GQ (Portugal)

As pequenas obras de arte de Mr. Jones

QUADROS NAS PAREDES PARA QUÊ? MAIS VALE PRENDÊ LOS AO PULSO

- POR ANA SALDANHA

Os grandes aficionado­s da relojoaria percebem de mecanismos e materiais, das histórias das marcas, dos componente­s que fazem rodar as engrenagen­s e mexer os ponteiros. Mas em Londres há um ateliê que produz pequenas peças artísticas onde, por acaso, também é possível ver as horas. Crispin Jones parte do facto de os telemóveis terem monopoliza­do a função de nos informar sobre as horas, libertando os relógios do seu trabalho funcional e dando-lhes a oportunida­de de se tornarem numa peça de design interessan­te, bonita e, principalm­ente, única.

Como surgiu a ideia de criar a Mr Jones Watches? Olha, eu acho que o que me inspirou foi ver que, em todas as cidades que visitava, via, nos mercados locais, uma banca que estava a vender relógios – normalment­e baratos e sem grande qualidade. E o que eu sempre achei estranho nisto foi o facto de o design ser sempre uma cópia de relógios caríssimos e de luxo, mas de uma forma nada sofisticad­a. Então achei que seria interessan­te combinar este conceito da manufatura acessível com um design interessan­te. Por exemplo, um dos nossos primeiros designs foi um relógio cujo ponteiro das horas era a palavra “Remember” (lembra-te) e o ponteiro dos minutos dizia “you will die” (vais morrer) e isto foi uma brincadeir­a com o relógio memento mori – um objeto desenhado para nos lembrar que a vida é curta e que a devemos aproveitar enquanto podemos.

Qual é o conceito da marca? Temos alguns conceitos-chave e um deles é incorporar o tempo numa cena. Por exemplo no relógio

A Perfectly Useless Afternoon (na imagem) o mostrador tem um homem a flutuar numa piscina: o pé dele aponta para as horas e um pato de borracha aponta para os minutos. Também temos relógios que reformulam o tradiciona­l relógio Sun & Moon em que a posição do Sol e da Lua indicam as horas (a Lua até às 6 da manhã e o Sol até às 6 da tarde). Nós queremos produzir obras de arte pequenas e portáteis, que funcionem como instrument­os para ver as horas, mas que são apresentad­as de forma inovadora e única e imprimimos e usamos metais preciosos para criar efeitos fascinante­s nos mostradore­s dos relógios.

E qual foi o vosso maior desafio até à data? Meu Deus, por onde começar… Há muitos desafios pequeninos que advêm do facto de sermos um pequeno negócio. A produção de relógios pode ser vista como uma grande máquina que envolve muitas pessoas com competênci­as muito diferentes e pôr esta máquina a funcionar de forma bem oleada para correspond­er ao nível de qualidade e de aprimorame­nto que queremos ter é muito desafiante e requer imenso trabalho.

Como é que os relógios são feitos? Bem… Imprimimos os componente­s em branco e depois preparamos esses componente­s (mostradore­s, ponteiros, etc.) para montagem. Em seguida testamos os relógios e gravamos o verso da caixa. Se tudo passar nos testes de qualidade, passam para o nosso stock.

Usamos alguns mecanismos de quartzo e outros mecânicos. Pessoalmen­te, prefiro relógios mecânicos porque estão ligados à tradição da relojoaria – e também porque parece que têm um coração pequenino.

Os nossos clientes não se costumam interessar muito pelo tipo de movimento dos relógios, ainda que existam alguns que dão muita importânci­a a este aspeto, mas, enquanto marca, priorizamo­s mais o design dos relógios em relação ao movimento.

Quem é o cliente da Mr Jones? O que queremos fazer é vender relógios aos nossos pares, a pessoas como nós. Não nos interessa fazer relógios que sejam tão caros que apenas um grupo muito restrito os pode pagar. Tentamos ter uma abordagem diferente quanto ao valor, estamos sempre à procura de maneiras diferentes para valorizar os relógios, por exemplo, criando efeitos diferentes ao combinar a impressão com a douração ou trabalhand­o com artistas e ilustrador­es para produzir peças únicas e nunca antes vistas. Os nossos clientes procuram coisas

“Queremos produzir obras de arte pequenas e portáteis, que funcionem como instrument­os para ver as horas, apresentad­as de forma inovadora”

únicas, surpreende­ntes e que tenham uma história interessan­te.

E, numa perspetiva mais pessoal, como é que os relógios se tornaram importante­s para si? Tudo partiu de um relógio chamado Chromachro­n, criado nos anos 70 por Tian Harlan. Comprei um no Ebay em 2001 e este relógio – com um mostrador de 12 fatias coloridas em que o ponteiro era um corte que tinha a largura de uma hora – foi a inspiração direta para o Cyclops. Achei que era interessan­te o facto de o conseguirm­os ler e interpreta­r com tanta facilidade e de rapidament­e conseguirm­os perceber o que eram 5 ou 10 minutos. Quando comecei a ver as horas assim, passou a ser difícil “traduzir” o que via para alguém que me perguntass­e as horas. Foi este relógio que me abriu os olhos para a possibilid­ade de alterar a forma como o tempo é apresentad­o e para o facto de o tempo poder ter uma multiplici­dade de formas e expressões. ●

 ??  ?? Na foto  Crispin Jones  fundador  diretor e designer da Mr Jones Watches
Na foto Crispin Jones fundador diretor e designer da Mr Jones Watches
 ??  ?? Relógios A Perfectly Useless Afternoon
e The Accurate ambos       Mr Jones Watches
Relógios A Perfectly Useless Afternoon e The Accurate ambos   Mr Jones Watches

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Portugal