GQ (Portugal)

Sensibilid­ade e bom gosto

- Por Diego Armés.

Vincent Van Duysen é um arquiteto que busca inspiração em várias disciplina­s relacionad­as com a arquitetur­a. A sua obra, que agora podemos contemplar em Portugal, resulta naturalmen­te simples e límpida, normalment­e despida de adereços e do que é supérfluo.

Oreputado arquiteto Vincent Van Duysen nasceu na cidade belga de Lokeren, em 1962. Formou-se em Arquitetur­a na Sint-Lucas School of Architectu­re, em Ghent, também na Bélgica, após o que trabalhou com Aldo Cibic, em Milão. Seguiu-se um regresso à Bélgica, mais concretame­nte a Antuérpia, para uma colaboraçã­o com Jean De Meulder. Em 1989, estabelece­u o ateliê Vincent Van Duysen Architects, que entretanto cresceu até ao ponto em que se encontra hoje, tendo mais de 20 colaborado­res, e executando uma vasta gama de trabalhos que vão do design de produto para inúmeras marcas internacio­nais, até projetos de arquitetur­a de larga escala, com um foco especial em projetos residencia­is high-end tanto na Bélgica como por toda a Europa, e ainda Médio Oriente, Ásia e Estados Unidos da América.

A assinatura de Van Duysen é facilmente reconhecív­el na transdisci­plinaridad­e patente na relação que estabelece entre arquitetur­a, design de interiores e design de produto. Também os materiais a que recorre, puros, táteis, se traduzem num design limpo e intemporal.

Entre os muitos prémios que já recebeu, destacam-se o Flemish Culture Prize for Design, Belgian Designer of the Year e o Henry van de Velde Lifetime Achievemen­t Award. O nome de Van Duysen constou também várias vezes da lista AD100 da Architectu­ral Digest.

Recentemen­te, a obra de Vincent Van Duysen chegou a Portugal, onde construiu a Casa M, em Melides.

De onde surgiu o projeto da Casa M, em Melides? A Casa M é a minha casa. Apaixonei-me pela zona há alguns anos, uma vez que fui viajando por esta região de Portugal durante uns 10 anos. A ideia era criar um altar, um santuário, uma domus onde me sentisse protegido e que, ao mesmo tempo, me inspirasse, embalado pela vegetação ainda virgem, tão típica da zona. Adorei a proximidad­e do oceano e de Lisboa, uma cidade de cujas cultura, gastronomi­a, pessoas e história eu tanto gosto. A casa situa-se dentro de uma reserva natural que contém campos de arroz, dunas e pinheiros marítimos [pinheiro-bravo que ganha contornos por se desenvolve­r junto ao mar, à mercê dos ventos marítimos], que fazem espantosos toldos e sombrinhas. Gosto realmente da forma como o edifício se funde com a natureza e o que o rodeia. Queria eliminar o ruído e a confusão da minha vida, e retroceder – de um modo bastante literal – até um ambiente natural.

O Vincent tem mais trabalhos em Portugal? Estamos a trabalhar num projeto altamente exclusivo, misto de residência­s e de hotelaria, chamado JNcQUOI Comporta, mas ainda não está pronto.

Em que é que pensa mais quando se lembra de Portugal e, em especial, de Melides? Tenho recordaçõe­s muito queridas de Portugal e de Melides. Apaixona-me a natureza virgem daquela zona: as praias intocadas, a vegetação, as plantações de arroz, os pinheiros marítimos, as árvores de cortiça [os sobreiros] do Alentejo sobrevoada­s, lá nas alturas, pelas gaivotas e as cegonhas, as dunas contínuas. De cada vez que preciso de me desligar, é para lá que vou.

Que trabalho seu considera o mais icónico, ou importante, e porquê? Sem sombra de dúvida, tenho a Casa M como a minha obra-prima. É uma obra escultural e um robusto monumento ao design. A casa tem como propósito apoderar-se dos elementos – areia, luz, vento, sol, ar, nevoeiro e o oceano lá ao fundo – com uma atitude não ornamental que liberta o lado escultural e as sombras feitas de guarda-sóis de pinheiros marítimos para serem eles o centro das atenções. O nascer e o pôr do sol é que ditam aqui a paleta de cores e o ambiente, enquanto a estrutura derrama sombras nas paredes e no chão despido à medida que a luz vai mudando. Fui buscar inspiração a icónicas estruturas residencia­is de betão de mestres modernista­s, tais como a Can Lis, em Maiorca, de Jørn Utzon, a Casa Luis Barragán, e o Ghost Ranch de Georgia O’Keeffe, até mesmo a Casa Malaparte, em Capri. ●

Em baixo e à direita, o showroom Mondeni & Co., em Giussano, Itália. Nesta foto, Central: The Original Store, em Bangcok, a loja original do grupo Central,

recuperada pelo ateliê Van Duysen.

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Van Duysen – com os fiéis amigos Gaston, Loulou e Pablo – pelo fotógrafo Thomas Seear Budd.
Retrato do arquiteto Vincent Van Duysen – com os fiéis amigos Gaston, Loulou e Pablo – pelo fotógrafo Thomas Seear Budd.
 ??  ?? Exterior da Casa M, em Melides, que Vincent Van Duysen desenhou para si mesmo.
Fotografia de Ricardo Labougle.
Exterior da Casa M, em Melides, que Vincent Van Duysen desenhou para si mesmo. Fotografia de Ricardo Labougle.
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English version.
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 ??  ?? O complexo August (hotel, restaurant­e e bar), em Antuérpia, na Bélgica. O ateliê de Van Duysen assinou o projeto de recuperaçã­o e reformulaç­ão do antigo hospital militar num edifício do séc. XIX.
O complexo August (hotel, restaurant­e e bar), em Antuérpia, na Bélgica. O ateliê de Van Duysen assinou o projeto de recuperaçã­o e reformulaç­ão do antigo hospital militar num edifício do séc. XIX.
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 ??  ?? BA Residence, em Wilrijk, na Bélgica. Neste projeto, a envolvênci­a (muitas árvores) e o caráter residencia­l pretendido pelo cliente foram os pontos de partida. Fotografia de Helène Binet.
BA Residence, em Wilrijk, na Bélgica. Neste projeto, a envolvênci­a (muitas árvores) e o caráter residencia­l pretendido pelo cliente foram os pontos de partida. Fotografia de Helène Binet.
 ??  ?? O trabalho de Vincent Van Duysen estende-se ao design de interiores. Deixamos alguns exemplos extraídos do showroom Molteni & Co., em Giussano, em objetos também com a
assinatura Van Duysen.
O trabalho de Vincent Van Duysen estende-se ao design de interiores. Deixamos alguns exemplos extraídos do showroom Molteni & Co., em Giussano, em objetos também com a assinatura Van Duysen.
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