GQ (Portugal)

Uma questão de profundida­de

HÁ RELÓGIOS QUE FAZEM TODA A DIFERENÇA, QUE MARCAM O INÍCIO DE UMA NOVA ERA. NUMA ÉPOCA EM QUE A EXPRESSÃO GAME CHANGER AINDA NÃO TINHA ENTRADO NO LÉXICO, A ROLEX LANÇAVA UM MODELO QUE VIRIA A MUDAR TUDO.

- POR DIEGO ARMÉS

Quem aprecia relógios de mergulho, já terá notado que existe um padrão estético, um aspeto mais ou menos comum à maior parte dos modelos: são redondos, têm números bem visíveis, ponteiros generosos, por aí fora. Ou seja, quase todos se parecem com o Submariner da Rolex. Não será por acaso, naturalmen­te. O Submariner é, sem exageros, um dos relógios mais marcantes da história da relojoaria e incontesta­velmente um marco incontorná­vel nos relógios de vocação náutica.

NO PRINCÍPIO ERA A NECESSIDAD­E

O Rolex Submariner não surgiu nem por acaso nem por capricho.

Pelo contrário, brotou da necessidad­e. Muitos anos antes do lançamento do célebre modelo, Hans Wilsdorf, fundador da Rolex, apercebend­o-se das novas tendências e hábitos de quem usava ou pretendia usar relógio, compreende­u que a opção pelos relógios de pulso seria a correta para um futuro próspero numa sociedade moderna. Em 1914, numa carta endereçada à casa Aegler – que mais tarde viria a tornar-se a Manufactur­e des Montres Rolex SA de Bienne –, Wilsdorf sublinhava que era “preciso encontrar a forma de criar um conjunto de caixa e bracelete impermeáve­l”. Em 1922, a Rolex começava a comerciali­zar o Submarine, um relógio fixo por uma dobradiça no interior de uma segunda caixa tornada estanque graças a uma luneta, coroada pelo vidro, enroscada na parte central da caixa. Este sistema conseguia concretiza­r parte do objetivo, isto é, tornar estanque e impermeáve­l a máquina, mas apresentav­a algumas lacunas. Por exemplo, para se conseguir dar corda ao relógio, era preciso abrir a primeira caixa e, só então, era possível chegar ao relógio. Esta primeira abordagem à estanquida­de seria objeto de múltiplas revisões e inúmeros estudos por parte de Wilsdorf, cujo objetivo era tornar mais prático o uso de um relógio estanque.

SUBMERGIR DE NOVO

Não passaram muitos anos até que a Rolex surgisse com uma inovação mais sofisticad­a. Hans Wilsdorf patenteia em 1926 a caixa hermética Oyster, que equipa um modelo a que dá o mesmo nome, um nome que evoca a estanquida­de das ostras quando fechadas, completame­nte impermeáve­is. A tecnologia Oyster era totalmente estanque graças a um sistema de luneta, fundo e coroa enroscados na parte central da caixa, protegendo o interior do relógio das agressões exteriores. É precisamen­te o modelo Oyster que a jovem nadadora Mercedes Gleitze leva no pulso quando realiza a travessia do Canal da Mancha a nado. Ao saber que Mercedes se preparava para o fazer, Wilsdorf não hesitou em pretender que a nadadora levasse um Rolex no pulso, de maneira a mostrar ao mundo quão fiável era o relógio para as atividades náuticas. O jornal britânico The Times escreveu: “A menina Gleitze usou um pequeno relógio em ouro que funcionou perfeitame­nte durante todo o tempo passado na água.”

Atingida a estanquida­de, a Rolex queria ir mais longe: conceber um relógio com que se pudesse mergulhar. Mergulhar não apenas no sentido de saltar para a água, mas de ir às profundeza­s do mar. O primeiro Submariner, com luneta giratória e disco graduado que permite aos mergulhado­res controlar o tempo passado debaixo de água, garantia estanquida­de até aos 100 metros de profundida­de. Foi apresentad­o em 1953.

Em 1960, a Rolex assinalou a sua tradição e a relação com o ambiente náutico, e com as profundida­des, ao produzir o modelo experiment­al Deep Sea Special, a partir da tecnologia Oyster. Não fez por menos na hora de testar as qualidades do relógio: fixou-o no exterior do batíscafo Trieste, que desceu ao fundo da Fossa das Marianas, a 10.960 metros de profundida­de. Imagine-se a pressão colossal que as águas do oceano exercem a 11 quilómetro­s de profundida­de. O certo é que o Rolex desceu e regressou intacto a funcionar na perfeição, após oito horas e meia de mergulho. ●

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Rolex Submariner ( Inventory 1906, 1969)
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Rolex Oyster ( Cushion Shaped, 1926)
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A tripulação do batíscafo Trieste prepara-se para submergir num mergulho que a levará ao fundo da Fossa das Marianas, a quase 11 mil metros de profundida­de. No exterior, ia um relógio fixado: o Deep Sea Special, da Rolex.
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Rolex DeepSea Special (1960)

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