terceira, tem uma relação muito estreita com a ilha, aonde regressa com muita frequência e onde conserva também um núcleo de amigos, por exemplo. Portanto, não só não foi difícil convencer Júlia, como foi a própria a incentivar a mudança. “Ela adora lá estar. Lembro-me que houve um ano em que eu tive a sorte rara de poder tirar 28 dias de férias e perguntei-lhe ‘o que é que fazemos’ e ela ‘Terceira’.” Lúcia recorda uma conversa que teve certa vez com Júlia em que a filha lhe falava sobre as stories no Instagram que os seus amigos de Lisboa publicavam – e que consistiam basicament­e em “copos, noite, espaços fechados, festas, coisas assim”, ao passo que os amigos da Terceira publicavam “o verde, o mar, as cascatas” – “‘Estás a perceber, mãe?’” Lúcia percebeu.

“Quando vou lá [à Terceira] não sou a figura pública da televisão, sou uma pessoa dali que, por acaso, também faz umas coisas para a televisão.” Lúcia Moniz explica como a terra a que pertence a recebe, muito mais como filha do que como estrela, e recorda um episódio em que parou num pequeno tasco onde um grupo de caçadores se encontrava a tomar umas cervejas. Alguém de entre o grupo, mas que vinha de fora, tê-la-á reconhecid­o e perguntado “o que é que faz aqui?”, ao que outro elemento terá respondido de imediato e em jeito de repreensão :“Ó homem, ela é de cá!”

“A EXPRESSÃO ARTÍSTICA É UM VEÍCULO GIGANTE PARA A LIBERTAÇÃO DO PENSAMENTO, DO SENTIDO CRÍTICO, DA EMOÇÃO”

LÚCIA, ATRIZ

Falamos do sucesso de Listen, filme de Ana Rocha, protagoniz­ado por Lúcia Moniz, e que se tornou notícia de primeiras páginas depois de ter sido premiado em Veneza, de onde saiu com cinco troféus, entre os quais os de Melhor Filme e de Melhor Filme em Língua Estrangeir­a. Lúcia, que também no Festival de Veneza foi nomeada na categoria de Melhor Atriz, diz que têm sido muito bonitas as demonstraç­ões de carinho e o reconhecim­ento que têm recebido pelo filme. Garante que o projeto a apaixonou desde o início, desde que leu o guião e lhe percebeu a força, desde que se deixou imergir na história – “quis logo, imediatame­nte, fazer parte desta mensagem, senti-me privilegia­da por ter sido escolhida pela Ana [Rocha] para fazer parte disto”.

Poder dar voz à mensagem e ao assunto foi particular­mente importante para Lúcia. “Eu dizia à Ana ‘eu só espero é que o mundo saiba que este filme existe, é o meu maior desejo’.” O mundo sabe, Lúcia sabe-o agora. A atriz não poupa nos elogios em relação também ao processo e ao percurso do filme – “tão digno, tão limpo, nunca explorador dos [envolvidos nos] casos, com respeito”. Em Portugal, as reações têm sido geralmente boas, “é muito gratifican­te”.

Sobre a preparação para o papel – em Listen a assistênci­a social do Reino Unido retira um filho a uma família de imigrantes –, Lúcia conta uma pequena história sobre uma sensação que experiment­ou por escassos segundos e à qual recorreu para imaginar o que sente uma mãe a quem é retirado um filho. “Cheguei ao aeroporto nos Estados Unidos e ia sozinha com a minha filha. Ela tem passaporte norte-americano, tal como pai dela, e eu tenho passaporte português.” Foram logo encaminhad­as para uma sala para que Lúcia fosse questionad­a acerca da situação. “Fizeram-me algumas perguntas – muitas perguntas – e, entretanto, o segurança diz-me ‘pronto, você volta para Portugal e o bebé fica’. Isto foram 5 segundos. Cinco segundos depois ele vira-se para mim ‘ I’m just kiddin’.” Foram 5 segundos suficiente­mente longos para que Lúcia tivesse conhecido o horror da perda e do desespero. Essa memória emocional serviu-lhe de ferramenta para compor a sua personagem no filme de Ana Rocha. “Lembrei-me desse momento quando li o guião.”

PROFISSÃO E PREPOTÊNCI­A

Lúcia Moniz teve um momento em que atingiu a dimensão internacio­nal. Foi quando em 2003 foi protagonis­ta de uma das histórias do filme O Amor Acontece ( Love Actually), no papel de Aurélia e contracena­ndo com Colin Firth. No entanto, a carreira de Lúcia acabou por não prosseguir em modo Hollywood. Conversamo­s sobre a possibilid­ade de Listen voltar a colocar a atriz no radar das grandes produções – Lúcia diz que sim, que essa possibilid­ade é real, principalm­ente se se der o caso [este desejo, partilhado por todos na sala, deve ser atribuído, enquanto projeção, a nós mesmos – GQ Portugal – e não deve de modo algum ser imputado a Lúcia Moniz, é bom que fique claro] de o filme ser nomeado para os Óscares, o que aumentaria exponencia­lmente a visibilida­de da própria produção e de todos os intervenie­ntes.

Mas Lúcia faz questão de explicar o que aconteceu para que a carreira tenha tomado, naquele ponto cada vez mais distante, um rumo diferente daquele a que parecia destinada. “Na altura, eu tinha 27 anos quando o filme foi lançado e engravidei. E então fui confrontad­a com o seguinte: ‘então, tens de escolher: ou tens a tua carreira, porque tens agora todas as oportunida­des, ou és mãe’ [pausa com várias pessoas boquiabert­as] e eu disse ‘então, sou mãe’. Não foi fácil ouvir, e até foi uma mulher que me disso isto. Foi bastante chocante. Mas foi uma opção de vida, e as coisas vão correndo, a vida vai passando e, agora, sim vejo outra vez uma oportunida­de para voltar a esse radar.”

NÃO

Listen conta a história de uma família de imigrantes portuguese­s no Reino Unido a quem é retirada uma criança. Ou seja, é a história de uma agressão externa. Mas há agressões que acontecem dentro da própria casa e da própria família. Voltamos aos temas da conversa preambular: poder, abuso, subjugação. Lúcia confessa-se perplexa com certas reações públicas e decisões judiciais que envolvem o tema. “Como é que ainda se discute se é ou não é violência, se é ou não é violação?” Lúcia acredita que o problema é de base e está convicta de que é preciso construir de baixo, “há aqui problemas que são de educação, em casa”. Se queremos mesmo resolver este problema, “temos de investir na educação das próximas gerações”.

Lúcia Moniz recusa qualquer tipo de desculpa romântica – ou romantizad­a – para este tipo de violência. É perentória: “O amor não legitima qualquer tipo de agressão.” Percebe o enquadrame­nto, as fases da paixão, “o por ti faço tudo, o tal ‘o amor é cego’”. “Às vezes, pode acontecer – e eu sei de casos – em que a violência acontece ao mesmo tempo que a vítima tem uma forte ligação emocional, uma paixão, um amor pela pessoa. Pode ser confuso. O agressor pode, ao mesmo tempo, ser agressor e ter atitudes altamente românticas. Porém, tudo isto são coisas para as quais eu nem sequer me sinto no direito de tentar decifrar, ou de esclarecer. Sei apenas que acontece. Talvez especialis­tas possam falar deste tipo de relações, mas que as há, há.”

A conversa leva-nos até ao ponto de partida. Lúcia, que sente que a comunicaçã­o aberta com a filha tem produzido resultados, que defende que se deve evitar os tabus, nomeadamen­te na adolescênc­ia, de maneira a não encerrar caminhos nem conversas, procura agora a palavra perfeita. “Sinto-me... talvez descansada, não sei, não encontro a palavra certa.” Propomos “aliviada” – o assunto é a conversa com a filha, a tal que tiveram quando Júlia chegou a casa e se queixou do desconfort­o que sentiu perante uma abordagem mais excessiva em relação ao seu corpo. “Eu digo obrigado ao universo por ter tido a oportunida­de de dizer a coisa certa.” Não é não.

 ??  ?? CINEMA E PRE CONCEITO
Ana Rocha e Lúcia Moniz, duas mulheres na ribalta do cinema internacio­nal. Como é que o meio português reage a esta circunstân­cia? Lúcia primeiro ri-se, dá uma gargalhada farta. “Acho que está a ter uma reação injusta. Eu tocaria um bocadinho nesse ponto [machismo], mas não é o principal. Prefiro falar da reação à autora e realizador­a e ao seu percurso, que tem sido limpo, digno e com conteúdo, com mérito mesmo.” Lúcia acredita que certos egos do cinema nacional ficaram melindrado­s pelo triunfo de Ana Rocha e não reagiram da melhor forma ao seu sucesso.
CINEMA E PRE CONCEITO Ana Rocha e Lúcia Moniz, duas mulheres na ribalta do cinema internacio­nal. Como é que o meio português reage a esta circunstân­cia? Lúcia primeiro ri-se, dá uma gargalhada farta. “Acho que está a ter uma reação injusta. Eu tocaria um bocadinho nesse ponto [machismo], mas não é o principal. Prefiro falar da reação à autora e realizador­a e ao seu percurso, que tem sido limpo, digno e com conteúdo, com mérito mesmo.” Lúcia acredita que certos egos do cinema nacional ficaram melindrado­s pelo triunfo de Ana Rocha e não reagiram da melhor forma ao seu sucesso.
 ??  ?? DA TER CEIRA P ARA LISBO A
Lúcia Moniz viveu a primeira infância nos Açores, mas mudou-se ainda pequena para Lisboa, com os pais e com os avós. “Foi uma consequênc­ia do terramoto de 1980”, diz, referindo-se ao grande sismo de 1 de janeiro de 1980, que afetou no arquipélag­o principalm­ente a ilha Terceira, além de S. Jorge e Graciosa. Morreram mais de 70 pessoas e ficaram feridas mais de 400, vítimas da destruição causada pelo sismo de magnitude 7.2 na Escala de Richter. “A casa dos meus avós paternos foi abaixo. Tivemos todos muita sorte. Eu estava lá, tinha 3 anos e meio. Depois fui para casa dos meus bisavós, que era na Praia da Vitória, no outro lado da ilha. Os meus avós foram então pensando em mudar-se para cá, e os meus pais também trabalhava­m muito cá”, então a mudança acabou por se concretiza­r. “É por isso que eu digo que minha mudança, de agora, é um regresso às raízes.”
DA TER CEIRA P ARA LISBO A Lúcia Moniz viveu a primeira infância nos Açores, mas mudou-se ainda pequena para Lisboa, com os pais e com os avós. “Foi uma consequênc­ia do terramoto de 1980”, diz, referindo-se ao grande sismo de 1 de janeiro de 1980, que afetou no arquipélag­o principalm­ente a ilha Terceira, além de S. Jorge e Graciosa. Morreram mais de 70 pessoas e ficaram feridas mais de 400, vítimas da destruição causada pelo sismo de magnitude 7.2 na Escala de Richter. “A casa dos meus avós paternos foi abaixo. Tivemos todos muita sorte. Eu estava lá, tinha 3 anos e meio. Depois fui para casa dos meus bisavós, que era na Praia da Vitória, no outro lado da ilha. Os meus avós foram então pensando em mudar-se para cá, e os meus pais também trabalhava­m muito cá”, então a mudança acabou por se concretiza­r. “É por isso que eu digo que minha mudança, de agora, é um regresso às raízes.”

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