GQ (Portugal)

MONEY TALKS

A pandemia não tornou mais fácil falar sobre dinheiro – mas fez com que fosse mais importante do que nunca. Aqui ficam seis conversas que os casais deviam ter sobre dinheiro agora mesmo.

- Por Sophia Benoit.

Assumindo que a nossa cultura parece inteiramen­te focada no dinheiro, pode parecer estranho como é difícil ter uma conversa produtiva sobre o assunto. E isso pode ser especialme­nte verdade em contexto de casal – o que não é ótimo, porque provavelme­nte é a pessoa com quem mais precisa de conversar sobre dinheiro.

Um estudo publicado na revista Family Relations descobriu que discutir sobre dinheiro no início do casamento é o indicador número um de divórcio. Mas provavelme­nte não precisa de um estudo académico para saber que falar sobre esses temas pode ser complicado, pois toda a gente tem a sua própria relação extremamen­te pessoal com o dinheiro e a forma como o gasta, influencia­dos por restrições práticas – o trabalho, o rendimento, os gastos diários – e fatores emocionais menos claros, como os gastos dos próprios pais.

Causa do desemprego de muitas pessoas, a pandemia criou também a necessidad­e de fazer mudanças caras no estilo de vida. Mesmo para quem não perdeu o emprego, o futuro é mais sombrio do que nunca. Está na altura de ter aquelas conversas desconfort­áveis com a sua cara-metade para que estejam em sintonia quando se trata de dinheiro.

Embora seja difícil chegar a um consenso entre duas pessoas com atitudes diferentes em relação ao dinheiro, não tem de ser impossível. Falei com Tiffany Aliche, educadora financeira e fundadora do The Budgetnist­a sobre aquilo que os casais deviam estar a fazer, que números devem partilhar e seis perguntas para ajudar a estruturar as conversas sobre finanças de forma produtiva.

1. Quais são os nossos objetivos?

Aliche aponta que a abordagem mais fácil – e mais agradável – para discussões financeira­s são objetivos comuns. Pergunte ao seu parceiro no que é que ele gostaria de gastar dinheiro. Não precisa de ser uma conversa muito séria e hardcore com prazos e orçamentos. O objetivo é apalpar terreno quanto aos interesses do seu parceiro e perceber aquilo que o preocupa financeira­mente. Estão a pensar em voltar a estudar? Querem comprar uma casa? Pagar um cartão de crédito? Viajar para Bali quando isso for possível? Nem todas as discussões sobre dinheiro devem ser dolorosas; comece pelos sonhos a dois.

2. Em que é que estamos de acordo? Embora Aliche seja superpoupa­da, o marido não era, e uma maneira de começar a resolver essa tensão foi encontrand­o um meio termo – coisas para as quais ambos concordava­m que era importante economizar. Para eles era a educação da filha e férias. Por isso, se ele pensasse fazer uma grande compra como por exemplo um carro, Aliche poderia sugerir que o dinheiro seria mais bem aplicado se fosse para o fundo universitá­rio da filha. Ter estabeleci­do esse meio termo através do que Aliche chama de “conversas sem discussão” forneceu uma estrutura para resolver futuras conversas mais difíceis. 3. Que bens devemos ter em comum? Aliche chama a atenção dos casais contra a junção de todas as suas finanças. Ela sugere um cuidado especial ao combinar tudo se não forem casados, uma vez que o casamento oferece certas proteções legais, mas mesmo assim sugere que é bom manter determinad­o dinheiro separado. Ela e o marido têm as suas próprias contas bancárias e de poupança, bem como uma conta conjunta para contas fixas e uma conta poupança conjunta para coisas grandes – férias e o seu casamento.

Para copiar este modelo, o primeiro passo é chegar a um consenso sobre quanto cada pessoa deposita nas contas conjuntas. Há quem divida as coisas em 50/50, mas muitos casais contribuem para as contas conjuntas na mesma proporção do seu rendimento. Portanto, se algum dos dois ganha o dobro, vai investir o dobro na conta e na poupança partilhada.

Depois de estabelece­r aquilo que têm em comum, manter alguma separação financeira permite que as partes sintam que não precisam de dar aquela notificaçã­o sempre que vão gastar dinheiro como se fossem uma criança de 5 anos. Se o dinheiro pertencer à sua própria conta poupança e já tiver contribuíd­o para o conjunto, compre todos os ténis e guitarras que deseja.

4. O que é o nosso noodle budget?

Já deve ter ouvido que deveria ter poupado seis meses de salário e, embora esse seja um bom número, talvez não precise de poupar tanto. Em vez disso, Aliche recomenda que todos poupem seis meses do seu noodle budget. Ou seja, a quantidade de dinheiro que gasta num mês em que está mesmo “apertado” – talvez a comer massa com atum todas as noites. É o orçamento que teria se desistisse do Hulu e do Spotify, se parasse de comer fora, se não fizesse viagens. Deve calcular esse orçamento e poupar seis meses a viver assim, recomenda

Aliche. “É mais fácil, rápido e realista”, diz ela. “Se realmente perdesse o emprego, ia precisar do seu noodle budget até que recuperass­e o salário.” É claro que algumas pessoas – empresário­s, famílias, freelancer­s, pessoas com problemas de saúde – podem querer poupar mais. Mas vale a pena descobrir qual é o seu mínimo antes de uma verdadeira necessidad­e.

5. O que é que podemos automatiza­r? Depois de chegar a um acordo sobre alguma questão de dinheiro, Aliche recomenda automatiza­r o máximo possível. Se, por exemplo, os dois concordare­m que uma percentage­m do seu salário vai para uma conta partilhada destinada à renda da casa e supermerca­do, faça com que o departamen­to de Recursos Humanos da sua empresa divida automatica­mente o valor correto de cada salário. Se tiver faturas para pagar que saem dessa conta, configure-as para pagamento automático. A ideia é evitar passar pelas mesmas discussões e ter de policiar os gastos um do outro – imagine um mundo em que o seu parceiro não lhe pergunta se já pagou a conta da Internet esse mês.

6. Será que precisamos de um planeament­o financeiro?

Não tenha medo de procurar ajuda. Aliche diz que um dos maiores erros que os casais cometem é tentar fazer tudo sozinhos. Enquanto um consultor financeiro o ajudará com investimen­tos e frequentem­ente estará envolvido com a compra e venda real, um planeador financeiro está lá apenas para o ajudar a atingir metas financeira­s a longo prazo. O trabalho de um planeador financeiro é muitas vezes orientá-lo na direção certa, em vez de comprar ou vender alguma coisa.

Aliche diz que ela e o marido vão a uma “consulta” a cada dois meses para terem a certeza de que estão a cumprir as suas metas, mas sugere que a maioria das pessoas só precisa de ir uma vez por ano. Só não tenha medo de procurar ajuda externa; não é esperado que saibamos tudo. ●

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