GQ (Portugal)

ESPAÇOS TEMPORAIS

- POR JOSÉ SANTANA

É curioso estar a escrever sobre tempo em tempos como este. Nunca ouvimos nem falámos tanto sobre tempo como agora. Desde que a pandemia chegou às nossas vidas, destruiu as nossas rotinas – e que até as fugas a essas rotinas nos foram retiradas. E aqui o espaço temporal fica alterado, como nunca o sentimos, cinco minutos podem ser sentidos como tendo sido 20, e seis dias fechados podem parecer dois meses. Ao mesmo tempo que sentimos que já passou quase um ano desde que isto começou, a noção de como o tempo passa depressa apodera-se de nós. Sempre o tempo e os seus mistérios. Como foge sempre às regras imutáveis da matemática, nas quais dois mais dois são quatro.

O tempo, o bem mais precioso que temos, talvez o único de que nunca cheguemos a saber quão ricos ou pobres somos dele. Mas a vida não pode ser medida em anos. Podemos ter 50 e terem sido por nós vividos como se estivéssem­os cá há mais de 100 anos, por tudo o que vivemos e o que viajámos, mesmo nos livros lidos e nos sonhos que sonhamos. A nossa primeira preocupaçã­o quando pensámos nesta edição do Gentlemen’s Time foi, como sempre, que não fosse uma perda de tempo para quem vai viajar nele.

Talvez aqui um pai descubra o curso que vai mudar a vida do seu filho e do qual nunca tinha ouvido falar – e é único na Península Ibérica e, mais espantoso, com uma taxa de emprego de 100%. Aqui também pode ficar a conhecer curiosidad­es, como quanto tempo ao longo da nossa vida “perdemos” a tentar adormecer. Vai descobrir histórias e detalhes sobre máquinas do tempo às quais chamamos relógios e perceber cada vez mais o nosso fascínio por elas. Aquele pequeno coração mecânico que bate no nosso pulso, que se torna um pedaço de nós. Se vai usar um pela primeira vez, vai descobrir que os ponteiros andarão umas vezes mais depressa e outras mais devagar. Às vezes olhamos para ele e dizemos “como é possível já terem passado 10 minutos!” e outras veremos o ponteiro dos segundos a andar em câmara lenta – e aquele minuto que queríamos que fosse isso mesmo, um minuto, transformo­u-se em cinco.

Viverá a vida connosco, ao nosso ritmo, mas, por magia, não será enganado pelo tempo e contará os minutos e as horas que foram convencion­adas por todos, para nos encontrarm­os às 5 da tarde, se foi isso o que combinámos, mesmo que para uns faltem umas horas e para outros “aaaaahhhhh… isso foi ontem!”. ●

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