As pequenas obras de arte de Mr. Jones
QUADROS NAS PAREDES PARA QUÊ? MAIS VALE PRENDÊ LOS AO PULSO
Os grandes aficionados da relojoaria percebem de mecanismos e materiais, das histórias das marcas, dos componentes que fazem rodar as engrenagens e mexer os ponteiros. Mas em Londres há um ateliê que produz pequenas peças artísticas onde, por acaso, também é possível ver as horas. Crispin Jones parte do facto de os telemóveis terem monopolizado a função de nos informar sobre as horas, libertando os relógios do seu trabalho funcional e dando-lhes a oportunidade de se tornarem numa peça de design interessante, bonita e, principalmente, única.
Como surgiu a ideia de criar a Mr Jones Watches? Olha, eu acho que o que me inspirou foi ver que, em todas as cidades que visitava, via, nos mercados locais, uma banca que estava a vender relógios – normalmente baratos e sem grande qualidade. E o que eu sempre achei estranho nisto foi o facto de o design ser sempre uma cópia de relógios caríssimos e de luxo, mas de uma forma nada sofisticada. Então achei que seria interessante combinar este conceito da manufatura acessível com um design interessante. Por exemplo, um dos nossos primeiros designs foi um relógio cujo ponteiro das horas era a palavra “Remember” (lembra-te) e o ponteiro dos minutos dizia “you will die” (vais morrer) e isto foi uma brincadeira com o relógio memento mori – um objeto desenhado para nos lembrar que a vida é curta e que a devemos aproveitar enquanto podemos.
Qual é o conceito da marca? Temos alguns conceitos-chave e um deles é incorporar o tempo numa cena. Por exemplo no relógio
A Perfectly Useless Afternoon (na imagem) o mostrador tem um homem a flutuar numa piscina: o pé dele aponta para as horas e um pato de borracha aponta para os minutos. Também temos relógios que reformulam o tradicional relógio Sun & Moon em que a posição do Sol e da Lua indicam as horas (a Lua até às 6 da manhã e o Sol até às 6 da tarde). Nós queremos produzir obras de arte pequenas e portáteis, que funcionem como instrumentos para ver as horas, mas que são apresentadas de forma inovadora e única e imprimimos e usamos metais preciosos para criar efeitos fascinantes nos mostradores dos relógios.
E qual foi o vosso maior desafio até à data? Meu Deus, por onde começar… Há muitos desafios pequeninos que advêm do facto de sermos um pequeno negócio. A produção de relógios pode ser vista como uma grande máquina que envolve muitas pessoas com competências muito diferentes e pôr esta máquina a funcionar de forma bem oleada para corresponder ao nível de qualidade e de aprimoramento que queremos ter é muito desafiante e requer imenso trabalho.
Como é que os relógios são feitos? Bem… Imprimimos os componentes em branco e depois preparamos esses componentes (mostradores, ponteiros, etc.) para montagem. Em seguida testamos os relógios e gravamos o verso da caixa. Se tudo passar nos testes de qualidade, passam para o nosso stock.
Usamos alguns mecanismos de quartzo e outros mecânicos. Pessoalmente, prefiro relógios mecânicos porque estão ligados à tradição da relojoaria – e também porque parece que têm um coração pequenino.
Os nossos clientes não se costumam interessar muito pelo tipo de movimento dos relógios, ainda que existam alguns que dão muita importância a este aspeto, mas, enquanto marca, priorizamos mais o design dos relógios em relação ao movimento.
Quem é o cliente da Mr Jones? O que queremos fazer é vender relógios aos nossos pares, a pessoas como nós. Não nos interessa fazer relógios que sejam tão caros que apenas um grupo muito restrito os pode pagar. Tentamos ter uma abordagem diferente quanto ao valor, estamos sempre à procura de maneiras diferentes para valorizar os relógios, por exemplo, criando efeitos diferentes ao combinar a impressão com a douração ou trabalhando com artistas e ilustradores para produzir peças únicas e nunca antes vistas. Os nossos clientes procuram coisas
“Queremos produzir obras de arte pequenas e portáteis, que funcionem como instrumentos para ver as horas, apresentadas de forma inovadora”
únicas, surpreendentes e que tenham uma história interessante.
E, numa perspetiva mais pessoal, como é que os relógios se tornaram importantes para si? Tudo partiu de um relógio chamado Chromachron, criado nos anos 70 por Tian Harlan. Comprei um no Ebay em 2001 e este relógio – com um mostrador de 12 fatias coloridas em que o ponteiro era um corte que tinha a largura de uma hora – foi a inspiração direta para o Cyclops. Achei que era interessante o facto de o conseguirmos ler e interpretar com tanta facilidade e de rapidamente conseguirmos perceber o que eram 5 ou 10 minutos. Quando comecei a ver as horas assim, passou a ser difícil “traduzir” o que via para alguém que me perguntasse as horas. Foi este relógio que me abriu os olhos para a possibilidade de alterar a forma como o tempo é apresentado e para o facto de o tempo poder ter uma multiplicidade de formas e expressões. ●